Edimilson Vilela: a assistência técnica como ferramenta para desenvolvimento do setor leiteiro

Publicado por: MilkPoint

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Edimilson Vilela é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em 1970, tendo realizado posteriormente mestrado em Nutrição Animal e Pastagens pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba-SP.

Foi Pesquisador Científico do Instituto Biológico da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo de 1971 a 1972; foi Pesquisador Científico da Coordenação de Pesquisa da Secretaria da Agricultura do Estado de Goiás de 1972 a 1975; foi Pesquisador Científico da Empresa Goiana de Pesquisa Agropecuária - EMGOPA, de 1975 a 1982; foi Gerente de Desenvolvimento da Produção Leiteira da Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo ( Ex - Leite Paulista ), de 1982 a 1996 e foi Diretor de Política Leiteira da Parmalat Brasil SA Indústria de Alimentos, de 1996 a 2003.

Além de produtor de leite na Região do Vale do Paraíba (SP) desde 1990, com produção diária de 1700 litros, Edimilson Vilela é diretor da recém-fundada Vilgon Consultoria e Projetos Agropecuários Ltda, através da qual pretende colocar em prática toda sua experiência de mais de 30 anos na área de informação e orientação em transferência e difusão de tecnologia na produção de leite.

Em entrevista exclusiva ao MilkPoint, Edimilson Vilela expõe sua visão a respeito dos níveis de produtividade da pecuária de leite e do papel da assistência técnica como ferramenta para desenvolvimento do setor no atual momento do mercado.


MilkPoint: Uma constatação, há muito tempo comentada, é que apesar de toda informação disponível, os índices de produtividade de leite no Brasil avançam lentamente e ainda estão muito aquém do potencial. Por que?

EV: Para se estabelecer de forma sustentável, qualquer atividade necessita de planejamento e controle. o leite não é diferente. O que ocorreu com a avicultura, a soja, a suinocultura, entre outros setores do agronegócio, tem um efeito retardado na atividade leiteira, que possui um número expressivo de adeptos, sendo praticada em todos os cantos do país. Possuidor de variações marcantes de fatores econômicos, climáticos, políticos, topográficos, culturais entre outros, o setor leiteiro exige planejamento estratégico para que dentro de cada situação, a melhor estratégia seja definida.

A tecnologia de produção disponibilizada no Brasil, através de instituicões de pesquisa/universidades, oferece soluções factíveis para a atividade, com resultados econômicos altamente competitivos no cenário mundial. existe uma imensa distância entre o que é gerado nos centros de pesquisa e o que é efetivamente utilizado pelos produtores.

Existe nas empresas do setor lácteo do Brasil, em geral, uma escassez de programas objetivos de transferência de tecnologia aos produtores e uma falta de empresas de consultoria, com conhecimento e vivência nessa área, que atuem em nível institucional focando a viabilidade econômica da atividade.

A presença desses programas e empresas que realizem com coerência a difusão e a transferência das tecnologias disponíveis é imperativo no processo de modernização da atividade, adequando os sistemas de produção à realidade sócio-econômica e o mercado, cada vez mais competitivo e voraz.

Os estudos de renomados organismos internacionais,como a unesco, indicam que o desenvolvimento se consegue com educação e com o uso de tecnologia.

MKP: Ligada à questão acima: Como sensibilizar o produtor sobre a necessidade de mudar?

EV: A aceleração econômica mundial dá o recado: Decodifica-me ou devoro-te. não existe forma de sensibilizar um empresário, se não mostrando os resultados da sua atividade, analisando o negócio em relação ao mercado. uma empresa, para existir e se perpetuar, necessita de resultados. ninguém muda ou investe em um negócio para perder dinheiro.

MKP: O mercado atual é altamente volátil e incerto. Isso também não contribui para que o produtor tenha dificuldade em se planejar e aplicar tecnologia?

EV: O mercado volátil é um desafio que somente é corrigido com muito planejamento. é necessário planejar e ficar ininterruptamente plugado ao mercado para realizar mudanças frente ao atual ambiente. O fato de o mercado ter essas características reforça a necessidade de utilização de tecnologia, reduzindo a vulnerabilidade. uma empresa que controla adequadamente os seus custos sofre menos estas oscilações.

MKP: Ainda com relação a esse assunto, a intensificação e aplicação de tecnologia aumentam o risco do produtor?

EV: A tecnologia aplicada de forma correta é uma ferramenta que possibilita diminuir os riscos, já que é o resultado científico de algo que foi pesquisado e materializado, visando atender a uma dada necessidade. a definicão da melhor tecnologia a ser utilizada em determinada situação é o grande desafio, pois o ótimo técnico nem sempre está próximo do ótimo econômico. É aí que deve atuar uma consultoria e uma equipe de assistência técnica com sólidos conhecimentos em sistemas de producão, que através de uma análise criteriosa do macroambiente identifica pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades, gerando parâmetros que darão sustentacão ao planejamento proposto.

Com relação ao processo de intensificação, onde se busca otimizar a utilização dos fatores de produção de forma a tornar-se competitivo, é vital que se tenha domínio tecnológico, pois neste caso é como dirigir um carro explorando ao máximo a sua velocidade, onde, ao dominar os controles, você busca os benefícios sem maiores riscos, mas buscar a alta velocidade sem o domínio e controle da máquina, pode ser mortal.

MKP: Todos sabem das dificuldades verificadas pelo sistema oficial de extensão, como a falta de recursos e de estímulo ao trabalho. por outro lado, especialmente no setor leiteiro, muitos profissionais trabalham hoje com gado de corte. A maior parte dos laticínios desativou ou reduziu os profissionais ligados a extensão. a pergunta é: Nesse cenário vamos dar o salto de produtividade necessário?

EV: Com a atual estrutura, o salto, simplesmente, não vai existir. existirão sim, passos lentos. É necessário estabelecer um mecanismo onde o governo realize junto às indústrias e cooperativas uma forma destas assistirem aos produtores, seja através de incentivos fiscais, ou seja, através de conceder empréstimos a estas empresas, vinculadas à prestação de serviços aos produtores. A lei federal 10.637 de 30.12.2002 permite, através dos artigos 39 a 42, que as pessoas jurídicas deduzam do lucro líquido, na determinação do lucro real e da base de cálculo da csll, as despesas operacionais relativas aos dispêndios realizados com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica de produto.

Amparadas por essa lei empresas de cigarro, por exemplo, abatem do imposto de renda todas as despesas com pesquisas feitas para obtenção de cigarros com teores mais baixos de alcatrão. não seria justo as empresas do setor lácteo, que trabalham com um alimento essencial para as pessoas, terem o mesmo tipo de beneficio fiscal, se elas promoverem o desenvolvimento do produtor, através de programas de transferência de tecnologia aos mesmos?

Ações como essa permitiriam que governo e empresas pudessem praticar um pouco de responsabilidade social e serem realmente colaboradores para o desenvolvimento deste país, saindo de uma política transacional com os produtores, buscando uma política de relacionamento.

MKP: Qual a importância da assistência técnica para o brasil ter qualidade para exportar?

EV: Nós temos um grande desafio pela frente. Exportar é a palavra da ordem, pois através da exportação o país busca o equilíbrio para a atividade, diminuindo os extremos de preços e ofertas. Porém para que nosso produto seja reconhecido de fato, ele necessita estar de acordo com os padrões internacionais, e ele não está.

Nossos produtores sentem a falta de informação técnica necessária para a "educação da qualidade". Enquanto as empresas, apenas realizarem a compra oportunista e o pagamento da matéria-prima, sem auxiliar, verdadeiramente, com relevância os produtores, não vamos ter matéria-prima de qualidade. muitas empresas estabeleceram programas de pagamento por qualidade, credenciaram-se em laboratórios para realizarem as análises necessárias, mas esqueceram-se do principal, que é oferecer aos produtores programas efetivos de desenvolvimento e crescimento sustentável.

É uma grande falha querer disponibilizar um produto de excelência para o mercado, utilizando matéria-prima fora de conformidade por falta de informação.

MKP: Qual é a proposta de trabalho da Vilgon ?

EV: A missão da Vilgon Consultoria é atender instituições públicas, privadas e empresas da cadeia láctea oferecendo uma rede de tecnologias e informações ao segmento produtor, numa relação harmoniosa com os indivíduos impactados, respeitando e explorando as características do ambiente a ser trabalhado, dentro de uma lógica financeira.

A Vilgon tem como objetivo estratégico, transferir e difundir as tecnologias na cadeia láctea, estabelecendo as mais rentáveis e sustentáveis, de acordo com as diversidades e peculiaridades da bacia leiteira em questão, criando vantagens competitivas ao setor lácteo, abrindo oportunidades para o desenvolvimento do "negócio" em foco.

  • A EMPRESAS DO SETOR INDUSTRIAL LÁCTEO

    • Desenvolvimento da bacia leiteira;

    • Programa de qualidade;

    • Quebra de sazonalidade;

    • Desenvolvimento gerencial;

    • Alinhamento conceitual e treinamento da equipe;

    • Fidelização dos clientes através de serviços e valores;

    • Recrutamento, seleção e treinamento de profissionais a serem utilizados em programas de transferência e difusão de tecnologia aos produtores;

    • Programa de viagens técnicas seletivas para difusão tecnológica;

    • Disponibilização de mensagens eletrônicas;

  • A GOVERNO E INSTITUIÇÕES

    • Alinhamento conceitual e treinamento de equipes;

    • Desenvolvimento sustentável de projetos e assentamentos ligados à pecuária leiteira;

    • Estudo da viabilidade de bacias leiteiras;

    • Disponibilização de informações junto a instituições financeiras para liberação de créditos utilizados em projetos ligados a atividade leiteira;

    • Recrutamento, seleção e treinamento de profissionais a serem utilizados em programas de transferência e difusão de tecnologia aos produtores;

    • Programa de viagens técnicas seletivas para difusão tecnológica;

    • Organização de viagens internacionais para visita a instituições e fazendas que possam ter tecnologias de grande interesse para os sistemas produtivos em questão;

    • Disponibilização de mensagens eletrônicas;

  • PRODUTORES

    • Elaboração e implantação de projetos técnicos;

    • Visitas técnicas em benchmark;

    • Treinamento de mão-de-obra;

    • Programa de qualidade;

    • Controle de custos;

    • Disponibilização de mensagens eletrônicas;

  • EMPRESAS DE INSUMOS E EQUIPAMENTOS AGROPECUÁRIOS

    • Alinhamento conceitual e treinamento de equipes;

    • Disponibilização de mensagens eletrônicas;

  • EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO

    • Entrevistas;

    • Elaboração de reportagens;

    • Disponibilização de mensagens eletrônicas
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Sérgio Bustamante
SÉRGIO BUSTAMANTE

CRISTINA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/04/2004

É muito gratificante saber que o nosso amigo Edimilson continua firme em seus propósitos de melhorar a vida do produtor de leite no Brasil. Um grande abraço, Edimilson e muito sucesso em sua nova empresa.

Porém é frustante ver como o leite informal vem ganhando espaço. Em nossa cidade, Cristina, a maior geradora de ICMS é nossa cooperativa, que vem sofrendo uma concorrência com empresas que não recolhem impostos e muito menos observam os mínimos padrões de qualidade em seus produtos.

E o que se vê é uma inércia para corrigir estes problemas.

Será que ao invés de tantos impostos, não haveria uma maneira de reverter estes para reinvestimento na própria instituição?

Um abraço.
Sérgio Bustamante Abreu
Cooperativa Agropecuária de Cristina ltda.
Carlos Enrique Ferraz
CARLOS ENRIQUE FERRAZ

SANTA HELENA DE GOIÁS - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/04/2004

Parabenizo a forma profissional com que o entrevistado faz a leitura da atividade leiteira, tratando o desenvolvimento através de um processo educacional, envolvendo o governo e empresas dentro de uma lógica financeira sem romantismo e pseudo assistência que hoje impera no país. Falta por parte de todos atitude e responsabilidade em relação à atividade leiteira que está longe de ser comparada com outros segmentos do agronegócio brasileiro. É gratificante saber que existe empresa de consultoria com visão e bagagem, empenhada em desenvolver o setor.
Qual a sua dúvida hoje?