A utilização de equipamentos de ordenha tem se tornado cada vez mais importante para a produção eficiente de leite de alta qualidade. O funcionamento adequado e a busca de um alto desempenho dos sistemas de ordenha é fundamental para garantia de retorno do investimento e da lucratividade da atividade leiteira. De um lado, a sala ordenha é considerada o coração da fazenda leiteira e representa o momento de colheita de todos os esforços empreendidos nos vários setores de produção (nutrição, instalações, melhoramento genético, manejo sanitário), os quais têm influência direta na quantidade e qualidade do leite produzido. Por outro lado, o bom funcionamento do sistema de ordenha inclui a necessidade de mão de obra capacitada e a definição de qual manejo de ordenha é o mais adequado, considerando a situação específica de cada rebanho. A título de exemplificação, nas fazendas com um bom programa de acompanhamento de custos de produção de leite, um dos principais componentes do custo é a mão de obra, que pode representar aproximadamente 15 a 20% do total, sendo que somente a ordenha pode representar cerca de 50-70% do total de horas trabalhadas em uma fazenda leiteira.
Para obter um bom desempenho dos sistemas de ordenha, além da definição das características técnicas do equipamento, deve-se planejar criteriosamente o dimensionamento e localização do centro de ordenha, o qual inclui a sala de ordenha, a sala de espera, a sala de leite, a sala de máquinas, o escritório, os vestiários e o almoxarifado. As definições das características do centro de ordenha têm impacto direto sobre o manejo de ordenha a ser adotado, número de vacas ordenhadas e tempo de ordenha.
A avaliação dos indicadores de desempenho das salas de ordenha pode auxiliar o produtor a identificar falhas de manejo de ordenha, oportunidades melhoria e de redução de custos. Para avaliar o desempenho de salas de ordenha podem ser usados alguns indicadores, tais como número de vacas ordenhadas/hora, vacas ordenhadas/unidade de ordenha/hora, volume de leite/hora, volume de leite/unidade de ordenha/hora, fluxo de leite e tempo de ordenha. A seguir, destacamos os principais indicadores de desempenho de salas de ordenha e quais os principais fatores que podem influenciar estes índices.
a) Vacas ordenhadas/hora: pode ser facilmente calculado fazendo-se a divisão do total de vacas ordenhadas pelo tempo total da ordenha. Esse índice tem a vantagem de sua facilidade de obtenção, mesmo para salas de ordenha com pouca ou mesmo nenhum tipo de automação, sendo muito útil para o planejamento de novas instalações. É importante lembrar que devem ser incluídas neste tipo de avaliação as vacas recém-paridas e as vacas em tratamento. Os resultados de pesquisas apontam que salas de ordenha espinha de peixe podem ordenhar de 60 a 200 vacas/hora e as salas paralelas podem ter desempenho de 80 a 400 vacas/hora. O número de vacas ordenhadas/hora depende do tipo, tamanho e sistema de automação da sala de ordenha, assim como os fatores ligados à genética das vacas e o manejo de ordenha utilizado.
b) Lotes/hora: este é um dos índices básicos para avaliação da eficiência de salas de ordenha. O cálculo é estimado pelo número de lotes (grupos) de vacas ordenhadas de cada lado da sala de ordenha por hora. O cálculo pode ser feito dividindo-se o total de vacas ordenhadas/hora pelo total de unidades de cada lado da ordenha (exemplo: 8 ou 10 unidades/lado). Recomenda-se que a sala de ordenha tenha uma eficiência de 4 a 5 lotes/hora. Isto significa que um novo lote de vacas é ordenhado a cada 15 minutos (4 lotes/hora) ou a cada 12 minutos (5 lotes/hora). Por exemplo, para uma sala de ordenha espinha de peixe duplo 8 (8 x 8), com desempenho de 4,5 lotes/hora, é possível ordenhar 72 vacas/hora. Entre os principais fatores que podem afetar este índice, destacam-se o tempo necessário para entrada das vacas na sala de ordenha, as estratégias de agrupamento das vacas em relação à produção de leite e a condição geral de higiene das vacas antes da ordenha.
c) Vacas ordenhadas/unidade de ordenha/hora: é obtido pela divisão das vacas ordenhadas/hora pelo número total de unidades (conjuntos de ordenha) do equipamento de ordenha (exemplo: espinha de peixe duplo 8: total 16 conjuntos). Isso permite comparar o desempenho de salas de diferentes tamanhos. Esse índice é muito influenciado pelo tipo de manejo pré-ordenha, uma vez que em rebanhos com pouca ou nenhuma preparação das vacas (não realização de pré-dipping ou de teste da caneca de fundo preto, por exemplo), ocorre significativa melhoria do desempenho da sala, no entanto pode ocorrer comprometimento da quantidade de leite ordenhada (pela menor estimulação dos tetos) e da saúde da glândula mamária. Estima-se que o manejo pré-ordenha possa reduzir o desempenho da sala de ordenha em cerca de 15%. Os estudos em rebanhos de alta produção indicam que quando é feita uma adequada preparação do úbere antes da ordenha, as salas convencionais podem ordenhar de 4,3 a 4,5 vacas/unidade/hora (duas ordenhas/dia) e de 4,8 a 4,9 vacas/unidade/hora (três ordenhas/dia). Vale lembrar que lotes de vacas com baixa produção ou em fim de lactação podem ter ordenhas mais rápidas em razão da menor quantidade de leite produzida.
d) Volume de leite/unidade/hora: é a divisão do total de leite pelo número de unidades de ordenha e pela duração total da ordenha. Esse índice está aumentado em fazenda com vacas de alta produção e curta duração de ordenha. Nessa situação, é avaliado o fluxo de leite ordenhado por unidade de ordenha por hora, o que também permite comparações de salas de diferentes tamanhos. Os dados de pesquisa apontam que esse é um dos melhores indicadores do desempenho de salas de ordenha, sendo que uma meta ordenha 68 kg de leite/unidade/hora para rebanhos de duas ordenhas/dia e 55 para rebanhos com três ordenha diárias.
e) Tempo de ordenha e fluxo médio de leite: o tempo médio de ordenha das vacas está diretamente relacionado com o volume de produção da vaca e com os procedimentos de estimulação pré-ordenha. Uma meta a ser obtida é ordenhar os primeiros 12,5 kg de leite em 4 minutos de ordenha efetiva. Para cada 4,5 kg de leite adicional, o tempo adicional necessário deve ser de cerca de 30 segundos. Esses índices são possível de serem atingidos em lotes de vacas de alta produção. O fluxo médio de leite é obtido pela divisão da produção pela duração da ordenha efetiva (tempo em que as unidades estão ligadas e em ordenha), sendo que as metas recomendadas são ordenhar cerca de 3,9 kg/minuto (duas ordenhas/dia) e 3 kg/minuto para rebanhos em três ordenhas/dia.
f) Eficiência de ordenhador: o desempenho da mão de obra na sala de ordenha é fundamental para o sucesso da ordenha. Os estudos indicam uma ampla variação entre a eficiência do ordenhador, que pode variar de 50 a 100 vacas/ordenhador/hora. O principal fator que isoladamente influencia a eficiência do ordenhador é o tempo de preparação das vacas antes da ordenha. Quanto mais complexa é a rotina de preparação de ordenha, menor será a eficiência do ordenhador.
Manejo pré-ordenha influência eficiência de ordenha
A principal função do sistema de ordenha é permitir a ordenha das vacas de forma completa, rápida e sem causar lesões ao úbere. Sendo assim, para uma boa rotina de ordenha, recomenda-se como princípios gerais a ordenha de tetos limpos e secos, com boa estimulação prévia para a descida do leite e a remoção das teteiras após o término do fluxo de leite. Entretanto, a definição do manejo de ordenha a ser adotado tem enorme influência sobre o desempenho dos sistemas de ordenha. Para uma melhor compreensão de como o manejo de ordenha afetar a eficiência da ordenha, estima-se que as diferentes etapas durante o manejo de ordenha podem durar de 35 a 80 segundos/vaca, dependendo duração da preparação do úbere antes da ordenha (entrada, teste da caneca, pré-dipping, secagem, pós-dipping, saída).
A entrada das vacas na ordenha pode ser acelerada com o uso de portões automáticos, os quais permitem maior rapidez de abertura após o término de ordenha de um lote. Além disso, o tamanho da sala de espera (1,1 a 1,4 m2/vaca) deve ser planejado para que o maior lote de vacas não tenha tempo de espera maior do que uma hora antes da ordenha. O uso de portões automáticos (crowd gate) pode tornar a entrada das vacas mais rápida em cerca de 10%.
A condição de higiene do úbere das vacas afeta significativamente o tempo de preparação antes da ordenha. Pode ocorrer redução de até 20% da eficiência de ordenha quando vacas muito sujas são ordenhadas. Outra medida que pode auxiliar na melhoria da higiene da vaca é a queima dos pelos do úbere, além de medidas de limpeza de camas e das demais instalações de alojamento das vacas.
Após o início da ordenha efetiva (tempo de extração efetiva do leite), a duração total não depende somente da produção total da vaca. Uma adequada estimulação antes da ordenha (da caneca, pré-dipping, secagem dos tetos e colocação das teteiras), é fundamental para manter um alto fluxo e permitir a extração completa do leite. Vacas bem estimuladas podem ter o tempo de ordenha efetiva reduzido em até um minuto. Ao final da ordenha, um dos procedimentos que pode aumentar o tempo de ordenha efetivo é a prática de massagear o úbere e/ou pressionar para baixo o conjunto de teteiras. Muitos ordenhadores realizam esta etapa para extrair o que consideram leite residual. No entanto, esta medida não é recomendável pois aumenta o tempo de ordenha e o risco de novas infecções, pois pode ocorrer entrada de ar pelas teteiras.
Em resumo, a avaliação dos índices de desempenho da ordenha pode auxiliar na identificação de problemas de manejo de ordenha e de situações que necessitam de melhoria. Entre os casos mais comuns de redução do desempenho, está a demora na entrada das vacas na sala de ordenha, a dificuldade de posicionamento da vaca dentro da sala de ordenha (contenção), a preparação da vaca antes da ordenha, a saída das vacas, a mudança de lotes e os problemas de configuração de extratores de teteiras.
Fonte: SANTOS, M. V. Salas de ordenha - Avaliação de desempenho. Inforleite. p.36 - 38, 2013.