A produção de leite é uma atividade complexa exigindo do produtor uma gama de conhecimentos e um aporte inicial expressivo de recursos, tanto na parte estrutural quanto na operacional do negócio. Este artigo objetiva analisar dados de 5 sistemas referência para produção de leite no Estado de Santa Catarina, disponibilizados pela Epagri.
O custo com alimentação é o grupo que mais pesa na composição dos custos de produção de leite, independentemente do volume de produção. Como pode ser observado na tabela 1, à medida que aumenta o volume de produção, este custo aumenta, mesmo que de forma não proporcional.
A ração comercial (concentrado) possui importante participação percentual em relação aos demais itens que compõem este grupo e seus principais ingredientes, em termos de custo e de volume, são o milho e o farelo de soja.
Por outro lado, o custo com depreciação e manutenção da infraestrutura tem grande impacto no custo do leite nas propriedades com pequeno volume de produção por ser um custo fixo, diminuindo, relativamente, à medida que a produção aumenta. Para uma pequena propriedade de 36.500 litros de leite/ano o custo com infraestrutura/manutenção foi de 31,89%, do custo total do litro de leite enquanto na outra, de 715.400 litros, foi de 13,06% (Tabela 1). Assim, o custo de infraestrutura/manutenção é muito impactante para a pequena propriedade que, ao ser comparado com propriedades maiores, fica bem acima. (Tabela 1).
Outro fator que afeta negativamente o resultado na pequena propriedade é o valor pago ao produtor. Observando a Tabela 1, comparativamente, o valor do preço referência (R$/litro) pago para ao produtor do Sistema 5 (R$ 2,58) chega a ser 33% maior do que recebe o produtor do Sistema 1 (R$ 1,94). É uma diferença muito significativa no valor de venda do produto, prejudicando bastante a rentabilidade da pequena propriedade.
Desde 2020, ocorreram consideráveis aumentos dos custos de produção de leite. Analisando os Resultados Operacionais de julho de 2020 e de julho 2021, apresentados no gráfico 1, constata-se que o Sistema 1 em julho de 2020 obteve resultado nulo, os sistemas 2 e 3 resultados positivos, mas com pequena margem e os sistemas 4 e 5 resultados positivos mais significativos.
Não obstante a questão da forte elevação dos custos de produção que sofreu em média aumento de 43%, os 5 sistemas de produção referência de Leite do Estado melhoraram seus resultados em julho de 2021 (gráfico 2) na comparação com julho de 2020 (gráfico 1). Isto ocorreu porque o aumento médio do litro de leite pago ao produtor foi de 50%, maior que o aumento relativo dos custos de produção, o que justifica o resultado positivo para os sistemas.
Os sistemas 1, 2 e 3, como tiveram aumento menor no custo de produção no período, 39%, 40% e 43%, respectivamente, foram os que mais se beneficiaram com incrementos nos seus resultados, mas suas margens são bem inferiores, em valores absolutos, em comparação com as dos sistemas de maior volume.
Importante observar que a situação de resultado favorável em julho de 2021 foi viabilizada por uma conjunção de fatores, mas não reflete a normalidade pela média de preços e custos incorridos no processo de produção e venda de leite. A comparação dos dois períodos indica que, apesar dos aumentos dos custos, tanto dos grãos quanto os de outros insumos, os resultados operacionais foram mais favoráveis aos produtores, por conta do aumento dos preços do leite, que foi proporcionalmente maior. Até mesmo o sistema 1, que saiu do zero a zero e teve R$ 0,14 de resultado operacional em 2021, se beneficiou deste aumento.
Em geral, pequenas propriedades têm menor preço, menor margem e um custo fixo relativamente mais alto, que limitam a obtenção de resultado econômico favorável.
Esse fato, à luz dos elevados investimento em terras, animais e equipamentos exigidos na organização de sistemas de produção de leite, deixam claro a importância da escala de produção, do nível de produtividade animal e do volume de recursos por litro de leite produzido no sucesso do empreendimento.
Portanto, é imperioso conseguir melhorar a eficiência dos fatores de produção e avançar na economia de escala, utilizando ao máximo seus investimentos na busca de melhores resultados econômicos.
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Autor
Luiz Antonio Aguiar de Oliveira – Analista da Embrapa Gado de Leite