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O Potencial da Genética para Melhorar a Qualidade do Leite

POR GERSON BARRETO MOURÃO

E ALINE ZAMPAR

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/11/2008

5 MIN DE LEITURA

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É de conhecimento notório que o Brasil é um dos maiores produtores de leite do mundo, apresentando ainda grande potencial de crescimento, devido a sua extensão territorial. Porém, esse crescimento esbarra na baixa produtividade do rebanho nacional, que é reflexo da utilização de animais pouco produtivos e de sistemas de criação muitas vezes inadequados à produção leiteira.

O principal produto deste sistema é o leite, e por ser indispensável à alimentação e saúde humana, também exerce importante função social. Fato esse que, associado a menor produção no período de entressafra, faz com que se recorra a importações de leite e produtos lácteos. Parece óbvio que para solucionar tal problema um bom ponto de apóio é a melhoria dos índices zootécnicos, os quais devem ser seguidos da avaliação correta dos animais e o estabelecimento de critérios de seleção condizentes com a pecuária leiteira nacional.

A produção total de leite (PL) numa lactação (305 dias) tem sido considerada a característica mais importante em um programa de melhoramento de gado leiteiro. No entanto, essa visão simplista pode trazer pouco ganho (em genética ou em produtividade) ao sistema como um todo, sendo necessário entender a sua associação com outras características produtivas e reprodutivas, bem como analisar como estas se comportam quando a seleção é praticada para PL.

Tal relação está sujeita às variações na atividade reprodutiva, pois um menor intervalo de partos pode estar associado a maior produção de leite na vida produtiva do animal, além do possível aumento no número de animais nascidos por ano. Até recentemente, a produção de leite e as características reprodutivas eram estudadas separadamente, porém a importância e o grau de associação entre elas, como indicadoras de eficiência do processo produtivo, resultaram no aparecimento de maior número de trabalhos sobre o assunto, que exploram a análise conjunta.

A análise conjunta, sob uma visão pluralista, pode proporcionar maior rentabilidade econômica e ainda aumento da intensidade seletiva, maiores ganhos genéticos e maior rentabilidade do sistema produtivo.

Nos últimos anos, com a criação do "Programa Nacional de Melhoria da Qualidade de Leite" no Brasil, em 1996, algumas mudanças ocorreram no setor leiteiro, dentre elas o acompanhamento da qualidade do leite por meio de análises laboratoriais. Em julho de 2005 entrou em vigor a Instrução Normativa 51 (IN-51/2002), que diz respeito à qualidade do leite e preconiza que este deve ser analisado de acordo com requisitos quanto a padrões mínimos de composição, contagem de células somáticas (CCS), contagem bacteriana total (CBT) e presença de resíduos de antibióticos (BRASIL, 2002).

Tal programa surgiu, entre outros fatores, pelas exigências por parte dos consumidores sobre a qualidade dos produtos e, portanto, sobre a indústria de laticínios. Isto naturalmente, com iniciativas da indústria, pode estimular os produtores a se empenharem para produzir leite de melhor qualidade, influenciando no uso de melhores genótipos e no aumento da importância dos programas de melhoramento. Além disso, a própria forma de bonificação oferecida pela indústria processadora, a qual institui limites muito mais severos que os oficiais, podem fazer com que os produtores se motivem a produzir leite de melhor qualidade, utilizando entre outras ferramentas o melhoramento genético.

Neste sentido, sabe-se que para suprir a demanda por produtos lácteos em quantidade e qualidade é necessário que as perdas na produção de leite causadas pela alta contagem de células somáticas sejam quantificadas, considerando é claro as condições em que os nossos rebanhos são explorados. Menores valores de CCS estão associados a menor incidência de mastite clínica, que possui forte impacto sobre o custo de produção, maiores porcentagens de gordura e de caseína, o que é muito bem visto pela indústria de lacticínios, pois leva a maiores rendimentos na fabricação dos produtos lácteos e aumento na vida de prateleira de tais produtos.

A literatura científica tem relatado coeficientes de herdabilidade para CCS variando de 0,08 a 0,19. Apesar de moderados, podem permitir o melhoramento da qualidade do produto entregue às indústrias processadoras. Além disso, a CCS tem sido usada como indicadora de resistência à mastite em programas de seleção, uma vez que a correlação genética entre essas duas características é de aproximadamente 0,7.

Sendo a mastite a doença mais onerosa em uma propriedade leiteira, adicionar a contagem de células somáticas ao programa de seleção pode trazer benefícios não só à qualidade do leite, mas também ao bem-estar animal. Conseqüentemente, pode melhorar o retorno econômico da atividade leiteira, pois deve contribuir com a redução no custo da saúde. Algumas correlações genéticas entre a resistência à mastite e algumas características produtivas podem ser visualizadas na Tabela 1.

Tabela 1. Coeficiente de herdabilidade das características produtivas e suas respectivas correlações genéticas com a resistência à mastite.

Clique na imagem para ampliá-la.

Ainda baseando-se nas exigências de mercado e no sistema de produção a ser adotado pelo criador, o melhoramento genético deve priorizar não apenas o aumento do volume de produção, mas também o aumento dos sólidos do leite, principalmente a proteína, visto que o consumidor tem se preocupado cada vez mais com a saúde, principalmente com as doenças cardiovasculares, as quais parecem estar diretamente relacionadas ao consumo abusivo de gordura. Essas características, proteína e gordura, possuem herdabilidades de 0,20 a 0,30, que podem permitir ganhos genéticos importantes em poucas gerações de seleção.

Salienta-se, no entanto, que a seleção para altas porcentagens de gordura e proteína devem estar associadas a bons patamares em volume de produção leiteira, pois a produção de leite tem correlação alta e negativa com o teor de sólidos do leite, chegando a magnitudes de -0,7, evitando-se perdas indiretas em volume de produção. Algumas correlações entre as características produtivas e ECS estão ilustradas na Tabela 2.

Tabela 2. Correlações entre algumas características produtivas e escore de células somáticas (ECS).

Clique na imagem para ampliá-la.

Logo, seguindo a tendência mundial de maior valorização dos sólidos do leite, como nos EUA, Nova Zelândia, Holanda e Dinamarca entre outros, algumas indústrias e cooperativas brasileiras, apesar de tardiamente, também incluem em seus programas de pagamento os teores de proteína e gordura como uma forma de satisfazer as exigências e a tendência de um mercado consumidor "exigente".

Portanto, compreender a relação entre os fatores qualitativos, genéticos e ambientais que atuam sobre a produção de leite pode trazer resultados significativos à produção e à rentabilidade, sobretudo com uma relação equilibrada e sustentável entre produtividade e qualidade.

Referências:

HINRICHS, D, STAMER, E, JUNGE, W, et al Genetic Analyses of Mastitis Data Using Animal Threshold Models and Genetic Correlation with Production Traits. J. Dairy Sci., v. 88, p.2260-2268, 2005

IKONEN, T, MORRI, S, TYRISEVA, A-M, et al. Genetic and Phenotypic Correlations Between Milk Coagulation Properties, Milk Production Traits, Somatic Cell Count, Casein Content, and pH of Milk. J. Dairy Sci., v. 87, p.458-467, 2004.

GERSON BARRETO MOURÃO

Professor de Genética e Melhoramento Animal na ESALQ/USP. Publicou mais 80 artigos científicos. É editor associado da Scientia Agricola, da revista Visão Agrícola e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq

ALINE ZAMPAR

Zootecnista, Mestre em Zootecnia (FZEA/USP) e Doutora em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ/USP), na área de Melhoramento Genético de Bovinos de Leite.
Atualmente, professora adjunta da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Chapecó (SC)

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GEORGE PASTOR RAMOS

JAGUAQUARA - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/07/2009

Prezado Dr Gerson e Colegas Agropecuaristas,

Não poderia ler estes artigos e não deixar algum comentário. Acho que por sí só as ponderações do Dr Gerson, relativamente corajosas, já são um bom começo. Acho que o quadro geral, técnico, social, econômico e político da cadeia produtiva do leite no Brasil é calamitosa. Por quê? Me digam, como se pode pensar de forma diferente, se os preços recebidos pelo produtor nacional, numa média geral nacional da ordem de R$ 0,60/l, não compromete todos os avanços? Desestimula os produtores, bem como os profissionais afins, sejam técnicos, sejam os Pesquisadores. Acho que é necessário enfrentar-se o problema em todas as susa vertentes, ténicas, ecnonômicas, políticas e sociais, sem fascismos.

No Brasil não há modelo, acho, de quase nada. Vide a Indústria nacional como um todo. O governo Federal não vem contribuindo para sucateá-la, desde os calçados do RS às montadoras, que estão fugindo para a China? Sou oriundo da Petroquímica e vivi de perto esta fenomenologia de falta de compromettimento público dos governos com o Projeto Brasil, sério. Aqui não há projeto para nada. Acho que os governos não sabem pensar o Brasil. É uma vergonha. Não se sabe para onde vai esta imensa Arca de Noé. Que estratégias Macroeconômicas há aqui neste País. Prioriza-se o quê? A Agropecuária, a Idustria, os Serviços? Acho que não há nada consistente, nem sério. O custo Brasil é de matar. Quanta gente inútil sustentamos, consequentemente não temos estradas, Portos, Energia, Pesquisa, etc.

Bem, claro que tem tudo a ver com Programas de melhoramento genético, específico para as nossas condições, as colocações acima. Claro que a seleção para a produção e tipo feita na Holanda, EUA, etc, são mais adequadas para eles, para aquela alimentação, temperatura média anual, parasitos, enfim para todos os fatores ambientais destes Países. Me digam, a seleção Pardo Suiço da Alemanha, um exemplo que conheço de perto, para aquelas condições de alimentação, financeira, econômicas, etc - por que tudo isso pesa na performance animal - teria alguma relação conosco, com condições antípodas? Não sou cético não, mas também acho que temos que ser corajosos, competentes para falar das verdades sem demagogia, meias palavras. Porque a situação somente está boa para quem não vive dela.

Me desculpem o desabafo. Mas acho que o Prof Dr tem coragem de colocar as coisas mais ou menos como estão.

Muito obrigado e me desculpem se exagerei!

Abraços
GERSON BARRETO MOURÃO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 06/02/2009

Prezado Luiz F.A. Marques,

Fico grato por sua informação complementar.
Agradeço sua contribuição e análise.
Atenciosamente,

Gerson Barreto Mourão (ESALQ/USP)
GERSON BARRETO MOURÃO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 06/02/2009

Prezado Osvaldino Alves Eliseu,

Uma das principais ferramentas para melhorar seu rebanho é o uso de sêmen de touros provados, no Brasil. Neste caso temos poucas opções, sobretudo para vacas girolandas. Quanto ao touro que possui, o fato de ter origem num rebanho famoso, pouco pode lhe garantir algum valor sobre o potencial do mesmo para melhorar a produção leiteira ou qualquer outra característica. É aventura genética!

Finalmente, acredito que o uso de sêmen sexado, pode lhe ser muito útil para prover maior número de fêmeas, aumentando sua oportunidade de descarte de fêmeas de menor produção, desde que sua taxa de concepção seja efetivamente elevado com o uso da IA.
De outra forma o uso desta técnica poderá causar redução na sua taxa de natalidade.

Atenciosamente,

Gerson Barreto Mourão (ESALQ/USP)
OSVALDINO ALVES ELISEU

ARIQUEMES - RONDÔNIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/01/2009

Estou começando a trabalhar com gado leiteiro e gostaria de melhorar meu plantél. O gado que tenho é um gado comum, mas também tenho algumas vacas girolandas que tem uma boa lactação. Gostaria de receber alguma orientação de como posso melhorar a genética delas. O boi é um gir leiteiro que tem genética do (BEY), que é da Fazenda Lapa Vermelha de MG. Como posso trabalhar com semen sexado?

Obrigado!
Osvaldino A. Eliseu
LUIZ F. A. MARQUES

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 21/01/2009

Caro Gerson,

Muito Bom Artigo, didático na abordagem das relações estre as mais importantes características relacionadas à PL. Espero contribuir com o texto, esclarecendo que, no caso da Mamite, a importância da CCS está exatamente porque ela consegue identificar a sua forma Sub-clínica (mamite escondida, insidiosa e mais grave, economicamente para o produtor, porque transmissível e não visualizável) e não apenas a mamite Clínica, que é mais evidente e pode ser diagnosticada com o uso de caneca de fundo preto e outros à vista.

O tema é muito interessante e deveria ser mais vezes abordado.

Atenciosamente.
GERSON BARRETO MOURÃO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 08/12/2008

Prezado André Neiva Liboreiro,

Você tem razão, a frase como foi apresentada pode trazer dupla interpretação.
Devido ao fato da correlação ser favorável, selecionando-se para maior resistência à mastite, deve-se obter ganho genético indireto com a diminuição de CCS. E para tanto, a correlação genética entre tais características deve ser negativa, sendo neste caso de aproximadamente -0,7.
Agradecemos a leitura crítica e a observação enviada.
Atenciosamente,

Gerson Barreto Mourão

ANDRÉ NEIVA LIBOREIRO

SETE LAGOAS - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 07/12/2008

Bom dia Prof. Gerson,

Em seu texto você comentou que a correlação genética entre a CCS e a resistência à mastite é de aproximadamente 0,7. Fiquei com uma dúvida, se essa correlação for positiva então quanto maior fosse a resistência à mastite maior seria a CCS?

Atenciosamente,

André Neiva Liboreiro

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