Reunião entre Faerj e Parmalat Brasil não diminui temor dos produtores
Publicado por: MilkPoint
Publicado em: - 4 minutos de leitura
O resultado de uma reunião na tarde de quarta-feira (07) com o presidente da Parmalat Brasil, Ricardo Gonçalves, aponta um cenário preocupante quanto ao pagamento das dívidas da empresa com as cooperativas fluminenses, de acordo com o presidente da Faerj (Federação de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro), Rodolfo Tavares, abalando a tranqüilidade gerada na audiência com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, na terça-feira (06).
"A reunião com o ministro deu-nos um alento, diminuindo nossa intranqüilidade, pois ele garantiu que não permitirá que qualquer ação da Parmalat prejudique os produtores brasileiros", relatou Tavares, acrescentando que outro fator tranqüilizador foi a posição do Ministério Público e pela Casa Civil da governadora Rosinha Garotinho, segundo os quais, dependendo da demanda e da necessidade, estarão prontos para tomar medidas judiciais para proteger o produtor rural do Estado.
Além disso, como informou o presidente da Faerj, o governo do Rio sinalizou com a reativação de programas com leite para merenda escolar a partir de fevereiro, com uma meta de aquisição de 150 mil litros por dia.
"Com relação à Parmalat, confesso que não estamos tranqüilos", continuou Tavares, dizendo que, "embora tenha havido manifestação da intenção de pagar em 16 de janeiro diante do ministro da Agricultura, diferentemente, na reunião com o presidente da Parmalat, o pagamento ficou condicionado a eventos como reativação de créditos bancários e fundo de recebíveis que a empresa tem com o Banco Itaú".
Essa afirmação preocupa demais os produtores do Rio, segundo o presidente da Federação de Agricultura, porque, nesse momento de pico de safra, principalmente nas regiões norte e nordeste do Estado, não há alternativa de colocação de leite. "Temos algumas sinalizações, com a possibilidade de a Danone atender as cooperativas do sul fluminense, principalmente em Volta Redonda, devido à condição logística de proximidade. No norte e nordeste, porém, não há nenhum comprador, nesse momento", lamentou. Dos 11 fornecedores da Parmalat, sete se concentram no norte do Estado, segundo suas informações.
Deliberação
Para Tavares, o pior não é a queda dos preços do leite promovida por especuladores, mas a falta de alternativas de mercado que possam equacionar o problema das cooperativas. "Por isso, teremos um encontro hoje (09), às 14 horas, na Cooperativa de Itaperuna, para passar aos presidentes de cooperativas e de sindicatos rurais as impressões diante de ambas as reuniões e deliberarmos sobre a tomada de algumas iniciativas cabíveis no caso, cumprindo a obrigação da Faerj de prestar assessoramento e fornecer as informações à opinião pública e às autoridades", reforçou o presidente da Faerj.
Entre as alternativas, a saída principal, na opinião de Tavares, refere-se à dívida. "Diante da intranqüilidade em que estamos, queremos não contar com esse cenário, mas não podemos afastar a possibilidade de quebra, de concordata da Parmalat", disse, observando que a alternativa seria levar títulos da dívida vencida a protesto, para ter garantias de recebimento antes de uma possível concordata da Parmalat Brasil.
"É uma alternativa traumática, principalmente de um credor que continuará a fornecer leite", acrescentou. A dívida vencida passível de protesto engloba R$ 1,6 milhão referente ao leite entregue na segunda quinzena de novembro (foram quitados apenas 30%) e R$ 2,5 milhões relativo à primeira quinzena de dezembro. "Esta parte é passível de protesto judicial. É uma alternativa que algumas cooperativas relutam em admitir, mas temos a obrigação de alertar os dirigentes para tal possibilidade", argumentou o presidente da Faerj. Em 15 de janeiro, vencem mais R$ 2,5 milhões da segunda quinzena de dezembro de 2003.
"A sistemática de pagamento, seja por contrato escrito ou habitual, tem sido dia 5. A Parmalat quebrou o contrato ao levar para dia 16, de maneira muito indelicada, pois sequer o presidente colocou em discussão esse custo para os produtores. Mesmo assim, em nome da tentativa de resolver o problema, não estamos muito preocupados com isso", acrescentou Tavares.
Outra iniciativa referem-se ao exame das alternativas de colocação de leite no momento, considerando compradores como a Danone e a Nestlé, em Barra Mansa, a qual é tradicional compradora de leite e será consultada sobre capacidade ociosa que possa absorver o leite das cooperativas.
Uma alternativa difícil, em sua opinião, seria o processamento pelas cooperativas, "pois não têm capacidade para processar subprodutos", fazendo-o em quantidades reduzidas para atender a mercados regionais e municipais.
De acordo com Tavares, o grande mercado - Rio e Grande Rio - consome 80% dos alimentos no Estado, sendo 91% via supermercado. "As cooperativas têm presença muito restrita, que se resume a leite UHT pelas cooperativas de Barra Mansa e Macuco", detalhou, comentando que uma planta de secagem de leite, também em Macuco, que poderia servir como alternativa de escoamento da produção, apresenta restrições cadastrais sérias e já tem causado inadimplência.
Uma possibilidade que Tavares vê é a secagem de leite na Nutricia, "única que tem capacidade para tal, desde que tivéssemos garantia do governo de comprar o leite para merenda ou cesta básica". Como houve licitação para esses programas do governo no ano passado - "da qual a Parmalat nem participou, lamentavelmente" - e o leite vem de outros estados, é algo difícil de acontecer.
O presidente da Faerj disse que discutirá outras alternativas apresentadas pelas cooperativas na reunião e que se preocupa também com os grandes e médios produtores, os quais têm compromissos tanto quanto os pequenos. Estes últimos, conforme diagnóstico da Faerj em parceria com o Sebrae, revelou que 80% dos associados das cooperativas são pequenos ou em regime de economia familiar. O Rio produz 483 milhões de litros ao ano (1,32 milhão por dia).
"A Parmalat, lamentavelmente, errou ao deixar de pagar as cooperativas, que prestam um serviço inestimável de organizar essas produções e uma função social", lançou Tavares.
Fonte: Mirna Tonus, da Equipe Milkpoint
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