O que é acidose ruminal?
A acidose ruminal é uma doença metabólica comum em vacas leiteiras, causada pela diminuição do pH do rúmen, geralmente devido a consumo de dietas ricas em carboidratos não fibrosos.
Nos últimos tempos tenho recebido diversos questionamentos sobre acidose ruminal. Quais os reais prejuízos, como evitar, como maximizar o fornecimento de grãos sem causar problemas para as vacas, enfim, as dúvidas são muitas.
É comum as pessoas acharem que não há problemas com acidose no rebanho até que o consumo de alimentos cai drasticamente, o teor de gordura do leite diminui e começam a aparecer casos de laminite. Mas essas coisas nem sempre acontecem e isso não significa inexistência de problemas.
Mesmo em condições consideradas normais, vacas que consomem quantidades elevadas de carboidratos não fibrosos (CNF), especialmente grãos de cereais, enfrentam períodos de elevada acidez ruminal, especialmente imediatamente após o fornecimento do concentrado ou ração completa. Com isso, mesmo sem nenhuma indicação ou sintoma, o desempenho dessas vacas pode ser prejudicado.
O que é acidose subclínica?
A acidose subclínica ocorre quando o pH do rúmen cai abaixo de 5,8. Com isso o crescimento bacteriano é reduzido, principalmente das espécies responsáveis pela degradação da fibra, de forma que a digestibilidade total da dieta fica comprometida.
Os sinais mais comuns da acidose subclínica são hábito de consumo errático, alta variabilidade na produção de leite, fezes inconsistentes, pouca ruminação e uma depressão geral na aparência da vaca.
O pH cai devido ao acúmulo de ácidos no rúmen, principalmente o ácido propiônico, que deriva da fermentação de carboidratos não fibrosos, especialmente do amido, principal constituinte dos grãos de cereais.
À medida que o pH cai, as condições tornam-se propícias para o crescimento de microrganismos que produzem ácido lático, que é cerca de 10 vezes mais forte do que a maioria dos ácidos graxos voláteis (AGV) produzidos no rúmen, o que contribui ainda mais para a redução no pH do meio. Felizmente, em termos comparativos, as concentrações de ácido lático são bem menores que as de ácido acético e propiônico, os principais AGV produzidos pela fermentação ruminal.
Dietas para evitar acidose
Dietas ricas em carboidratos não fibrosos, de fermentação rápida, particularmente as que contêm quantidades elevadas de grãos de cereais (amido), via de regra levam a quedas significativas no pH ruminal.
Isso é muito evidente em vacas que consomem grandes quantidades de concentrado poucas vezes ao dia, como é o caso de vacas a pasto de produção elevada, que recebem suplementação com alimentos concentrados.
Nessa situação, a vaca experimenta picos de pH baixo no rúmen, o que abre as portas para o desenvolvimento de microrganismos que produzem bastante ácido lático, instalando-se a condição de acidose, que prejudica bastante o desempenho dos animais.
Em função desse risco, não se recomenda formular dietas para vacas leiteiras com mais de 40% CNF na MS total. Mesmo se o teor de CNF ficar abaixo disso, se houver picos de ingestão de grãos, o problema pode ocorrer.
Essa recomendação não leva em conta características dos CNF, como velocidade de degradação dos carboidratos, e nem da fração FDN, como efetividade da fibra.
Se a única fonte de energia do concentrado for amido de alta degradabilidade (milho ou sorgo finamento moídos, acúcares, etc), o risco de acidose é maior. Se a fibra da ração for de baixa efetividade (pequeno tamanho de partículas), também.
Como controlar acidose em vacas leiteiras?
Para reduzir os riscos de ter prejuízo com a acidose subclínica, que na maior parte das vezes, não são perceptíveis, algumas alternativas podem ser adotadas:
Em sistemas de produção a pasto, tamanho de partículas de fibra não é problema, mas frequência de fornecimento de concentrados pode ser. Uma vaca que produz 25 kg de leite, e come em torno de 8-9 kg de concentrado de uma só vez, pode sofrer muito com acidose subclínica, principalmente se esse concentrado for rico em amido.
Quebrar esse fornecimento em pelo menos duas vezes é recomendável, bem como substituir parte do amido por uma fonte de energia de degradação mais lenta, como subprodutos fibrosos (polpa cítrica, casca de soja, farelo de trigo, farelo de glúten de milho, caroço de algodão, etc).
Para vacas que recebem ração completa, é importante prestar atenção ao tamanho de partículas da dieta. É fundamental que haja fibra efetiva suficiente para estimular a mastigação, pois com isso há maior produção de saliva, que tem forte ação tamponante no rúmen, evitando muitas flutuações de pH.
Aditivos para controle da acidose
Outra possibilidade que pode ajudar é o uso de alguns aditivos. Vou citar aqui alguns tipos bastante pesquisados, e sobre os quais há evidências suficientes para afirmar que podem ser úteis na prevenção da ocorrência de acidose subclínica.
Uma primeira possibilidade são as Leveduras. Diversos trabalhos de pesquisa mostram que produtos à base de leveduras vivas estimulam o crescimento de microrganismos utilizadores de ácido lático, o que contribui para a estabilização do pH ruminal. Além disso as leveduras também proveem alguns cofatores enzimáticos importantes, como vitaminas do complexo B e isoácidos que podem estimular o crescimento microbiano no rúmen.
Outra possibilidade de uso fácil são os tampões, como bicarbonato de sódio ou calcário calcítico. Esses produtos impedem a queda drástica do pH, contribuindo para a melhoria do ambiente ruminal.
Outro grupo de aditivos que têm se mostrado bastante efetivos no controle de pH é o dos ionóforos. Sua adição às dietas inibe o crescimento de espécies produtoras de ácido lático, favorecendo as que produzem ácido propiônico, o que além de ajudar no controle do pH, resulta em maior produção de precursores de energia para a vaca.
Além disso os ionóforos também ajudam no controle do crescimento de espécies que produzem metano, que constitui-se numa importante fonte de perda energética no rúmen.
Como mensagem final, enfatizo que para vacas que consomem quantidades elevadas de CNF, principalmente grãos de cereais, o risco de acidose existe, e isso não deve ser ignorado. Com boas práticas de manejo, essas ocorrências podem ser facilmente reduzidas nas fazendas produtoras de leite.
Referência
de Ondarza, M. B. Rumen acidosis....causes and remedies. Hoard´s Dairyman, v. 151, n. 09, 2006.