As cigarrinhas das pastagens (Hemiptera: Cercopidae) são pragas de significativa relevância econômica na região da América Tropical, sendo responsáveis por ataques a canaviais e pastagens (Thompson, 2004).
Os prejuízos ocasionados pelas cigarrinhas derivam da extração de seiva, principalmente do xilema, e da introdução de secreções salivares no tecido vegetal. A principal injúria é ocasionada pelos insetos adultos que, ao se alimentarem, injetam toxinas por meio das secreções salivares, ocasionando desordens fisiológicas e causando amarelecimento nas plantas (Valério, 2009). As forrageiras atacadas apresentam estrias amareladas, que evoluem para o completo secamento das folhas, reduzindo o valor nutricional e a digestibilidade da forrageira para o gado (Sutil, et al., 2020).
Segundo Valério (2005) há uma necessidade da utilização de métodos integrados de controle, visando à associação de várias práticas para minimizar os danos por este inseto-praga, tais como: controle físico, controle cultural, controle químico e controle biológico. Souza et al (2008) corrobora o fato de não existir uma medida que possa isoladamente controlar efetivamente as cigarrinhas-das-pastagens.
O método de controle precisa levar em consideração a busca pela redução dos impactos ambientais e econômicos. Para o controle das cigarrinhas-das-pastagens, o uso de inseticidas químicos sintéticos depara com duas limitações: a primeira, de ordem ecológica, uma vez que demandaria o tratamento de extensas áreas e, a segunda, de ordem econômica, associada ao custo resultante do tratamento destas áreas (Valério 1985).
A sustentabilidade das pastagens está diretamente ligada aos organismos que desempenham funções essenciais na preservação dos sistemas ecológicos, dentre esses aqueles agentes de controle biológico, que tem ação de manter a densidade populacional dos herbívoros em uma média mais baixa do que ocorreria na sua ausência, não possibilitando que os insetos atinjam o nível de controle químico É imperativo adotar medidas que incentivem a conservação desses benéficos no campo que proporcionarão a manutenção do equilíbrio ecológico (Paiva, et al. 2020)
Valério (2005) observou o primeiro relato de parasitismo de ovos de cigarrinhas-das-pastagens no estado do Mato Grosso do Sul. Na literatura nacional, dois gêneros de Mymaridae são mencionados como parasitas de ovos de cercopídeos: Anagrus e Acmopolynema. Aqueles do gênero Anagrus tem ocorrido no campo experimental da Embrapa Gado de Leite, Coronel Pacheco, MG. Não há relatos de eficiência desses parasitoides no controle de cigarrinhas-das-pastagens; no entanto, esses encontram naturalmente e, possivelmente auxiliam no equilíbrio populacional do inseto-praga.
Outro agente que está naturalmente relacionado a dinâmica populacional das cigarrinhas-das-pastagens são os entomopatogênicos. O reconhecimento desses organismos tem sido fontes de pesquisas. Com esse propósito Campagnani, et al. (2017), em áreas com uma rica biodiversidade, registraram cepas selvagens de fungos, como Fusarium sp. e Metarhizium sp., coletadas no Maranhão, os quais demonstraram notável virulência contra M. spectabilis. Esses fungos tem potencial para o controle da praga e são candidatos para se tornar agentes de biocontrole. Em laboratório e campo esses demonstraram eficiência superior ao fungo Metarhizium anisopliae comercial.
Outro agente entomopatogênico que pode ser utilizado como controlador da cigarrinha das pastagens foi registrado por Batista, et al. (2014). Esses constataram que algumas espécies/cepas de nematoídes resultaram na morte das ninfas de M. spectabilis. Destacam-se pela maior virulência Steinernema riobrave e Steinernema feltiae, provocando taxas de mortalidade em torno de 92%.
Além dos parasitoides e agentes entomopatogênicos, temos os predadores. Segundo Veríssimo (2018), o agente predador mais promissor de controle biológico da cigarrinha das pastagens é a mosca Salpingogaster nigra (Schiner, 1868) (Diptera: Syrphidae). Este díptero coloca seus ovos na espuma produzida pelas ninfas das cigarrinhas-das-pastagens, sua larva passa a se alimentar das ninfas, matando-as. Em média cada larva de S. nigra consome entre 12 a 17 ninfas de cigarrinha das pastagens (Paez & Torres, 1984; Guppy, 1913), possuem curta duração do seu ciclo vital, apresentando de duas a três gerações durante o ciclo de vida da sua presa (Guagliumi 1970).
Figura. Nematoide entomopatogênico, Steinernema carpocapsae (seta) desempenhando comportamento de penetração em ninfa de Mahanarva spectabilis (A) e (B). Adulto de Mahanarva spectabilis contaminada com fungo (C e D). Adulto de Salpingogaster nigra (E) e larva de Salpingogaster nigra (F).
Fonte: Acervo dos Autores (2024).
Atualmente disponível no mercado contamos com a presença do fungo Metarhizium anisopliae, utilizado por meio de aplicações nas pastagens para controle da cigarrinha-das-pastagens. As pesquisas com agentes de controle estão seguindo um caminho promissor, buscando o conhecimento das interações do inseto praga com os parasitódes, predadores, fungos entomopatogênicos, nematoídes entomopatogênicos, que apesar de apresentaram eficientes, pesquisas de campo precisam ser adotadas anterior as recomendações em sistema de produção integrado e sustentável, oferecendo condições para proliferação dos inimigos naturais.
Além disso, reforça-se que a conservação desses nas áreas de produção deve ser incentivada, considerando que são organismos que em situação de equilíbrio ecológico atuam de forma a manter a população do inseto praga abaixo do nível de controle.
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Autores
Luís Augusto Calsavara - Graduando em Agronomia Instituto Federal do Sudeste de Minas - campus Barbacena/ MG. Bolsista do Laboratório de Entomologia - Embrapa Gado de Leite – Juiz de Fora – MG.
Bruno Antônio Verissimo - Doutorando PPG em Biodiversidade e Conservação da Natureza Universidade Federal de Juiz de Fora – MG
Tiago Teixeira de Resende - Técnico A - Embrapa Gado de Leite – Juiz de Fora – MG - Laboratório de Entomologia.
Michelle Oliveira Campagnani - Bolsista de Pós-Doutorado - Bolsista do Laboratório de Entomologia - Embrapa Gado de Leite – Juiz de Fora – MG.
Alexander Machado Auad - Pesquisador - Embrapa Gado de Leite – Juiz de Fora – MG - Laboratório de Entomologia.
Referências
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CAMPAGNANI, Michelle Oliveira et al. Prospection and fungal virulence associated with Mahanarva spectabilis (Hemiptera: Cercopidae) in an Amazon silvopastoral system. Florida Entomologist, v. 100, n. 2, p. 426-432, 2017.
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