"É mais uma prova da versatilidade da raça Girolando", comemora o superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, zootecnista Celso Menezes. A entidade tem sede em Uberaba (MG), berço do surgimento da raça que traz é a a somatória do Holandês (produção de leite) e do Gir (rusticidade). Hoje, a Girolando responde por cerca de 80% da produção da pecuária leiteira tropical brasileira. "Muitas vezes, a gente costuma dizer que a Girolando é a supermãe tropical. É a barriga de aluguel que os pesquisadores e técnicos gostam de usar como receptora, pela garantia de uma gestação de sucesso --sem problema de distocia de parto-- e que sempre precisa do auxílio de um veterinário ou de um técnico para fazer uma vaca parir", acrescenta Menezes. Atualmente, a Associação conta com mais de 1 milhão de animais da raça registrados em todo o País.
Com a docilidade de uma Girolando nasceu a primeira cópia idêntica de um clone na América Latina. A bezerra da raça simental "Vitoriosa da Embrapa", nascida em Brasília no último dia 5 de fevereiro, surgiu a partir de células isoladas de um pedaço da orelha da vaca "Vitória", o primeiro clone bovino do Brasil, parida em 2001. Estudos de identidade genética feitos pela empresa Genomax comprovam que "Vitoriosa" é realmente um clone do clone.
A bezerrinha resulta de um experimento desenvolvido nos laboratórios de reprodução animal da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. "Vitoriosa da Embrapa" também é parte da tese de doutorado em Biologia Molecular da pesquisadora Lílian Iguma na Universidade de Brasília (UnB).
Nesse experimento, foram produzidos 35 embriões e transferidos para 17 receptoras, as chamadas 'mães de aluguel'. No caso da "Vitoriosa da Embrapa", a 'mãe de aluguel' é uma vaca Girolando. Ela foi escolhida como receptora por ser um animal dócil, com boa habilidade materna e por ser boa produtora de leite. Às 13 horas do último dia 5 de fevereiro, após 293 dias de gestação no Campo Experimental Sucupira, uma das receptoras pariu a nova bezerrinha. Desde o nascimento "Vitoriosa" tem apresentado um crescimento normal, com o monitoramento dos aspectos clínicos, hematológicos e bioquímicos feito pela equipe da Embrapa e do Hospital Veterinário da UnB.
"É um novo marco para a história da ciência no Brasil, mais uma vitória científica da genética animal desenvolvida pelos pesquisadores da Embrapa", comemora o ministro Roberto Rodrigues. "Isso coloca o Brasil na vanguarda da biotecnologia, assim como já tínhamos feito com o seqüenciamento genômico da doença dos laranjais". Em 2002, uma rede de 160 pesquisadores e 34 laboratórios financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) mapeou os 2.700 genes da Xylela fastidiosa, doença causadora do "amarelinho".
As pesquisas amplificam estudos de biologia básica, biomedicina e transgenia, que podem levar ao nascimento de animais resistentes a doenças e parasitas, além de animais produtores de fármacos. Rumpf argumenta que os trabalhos auxiliam no aperfeiçoamento das características produtivas inerentes aos bovinos, como o aumento de algumas proteínas do leite que levam ao maior rendimento na produção de queijo.
Segundo o pesquisador Rodolfo Rumpf, coordenador dos experimentos em transferência nuclear da Embrapa, o interesse da Empresa pelas pesquisas relacionadas à transferência nuclear deve-se às suas importantes aplicações potenciais em diversas áreas associadas ou não à engenharia genética, como, por exemplo, a conservação de animais ameaçados de extinção e a multiplicação de animais de elevado valor genético. Além disso, encontra ampla aplicação em estudos de biologia básica, biomedicina e transgenia, que podem levar à obtenção de animais resistentes a doenças e parasitas e animais produtores de fármacos, bem como otimizar características produtivas inerentes aos bovinos, a exemplo do aumento de algumas proteínas do leite que levam ao maior rendimento na produção de queijo.

