Crise da Parmalat leva pequeno produtor de leite a se organizar

A crise da Parmalat motivou um grupo de cooperativas espalhadas pelo País, que apenas captavam e revendiam o leite, a industrializar o produto, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Em alguns casos, o leite era revendido para a própria Parmalat, em processo de concordata, ou colocado no mercado.

Pelo menos quatro cooperativas iniciaram a produção ou têm planos de produzir leite longa vida (UHT), queijos e produtos lácteos, entre outros itens, como forma de reduzir a dependência de multinacionais e buscar mais lucro. Elas respondem por um volume de captação de 60 milhões de litros de leite por mês. A produção total brasileira é de 1,7 bilhão de litros/mês.

"O problema da Parmalat abriu as portas para as cooperativas, que passaram a conversar mais e a perceber que deveriam estar mais juntas", disse o presidente da Centroleite, que reúne 13 cooperativas do centro-oeste brasileiro, Haroldo Max. Com produção diária de 800 mil litros de leite in natura, a empresa quer industrializar o produto em 2005. Até novembro de 2003, a Centroleite fornecia 1,5 milhão de litros de leite por mês para a Parmalat em Goiás, na fábrica Santa Helena, que fechou em fevereiro.

A Cooperativa Central Oeste Catarinense (Coopercentral), dona da marca Aurora para carnes processadas de suíno e aves, começará a produzir leite UHT dentro de 80 dias. Numa primeira fase, a empresa vai industrializar 20% da produção total de um milhão de litros de leite por dia. "Vamos usar a marca Aurolat para produzir queijos, bebidas lácteas e requeijão, por exemplo", disse o vice-presidente da cooperativa que representa 16 cooperativas, ou 45 mil pequenos produtores, Mário Lanznaster.

Pesquisa da OCB também mostrou que a crise da Parmalat ajudou a criar um movimento de migração de pequenos produtores da iniciativa privada para as cooperativas. Na comparação entre o ano passado e 2002, as cooperativas registraram alta de 14,7% no número de fornecedores, em detrimento do recuo apurado pelas empresas nacionais (-5,1%) e multinacionais (-10,2%).

Em Barra Mansa, no sul fluminense, foi inaugurada recentemente uma unidade industrial com capacidade para produzir 250 mil litros diários de leite UHT, na beira da Rodovia Presidente Dutra. A informação é do presidente da Federação de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro (Faerj), Rodolfo Tavares.

Em Itaperuna, no noroeste fluminense, até o fim deste ano a cooperativa local vai investir R$ 5 milhões para comprar equipamento capaz de processar 30 mil litros de leite UHT por dia. O presidente da Cooperativa Agropecuária de Itaperuna Ltda (Capil), Moacir Seródio, disse que uma das alternativas será procurar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para buscar um financiamento.

Fonte: O Estado de S.Paulo (Alberto Komatsu), adaptado por Equipe MilkPoint