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Mercado do leite em 2022: o que esperar do cenário global e nacional?

POR MAYSA SERPA

PANORAMA DE MERCADO

EM 12/04/2022

8 MIN DE LEITURA

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No último dia 5 de abril, foi realizado o primeiro dia do Fórum MilkPoint Mercado, o maior evento voltado para mercado do leite no Brasil. No primeiro bloco, os palestrantes trouxeram suas visões a respeito do cenário econômico mundial, o mercado lácteo no Brasil e no mundo, além das tendências de consumo.

A guerra na Ucrânia e suas consequências para o mercado global de alimentos foram amplamente discutidas no evento. Luís Otávio Leal, Economista Chefe do Banco Alfa, apontou três possíveis cenários e desfechos para o conflito, que considera ser a conjuntura de maior impacto para o cenário econômico global. “Putin, presidente da Rússia, vai querer um troféu. Ele não entrou nessa guerra e invadiu a Ucrânia para sair com as ‘mãos abanando’ de lá. A grande diferença entre esses três cenários é qual seria esse prêmio”, explicou o economista.

O primeiro cenário, chamado de “escalada militar”, é menos provável de acordo com as previsões do banco Alfa e se daria a partir de medidas mais drásticas tomadas pela Rússia, que culminariam em uma reação da comunidade internacional e a entrada da OTAN no conflito. Neste caso, o prêmio visado pela Rússia seria Kiev, a capital da Ucrânia, que já se mostrou não ser tão simples de tomar.

Outro possível – e mais factível – “troféu” para o país seria a conquista da região leste da Ucrânia, chamada Donbas, que historicamente tem laços com a Rússia. Neste caso, haveria uma bifurcação de cenários, com um menos provável, denominado pelo economista como “solução rápida”, em que a Rússia tomaria a região rapidamente mediante cessão dos ucranianos, havendo logo uma resolução do conflito e retirada das sanções econômicas.

O outro cenário, considerado o mais provável e chamado de “paz armada”, se daria pela resistência dos ucranianos na região, levando a um conflito estagnado e sanções mantidas. “Neste caso, não vai haver uma retirada das sanções e os preços das commodities vão continuar elevados”, concluiu Luiz Otávio.

Um bom termômetro para entender as consequências destes cenários é o valor do barril de petróleo que, segundo o especialista, ficaria entre U$ 100 e 110, caso a “paz armada” se estabeleça. Estes são valores bem próximos aos pré-guerra, porém não são um alento, segundo Luiz, pois o preço do barril já estava em escalada antes do início do conflito, devido a choques de oferta recorrentes nos últimos 2 anos.

“Ou seja, o grande problema dessa guerra da Ucrânia é que ela acrescentou um choque adicional a uma sequência de choques que a gente vem acompanhando desde 2020. Isso gerou no mundo uma inflação totalmente fora do normal”, enfatizou.

Para Andrés Padilla, economista do Rabobank, a Guerra da Ucrânia é “um conflito que se insere dentro de uma mudança estrutural do mundo, uma mudança de menos globalização e mais regionalização” e isso trará grandes consequências para o cenário macroeconômico mundial.

Esta “desglobalização”, de acordo com os especialistas, é reflexo da observação que cadeias de suprimentos muito longas – frutos da globalização e da polarização das duas grandes economias: EUA e China – não são tão vantajosas no contexto atual. Apesar de trazer os benefícios de um menor custo de produção, são muito fragilizadas diante de problemas pontuais como estes observados nos últimos anos: a pandemia e a guerra. Para eles, estas fragilidades farão com que se torne mais atrativo regionalizar e diversificar os locais de produção, o que provavelmente levará um cenário de inflação mundial, devido aos maiores custos para produzir.

Contudo, para os economistas, esta regionalização pode ser uma oportunidade para o Brasil. “Eu acho que o Brasil tem uma vantagem aí, com essa neutralidade frente aos dois grandes blocos [EUA e China]; é um produtor de commodities agrícolas, de energia também e minerais. Então, eu acho que o Brasil tem uma oportunidade de crescer dentro do comércio mundial nos próximos anos”, observou Andrés, reforçado por Luiz, que pontuou que se o Brasil fizer o “dever de casa” (reformas tributárias), vai atrair investimentos e “aproveitar esta globalização 2.0”.

Outro grande impacto da guerra da Ucrânia é a disponibilidade e preços dos fertilizantes. Além da escassez destes insumos aumentar os custos de produção diretamente, compromete a oferta e o preço dos alimentos, visto que os fertilizantes estão associados a uma maior produtividade nas lavouras. A questão afetará inclusive as próximas safras, segundo Luiz Otávio. “Mesmo que resolva o problema, a gente vai ter essa safra que vai ser plantada em 2022 e 2023 com custos mais altos”.

Um outro ponto de atenção é a demanda da China por produtos lácteos, que pode ser comprometida caso o país resolva apoiar mais abertamente a Rússia em sua empreitada armada. Este cenário levaria a sanções econômicas em um país que é responsável por 25% das importações de lácteos do mundo, além de diversas outras commodities alimentícias.

Neste início de ano, a China já diminuiu em 10% o volume de compras de lácteos em relação ao ano anterior, mas o impacto não foi tão grande devido a limitação de oferta. Segundo Andrés, este (o apoio explícito da China à Rússia) não parece ser um cenário base, mas merece atenção diante da importância do país para o comércio global de lácteos. Luiz Otávio também pontuou a China como alvo de atenção e salientou que “passando a guerra na Ucrânia, o mundo vai se voltar para o crescimento da China”, crescimento este que pode ser comprometido por um novo lockdown em Xangai e problemas no setor imobiliário, o que também pode impactar na demanda por commodities.

As consequências da inflação mundial foram resumidas por Andrés em uma projeção para 2023. Nela, é possível observar que os consumidores de todas as regiões gastarão um percentual maior de suas rendas na compra de alimentos, o que pode gerar insegurança alimentar em classes e países mais pobres. “Porém, isso não tem relação apenas com a guerra na Ucrânia, mas também com as mudanças climáticas, aumento de custos nas cadeias de logística, problemas políticos de comércio, energia etc.”

Pensando especificamente em lácteos, Padilla pontuou: “Os lácteos vão concorrer mais com outros produtos alimentícios e esta concorrência será mais acirrada nos próximos anos”. Esta afirmação foi corroborada por Mikael Quialheiro, da Nielsen, que trouxe dados que demonstravam a já atuante inflação nos produtos alimentares e o aumento do ticket da cesta básica brasileira, além de uma queda no índice de confiança do consumidor.

Mikael mostrou que, segundo os dados da Nielsen, os alimentos foram os itens que mais penalizaram o bolso dos consumidores, com inflação de 30% desde 2019. Com isso, ele afirma que os preços mais baixos (produtos mais baratos ou embalagens menores) são o grande driver que vai direcionar o desenvolvimento de produtos nas indústrias e orientar os consumidores na hora de escolher as marcas.

Por outro lado, Quialheiro ponderou que as classes econômicas mais altas podem pagar por produtos premium, não extinguindo a importância de produtos nesta categoria. Nestes casos, segundo o especialista, o driver de consumo é a praticidade. “Nós temos dois momentos agora, de um lado a classe mais alta que conseguiu economizar na pandemia e agora pode gastar mais e, do outro lado a população que gastou durante a pandemia e não pode gastar agora. Então, o que que a gente vai oferecer para eles?”.

Tratando-se mais especificamente de Brasil, Valter Galan, do MilkPoint Mercado, trouxe um resumo do ano de 2022 até então e as perspectivas para os próximos meses no mercado lácteo. O ano começou com a produção pouco incentivada, devido a custos altos e rentabilidade baixa para o produtor de leite. As importações estavam pouco competitivas, diante dos preços elevados no mercado global, e, pelo mesmo motivo, as exportações brasileiras se tornaram competitivas.

Todo esse cenário culminou numa disponibilidade per capita de leite baixa em relação ao ano anterior. Contudo, apesar da oferta limitada, a demanda também iniciou o ano em baixa, principalmente diante dos menores incentivos governamentais para a economia.

O cenário atual e as perspectivas para o futuro, entretanto, mostram-se bastante diferentes. Os valores do leite spot subiram consideravelmente nos últimos meses, diante da oferta apertada, o que indica uma reação nos preços nas fazendas.

Sendo assim, do lado do produtor, espera-se uma reação forte no preço do leite a partir de abril, além de um pequeno recuo (12%) no valor do milho – apesar deste mercado ainda estar extremamente volátil. “Isso dá um aumento significativo no RMCR (Receita menos o custo da ração) daqui até junho e julho. A gente fez uma projeção que leva em consideração um aumento entre 40 e 45 centavos na média Brasil/Cepea até junho. Isso resulta em uma recuperação da rentabilidade do produtor em relação ao ano passado e em relação à média histórica”.

Por outro lado, os cenários futuros dos preços globais de lácteos, bem como do câmbio, apontam para uma maior competitividade das importações. Porém, o analista chama atenção para a disponibilidade do Mercosul. “A contrapartida é que o Mercosul tem pouca disponibilidade [de leite] até maio/junho. Eles estão em plena entressafra da produção, com produção estável em relação ao ano passado e já com muitas vendas feitas. Então, importação ganha competitividade, mas tem pouca disponibilidade até o meio do ano do Mercosul”. As exportações, por sua vez, devem fechar sua janela de oportunidade.

Diante deste cenário de maior rentabilidade e possível estimulação da produção, além da maior entrada de produto externo no país, espera-se uma maior disponibilidade per capita de leite que, embora ainda abaixo do ano anterior, terá um gap menor em relação ao que vinha sendo praticado. Neste contexto, Valter ressalta que as medidas econômicas de injeção na economia são extremamente importantes para estimular demanda.

O analista de mercado apontou, por fim, alguns fatores que podem alterar este cenário:  

  • Alteração do mercado e grãos para cima (elevação de preços);
  • Eventuais problemas de clima e desempenho de safra e pastagens no Sul do Brasil;
  • Mudanças estruturais concretizadas: menor base de produção (muita saída de vacas e produtores), o que pode levar a um atraso na recuperação da oferta;
  • Novas medidas para ativação da economia (auxílios governamentais) conflitando com possíveis preços altos ao consumidor no varejo.

Seja em relação aos preços dos grãos, do leite no mercado internacional e interno, dos barris de petróleo ou dos alimentos no geral, os especialistas concordam que, diante da inflação mundial prevista, dificilmente os valores voltarão a patamares de 2 a 3 anos atrás.

Contudo, Marcelo Pereira de Carvalho, CEO da AgriPoint e moderador do painel no dia, chamou a atenção: “Vamos voltar para 2007, os preços dos grãos estouraram, preço do leite bateu U$ 5000 e todo mundo falou que era um novo patamar, que não voltaria mais, e voltou. Então, eu acho que tem componentes estruturais [de mudança], mas tem que tomar um pouco de cuidado, porque as vezes a gente tem uma visão de momento”. 

MAYSA SERPA

Médica Veterinária, MSc. e doutoranda em Sanidade Animal pela UFLA.

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