Certamente você já ouviu falar sobre a eficiência da produção de leite Nova Zelândia, mas já imaginou como ela se adapta no Chile? Durante a jornada cobrindo o Field Days Latin America, tivemos a oportunidade de visitar algumas fazendas leiteiras e conversar com neozelandeses que aceitaram o desafio de transplantar tudo o que sabem para terras chilenas.
O Field Days evento organizado pela NZTE - New Zealand Trade and Enterprise, uma agência de desenvolvimento de negócios da Nova Zelândia, aconteceu na fazenda La Mosqueta da Agrícola dos Kiwis, do produtor Chris White. Para entender a mistura Nova Zelândia x Chile, conversamos com o Chris em busca de informações sobre o sistema.
Chris e sua família iniciaram sua jornada no Chile há mais de duas décadas. Venderam seus animais na Nova Zelândia e, junto de sua companheira Sue Connolly e seus filhos pequenos, migraram para o Chile. A jornada no leite chileno iniciou mais tarde, há pouco mais de 10 anos. Atualmente a Agropecuária dos Kiwis conta com três fazendas (El Copihue, Los Leones e La Mosqueta), com 400ha e 1.500 animais.
Chris apresentando a história da Agropecuária dos Kiwis aos visitantes.
Perguntamos ao Chris qual foi o maior desafio ao iniciar a produção de leite no Chile. Segundo ele, foram as pessoas, em primeiro lugar: “É preciso ensiná-los a cultivar da mesma forma que cultivamos na Nova Zelândia. Ajudá-los a entender e acreditar no nosso sistema baseado em pastagens. No início, muitos olham para o pasto e acham que é só colocá-lo lá, mas não é tão simples assim. É preciso controlar o espaço por animal, a rotação e a movimentação ao longo do ano.”, enfatiza.
Chris destaca que, dos produtores e trabalhadores do leite chileno que acreditam na produção de leite a pasto, 100% apreciam o sistema e acreditam no uso da tecnologia neozelandesa para impulsionar a produção. “Alguns vão à Nova Zelândia, eles estudam sobre as tecnologias, voltam ao Chile e colocam em prática.”
Ele ressalta que o pasto é a alimentação mais econômica e isso influencia na escolha para o sistema. E que é importante a incorporação de tecnologias que gerem eficiência e com um baixo custo, como as da Nova Zelândia. “Nosso sistema é eficiente, nossos produtos (com tecnologia da Nova Zelândia) nos ajudam a sermos mais eficientes.”
Para entender melhor o sistema de produção neozelandês, visitamos a fazenda Los Leones e visualizamos como as coisas funcionam por lá. O primeiro ponto é a preocupação com a biosseguridade.
Todos os visitantes utilizam bota descartável para evitar uma possível entrada de patógenos, semente ou microrganismo indesejável.
Durante o tour, Sue Connolly nos apresentou a sala de ordenha, destacando o processo simples, mas eficaz. No momento da ordenha há oferta de concentrado para as vacas, na fazenda Los Leones são ordenhadas 192 vacas, no sistema 100% a pasto e uma produção média de 16,9 litros/vaca por temporada, com picos alcançando 20,5 litros por vaca.
Sala de ordenha da fazenda Los Leones.
Devido ao uso de tecnologias e sistema neozelandeses, os 63 hectares de produção leiteira, contam com apenas um funcionário, que tem o apoio dos consultores técnicos da fazenda. Um agrônomo fica responsável pelo pasto e cultivos complementares. Todo o planejamento de produção é feito acompanhando a curva de crescimento do pasto.
O pasto trabalha com a carga de 3,5 U.A, e são usados azevém e trevo branco. Para complementar fazem cultivo de rutabaga em rotação como uma opção para vacas secas, chicória como forragem de verão e alternativa às daninhas, nabos para o final de dezembro.
Sistema de fertirrigação usado no pasto.
Um dos segredos neozelandeses, que garantem o sucesso da sua produção a pasto, é o conhecimento dos cultivos, da demanda nutricional das pastagens em cada estação, e de quanto ela pode oferecer aos animais. Além disso, o manejo correto dos tipos de pastagens e o uso das cercas elétricas garantem a eficiência da rotação nos pastos.
Quanto a genética do rebanho, buscam por “vacas pequenas, capazes de comer a maior quantidade de pasto possível e maximizar a produtividade.”, segundo Chris. Essas vacas seriam da genética Jersey e Kiwicross, que são atualmente usadas na fazenda.
Bezerras da fazenda Los Leones.
As Jerseys garantirão os sólidos do leite e as Kiwicross foram introduzidas pensando em melhorar a eficiência e produtividade, sem prejudicar na quantidade de sólidos. É preciso enfatizar que a quantidade de sólidos é muito importante no sistema dos White, já que recebem pagamento baseado nessas quantidades.
Vacas Jerseys e kiwicross da fazenda Los Leones.
Paralelamente à Agropecuária Dos Kiwis, Chris White dedica-se à realização de projetos de consultoria para fazendas que desejam implementar o modelo neozelandês. Perguntamos a ele qual seria o primeiro passo para implementar essa mudança no Brasil.
Segundo Chris, o primeiro, e provavelmente o mais difícil, seria mudar a genética do rebanho. Para ele, as vacas holandesas não são tão eficientes para o sistema de pastejo, principalmente as que estão acostumadas a sistemas confinados, e afirma que eles já tentaram, e que levaram cerca de cinco anos para chegar na genética que possuem atualmente.
Chris e família
Chris disse que realizou a troca na sua fazenda de forma gradual, vendendo os animais mais altos, trocando e selecionando características para vacas menores.
Outro processo demorado, mas extremamente necessário é a correção e fertilidade do solo. “Leva tempo, você não pode simplesmente colocar de uma vez tudo o que o solo precisa, é preciso fazer por etapas e assim como a genética, pode levar de quatro a cinco anos.”
Investir nas tecnologias certas, segundo Chris, ajudam num valioso recurso, o tempo. É uma equação onde eficiência e tempo se complementam para o sucesso da produção leiteira, seja na Nova Zelândia, no Chile ou, quem sabe, em terras brasileiras.