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Amido: quanto devemos dar às vacas?

POR ALEXANDRE M. PEDROSO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/05/2006

7 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 30/12/2020

É inquestionável a importância do amido na alimentação de vacas leiteiras. Em qualquer sistema de produção, grãos de cereais, em especial o milho, representam a principal fonte de energia em dietas de vacas leiteiras, e o principal constituinte desses grãos é o amido.

Com o aumento da produção média dos rebanhos leiteiros, as vacas têm consumido quantidades cada vez maiores desse carboidrato, o que se por um lado é a principal forma de aumentar a densidade energética das dietas, a fim de atender à demanda produtiva dos animais, por outro representa um risco para a saúde das vacas.

O objetivo deste texto é discutir a utilização do amido como fonte de energia para vacas leiteiras, e apresentar alguns parâmetros e recomendações discutidos por especialistas e pesquisadores.

Não é possível definir um nível ótimo de amido na dieta das vacas. Isso vai depender dos outros ingredientes utilizados, por exemplo, da concentração de outros carboidratos e de proteínas. Também é preciso saber a forma como esse amido se apresenta, definida basicamente pelo método e intensidade de processamento dos grãos.

O amido de grãos de milho inteiro tem digestibilidade muito diferente do amido de grãos de sorgo moídos. Com isso, queremos dizer que cada caso é um caso, ou seja, o nível ótimo de amido varia em função das características dos alimentos utilizados.

Em dietas de vacas de alta produção, em sistemas de confinamento, o amido pode representar até mais de 35% da MS total consumida pelas vacas, sendo que invariavelmente a quase totalidade desse amido vem dos grãos de cereais.

A degradabilidade ruminal do amido é extremamente variável, de menos de 50 a mais de 90%, sendo determinada pela taxa de degradação e tempo de retenção dos alimentos no rúmen. Grãos inteiros têm baixa degradabilidade, sendo que esta aumenta à medida que se intensifica o processamento dos grãos. O milho finamente moído é uma fonte de amido de alta degradabilidade ruminal.

A digestibilidade aparente do amido é cerca de duas vezes superior à digestibilidade da FDN para vacas leiteiras, de forma que sua utilização normalmente aumenta o teor energético das dietas. No entanto, esse aumento pode ser menor do que se espera, pois via de regra quando se substitui fibra (FDN) por amido (concentrado) em dietas de vacas leiteiras, a digestibilidade total da FDN diminui.

Isso ocorre principalmente em função da queda no pH ruminal das vacas que recebem mais concentrado. Por um lado há o ganho energético, e por outro o prejuízo no aproveitamento da forragem. O objetivo é buscar um equilíbrio a fim de maximizar o desempenho dos animais.

Com isso, como fazer para formular corretamente as dietas com relação ao amido? Na verdade os nutricionistas consideram não só o amido, mas todo um grupo de carboidratos que são digeridos de forma semelhante ao amido, chamado de Carboidratos não Fibrosos (CNF).

Nesse grupo são considerados além do amido, os açúcares simples, a pectina, ácidos orgânicos e a porção solúvel da FDN. De uma combinação entre resultados de pesquisas e experiências de campo, desenvolveu-se uma tabela prática para uso em formulações de dietas para vacas leiteiras.

Tabela1. Recomendações de carboidratos para vacas leiteiras
 


Vale ressaltar que essas recomendações são norte-americanas baseadas nas necessidades de vacas de alta produção. Teores de CNF acima de 45% da MS são considerados excessivamente elevados, sendo que esse limite superior é ditado pela maior possibilidade de ocorrência de distúrbios relacionados à acidose ruminal, resultado do excesso de CHO de fermentação rápida no rúmen, principalmente o amido.

Dessa forma, a determinação da concentração ótima de CNF nas dietas de vacas leiteiras depende de alguns fatores, tais como:

  • Os efeitos da velocidade de degradação do amido sobre a digestão de fibra no rúmen;
  • Características da FDN;
  • Consumo de MS.


Se a degradação ruminal do amido for muito rápida, certamente haverá prejuízo na digestão da fibra. Em nossas condições, em que grande parte das vacas são mantidas em pastagens na maior parte do ano, excesso de fermentabilidade de carboidratos não parece ser um grande problema, mesmo em rebanhos de alta produção, com alta demanda nutricional, pois o alto custo médio dos grãos de cereais em nosso país muitas vezes inviabiliza rações com alto teor de amido.

Além disso, a forma mais comum de utilização do milho é na forma moída, muitas vezes com tamanho médio elevado de partículas, de fermentabilidade não tão elevada.

Outro ponto a se considerar é que o milho brasileiro é de textura dura, sendo menos degradável no rúmen que o amido de grãos americanos. O tamanho de partícula das forrageiras ensiladas também é frequentemente grande, resultado de falhas na moagem, contribuindo positivamente para a efetividade física da fibra, e minimizando o problema de um possível excesso de CNF.

Além disso, a presença frequente de grãos inteiros nas silagens também reduz a disponibilidade do amido no rúmen. O alto teor de fibra das forrageiras, associado ao uso frequente de subprodutos fibrosos nos concentrados, normalmente resulta em rações onde o teor de FDN total é alto e, conseqüentemente, resulta em teor de CNF abaixo daquele capaz de induzir acidose. O maior problema da vaca brasileira não é acidose ruminal, e sim falta de energia, tanto para os microorganismos do rúmen quanto para o animal.

Também interessante é o fato de que a relação ótima entre amido e fibra na dieta depende da efetividade da fibra. Em dietas com teor relativamente baixo de fibra efetiva, que causam naturalmente uma redução no pH ruminal, a inclusão de amido que possibilita maximizar a digestão de fibra não passa de 35% da MS. Já em dietas com teor mais elevado de fibra efetiva, é possível a inclusão de até 40% de amido na MS, sem grande prejuízo à degradação da FDN.

Um estudo (Beckman & Weiss, 2005) mostrou que a queda na digestibilidade da MS e da energia que ocorre com a redução na inclusão de amido à dieta de vacas leiteiras pode ser compensada, pelo menos em parte, por um aumento de consumo das dietas com mais FDN, desde que essa fibra seja de alta digestibilidade.

Dessa forma, mesmo com menor diferentes teores de amido, o consumo de energia entre as dietas comparadas no trabalho foi equivalente. Nesse ensaio os níveis de amido variaram entre 25,4 e 33,3 e os de FDN entre 24.7 e 32,2% da MS total das dietas. Isso mostra que quando o volumoso é de alta qualidade, não há necessidade de se utilizar quantidades elevadas de grãos.

Esse é o mesmo princípio em que se baseia a substituição dos grãos de cereais por concentrados fibrosos, que são pobres em amido, mas bastante ricos em fibra altamente digestível, como é o caso da casca de soja, farelo de glúten de milho e farelo de trigo.

Logicamente as características desses subprodutos são muito diferentes, e isso precisa ser considerado quando se formula dietas para vacas leiteiras. Com isso em mente, em dietas que levam subprodutos, os níveis de amido podem ser sensivelmente reduzidos, sem prejuízo ao desempenho dos animais.

O trabalho de Carmo (2005) mostrou claramente que a combinação de fontes energéticas ricas em fibra digestível com fontes de amido pode resultar em dietas contendo 25% de amido na MS, que sustentem maiores produções de leite do que dietas compostas exclusivamente com fontes amiláceas, com teor de amido em torno de 30%.

De tudo o que foi exposto, podemos ficar com as seguintes mensagens:

  • Em dietas de vacas de alta produção, a alta inclusão de amido (acima dos 30-35% da MS total) aumenta o teor energético da dieta, mas pode colocar os animais em risco de acidose, o que vai reduzir o CMS, de forma que a ingestão de energia fique comprometida.
  • Quanto maior o teor de fibra efetiva, mais espaço há para se utilizar grãos de cereais, já que nessa condição o animal produz mais saliva, o que equilibra melhor o pH ruminal, prevenindo quedas drásticas no consumo.
  • Quando de utiliza subprodutos fibrosos, é possível se obter níveis elevados de desempenho mesmo com baixa inclusão de amido (abaixo de 25% da MS total). No entanto é preciso equilibrar bem a dieta, e ficar atento às características de cada subproduto.
  • Em qualquer situação, a qualidade da fibra é determinante do desempenho. Quanto maior a digestibilidade da FDN da dieta, menor a necessidade de inclusão de grãos à dieta. Infelizmente há poucos trabalhos avaliando diferentes teores de amido em dietas de vacas leiteiras mantidas em pastagens, e os poucos dados disponíveis são inconclusivos. De qualquer forma, todos os princípios discutidos aqui são válidos para o manejo alimentar de vacas a pasto, é só usar o bom senso.

Leia também > Amido é um nutriente essencial para vacas leiteiras?


Referências

BECKMAN, J. L.; WEISS, W. P. Nutrient Digestibility of Diets with Different Fiber to Starch Ratios when Fed to Lactating Dairy Cows. Journal of Dairy Science, v. 88, n. 3., p. 1015-1023., 2005.

CARMO, C. A. Grau de moagem do milho, inclusão de subprodutos agroindustriais e aditivo microbiológico em rações para vacas leiteiras. Piracicaba, 2005. 105 p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo.

GRANT, R. Optimizing starch concentrations in dairy rations. Proceedings of the Tri-State Dairy Nutrition Conference. Fort Wayne, IN, 2005.

 

ALEXANDRE M. PEDROSO

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência Animal e Pastagens, especialista em nutrição de precisão e manejo de bovinos leiteiros

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DIOGO APARECIDO DA SILVA FILHO

PASSOS - MINAS GERAIS

EM 05/10/2020

Prezado Eng° Alexandre
Sabe se é possível administrar troncos (pseudo caule) de bananeiras, picados, como volumoso para gado, na seca e durante todo o ano ? Há restrição de quantidade por animal por dia ? Há efeitos colaterais ?

Atenciosamente

Diogo A. da Silva Filho
+55 (19) 99702-3720
+55 (19) 3206-0695
1diogo.filho@gmail.com
JOSE JOSELI DA SILVA

SURUBIM - PERNAMBUCO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/05/2017

Gostei bastante do artigo sobre nutrição animal. Como não sou nutricionista, Sou médico veterinário, não sei se em engorda de novilho também devemos ter um limite na ingestão de carboidratos não fibrosos, como temos no balanceamento de ração para vacas de leite. Acima, até se coloca um limite de 30 a 43% da Matéria Seca para CNF, para balanceamento de vacas leiteiras. Assim sendo peço-lhes ajuda neste sentido,  para especificar o consumo mínimo e máximo  de Carboidratos não fibrosos, que não venha a comprometer a saúde dos novilhos ou novilhas em engorda.



Antecipadamente agradeço,



José Joseli da Silva
DANIEL CÉZAR

EM 06/10/2016

jurandir mg boa tarde gostaria de saber se o amido de milho faz agum mal as vacas
ANTONIO BLASBERG

ITAPEVA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/08/2015

Alexandre, onde posso comprar o amido?

Atenciosamente

Antonio Blasberg  .   .

blasberg@bol.com.br
EMERSON SANCHES TEIXEIRA

MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/07/2007

Boa tarde. Gostaria de saber sobre massa de mandioca e seus valores para alimentação de vacas em lactação. Que suplementos devo usar?

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Emerson,

Entendo que a massa de mandioca a que você se refere seja o farelo de bagaço de mandioca, subproduto originado do processo de extração da fécula, composto por material fibroso de raiz, contendo parte do amido que não foi extraído no processamento físico.

É um resíduo grosseiro, obtido após a segunda peneiragem. O bagaço da mandioca pode representar entre 10 a 20% do peso das raízes utilizadas para produção de fécula, e seu conteúdo de amido chega a 60%. Na forma úmida o subproduto apresenta cerca de 75% de umidade, pois para extração da fécula é utilizado grande volume de água.

Em média, apresenta cerca de 35% de FDN, 75% de NDT e teores muito baixos de proteína, em torno de 2%. É um suplemento essencialmente energético. Em dietas para ruminantes, devido à rápida degradação do amido, a mandioca e seus resíduos não devem ser usados como fontes exclusivas de energia, devendo ser associados com outras fontes de carboidratos de degradação mais lenta.

Atenciosamente,

Alexandre Pedroso
JOSE BRAZ COUTO JUNIOR

MARECHAL CÂNDIDO RONDON - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/06/2006

Levando-se em consideração a alta inclusão de amido na dieta de vacas de media a alta produção, seria possivel, na sua opinião, aumentar a digestibilidade da fibra efetiva utilizando-se soja integral tostada e moída, misturada com feijão integral tostado e moído, tendo um produto final com 11 % de óleo, 25 % de proteína e 88 de NTD, substituindo 1 por 1 na formulação?



<b>Resposta do autor</b>



Prezado José Braz,



Se a substituição a que vc se refere é a da fonte de amido por essa mistura, seria necessária uma reformulação da dieta onde fosse utilizada, pois as fontes de amido têm baixo teor de proteína e bem menos óleo. Dependendo dos ingredientes utilizados e da categoria animal, essa mistura pode ser utilizada, mas dificilmente numa proporção 1:1 com a fonte de amido.



Atenciosamente,



Alexandre

ANTONIO LUIS B.DE LIMA DIAS

MOCOCA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/05/2006

Gostaria de saber a opinião do senhor quanto à substituição total do milho por polpa cítrica? Isto para vacas com lactação média de 6000 Kg, comendo pastagem no verão e cana-de-açúcar no inverno e complementando a dieta com farelo de soja e caroço de algodão.



<b>Resposta do autor:</b>



Prezado Antonio,



Infelizmente dados de substituição total do milho por polpa são escassos. Dados da literatura e de trabalhos de que participei mostram que para vacas com produção entre 13 a 22 kg de leite/dia, a substituição parcial do milho (50%) por polpa é benéfica, mas no dia a dia uso o seguinte conceito:



Em dietas com baixo teor de concentrados e condições ruminais pouco desafiadas pelo acúmulo de ácidos, a viabilidade de utilização da polpa cítrica dependerá das condições de preço dos alimentos disponíveis, sendo resolvida por uma formulação simples de custo mínimo.



Em dietas cujo rúmen é desafiado, a polpa cítrica tende a valer mais do que seus nutrientes em função do efeito associativo (melhorar a digestão de fibra). Isto vale para vacas de alta produção e bovinos de corte confinados. Conheço gente que utiliza a polpa cítrica mesmo se esta estiver sendo cotada no mesmo preço do milho, apesar de ter menos energia.



Abraços,



Alexandre M. Pedroso

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