O Global Dairy Trade (GDT) alcançou seu 312º evento hoje (19/07), e o cenário baixista observado ao longo dos últimos eventos ganhou força nesta quinzena.
O receio de recessões econômicas, associado ao retorno a política de controle sanitário na China impactaram negativamente nos preços praticados no mercado internacional de lácteos. O trecentésimo décimo segundo evento da plataforma GDT apresentou recuo de 4,45% na média de seus preços, que fecharam em US$ 4.166 /tonelada.
Gráfico 1. Preço médio leilão GDT x GDT Price Index.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.
Nesta quinzena, ocorreu um leve recuo no volume negociado. Foram negociadas 23.219 toneladas de lácteos, volume 1,03% menor em relação ao último leilão. O comportamento no volume negociado foi semelhante aos últimos anos, visto que a segunda quinzena de julho também apresentou recuos. Neste ano, a intensidade foi menor, mantendo-se praticamente estável.
Gráfico 2. Volumes negociados nos eventos do leilão GDT.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.
Dentre as variações dos preços dos derivados, observou-se os seguintes movimentos: Leite em pó desnatado (-8,71%, fechando em US$ 3.709 /tonelada), queijos (-1,69%, fechando em US$ 4.825 /tonelada), manteiga (-2,09%, fechando em US$ 5.530 /tonelada).
Todos os derivados apresentaram recuos nos preços, com destaque para o leite em pó desnatado, que registrou o menor valor desde novembro de 2021, e voltou a ter o valor inferior ao leite em pó integral.
Os preços médios do leite em pó integral apresentaram um significativo recuo, variando aproximadamente -5,15%, passando de US$ 3.961/ton para US$ 3.757/ton. Os valores registrados são os menores desde outubro de 2021.
Confira na Tabela 1 o preço médio dos derivados após a finalização do evento e a variação em relação ao evento anterior.
Tabela 1. Preço e variação do índice dos produtos negociados no leilão GDT em 19/07/2022.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.
Um dos fatores que contribuíram para este cenário baixista e que impulsionou os recuos nos preços praticados foram os entraves econômicos que grandes economias mundiais enfrentam.
Segundo o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, a inflação no país norte-americano teve alta de 1% em maio, e 1,3% em junho, com o acumulado de 12 meses do índice de preços ao consumidor alcançando +9,1%, maior valor desde novembro de 1981 (após os choques do petróleo nos anos 1970). Essas duas variações positivas consecutivas na inflação do país norte-americano elevam as tensões sobre uma possível recessão econômica mundial.
A Europa também dá sinais de que pode enfrentar uma recessão econômica frente aos problemas ocasionados pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. Pela primeira vez na história, a moeda europeia, o euro, se igualou ao dólar, chegando a cair abaixo da paridade em relação a moeda dos Estados Unidos na última quarta-feira (13/07).
Segundo relatório da S&P Global Ratings, as chances da zona do euro entrar em recessão nos próximos 12 meses são de 30% a 43%. Se a Europa irá ou não entrar em crise ainda é incerto, porém a desaceleração econômica já é uma realidade, visto que a região apresentou dois trimestres consecutivos com variações negativas do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, em meio a uma onda de calor enfrentada pelos europeus, países como a Alemanha, já começam a analisar a possibilidade de racionamento de energia, frente aos problemas de fornecimento do gás russo.
Outro grande player no mercado global, a China, também enfrenta desaceleração econômica. A economia do país asiático cresceu apenas 0,4% no segundo trimestre do ano, em relação ao ano anterior, segundo dados oficiais divulgados sexta-feira (15/07). Esse foi o pior desempenho da economia chinesa para o 2º trimestre desde que a série de dados começou, em 1992.
Além da desaceleração econômica, outro fator que impulsionou as baixas na China foi a política de controle sanitário. Segundo a Nikkei Asia, uma agência de informação chinesa, o país registrou uma média de cerca de 390 novas infecções diárias na última semana, o que marca um aumento de 50 novos casos da doença por dia nos últimos sete dias. Além disso, Xangai e Pequim, grandes centros comerciais do país asiático, retornaram com as testagens em massa, reforçando possíveis intensificações dos lockdowns nos próximos dias.
Ambos os fatores causaram impactos negativos para o mercado, impulsionando o cenário baixista formado no último leilão.
Em relação aos contratos futuros de leite em pó integral no GDT e na Bolsa de Futuros da Nova Zelândia (NZX Futures), ambas as projeções seguem com cenários baixistas para os próximos 3 meses. Em meio às incertezas geradas pelo mercado extremamente volátil, as projeções do GDT estimam um ligeiro aumento para agosto, seguido de quedas, girando em torno de US$ 3.700 /tonelada.
Para a NZX Futures, o cenário é mais pessimista e a projeção é de queda para agosto, seguido de leves reduções para os próximos meses. Os preços se mantêm ao redor de US$ 3.635 /tonelada, pelo menos em curto prazo.
Gráfico 4. Contratos futuros de leite em pó integral.
Fonte: GDT X NZX Futures, elaborado pelo MilkPoint Mercado, 2022.
Como os resultados do leilão GDT afetam o mercado brasileiro?
Para entendermos o impacto das negociações do evento GDT no mercado nacional, podemos considerar o câmbio desta segunda-feira (18/07/2022) — R$ 5,39 — e o valor do leite em pó integral internacional (US$ 3.757 /tonelada), para chegarmos ao preço equivalente de um leite importado colocado no Brasil, que seria de R$ 2,45 /litro.
Esse valor está abaixo, se comparado com o leite pago ao produtor no mês de junho – fechado na média de R$ 2,68/litro (CEPEA/ESALQ) – e é um valor bem inferior, se comparado ao preço do leite spot da segunda quinzena de julho (R$ 4,06/litro – média Brasil).
Após passar por um cenário altista nos últimos meses, frente a baixa disponibilidade de leite no mercado interno, os preços dos derivados lácteos estão operando em patamares elevados. Apesar desta dinâmica, as primeiras correções de mercado começaram a ocorrer nesta semana, frente aos repasses do varejo ao consumidor final, que desestabilizou a demanda pelos produtos e tem refletido em uma maior dificuldade nas vendas.
Ao longo dos últimos dias, o dólar seguiu ganhando força. O cenário de alta foi impulsionado pelos temores de recessão mundial e pela atenção voltada aos riscos ficais que novos auxílios propostos pelo governo federal podem causar no país.
Sendo assim, o cenário no momento se mantém. Mesmo com fatores impactando negativamente na competitividade das importações, como por exemplo, a elevação do dólar, a competitividade dos produtos internacionais segue ganhando força, frente ao recuo nos preços internacionais e aos preços no mercado interno, que estão em níveis elevados.
Por hora, a tendência é de elevação nas importações e uma janela de exportações ainda fechada.