A produção de leite e seus subprodutos está passando por outro período tempestuoso e o aumento dos custos de produção, em um contexto de inflação implacável, está causando preocupação entre os participantes desse segmento na Argentina.
Nesse sentido, as fazendas leiteiras acabam de encerrar um de seus piores anos e a perspectiva para 2024 é de uma grande crise se a macroeconomia não se ajustar e desacelerar o aumento dos insumos e do valor da mão de obra.
Ao mesmo tempo, as empresas enfrentam uma discussão salarial que ganha cada vez mais força e não faltam conflitos internos devido a variáveis como a intervenção sindical e uma crise financeira que também é consequência do declínio comercial que o setor vem sofrendo há pelo menos uma década. Nesse sentido, La Lácteo e SanCor, com suas respectivas nuances, são dois exemplos emblemáticos das vicissitudes que agitam as águas no campo da produção de lácteos da Argentina.
As fazendas leiteiras acabaram de encerrar 2023 com um dos piores resultados dos últimos tempos. De acordo com um relatório do Observatório da Cadeia Láctea Argentina (OCLA), as fazendas leiteiras fecharam o ano com uma perda total de 62,068 bilhões de pesos (US$ 74,67 milhões).
A organização destacou que esse indicador negativo foi ainda mais grave "do que o de toda a cadeia como um todo, de 55,772 bilhões de pesos (US$ 67 milhões), e quase sete vezes maior do que os 8,684 bilhões de pesos (US$ 10,45 milhões) que todas as fazendas leiteiras mais a indústria perderam em dezembro de 2022".
Com relação a esses números, a Câmara de Produtores de Leite da Bacia Ocidental de Buenos Aires (CAPROLECOBA) disse que os números de janeiro também não foram positivos, portanto, o início do ano é mais do que complicado para os produtores de leite.
"Devido aos fatores adversos e situações sofridas em 2023, a produção fechou o ano com 11,327 bilhões de litros, 2% abaixo de 2022, com um dezembro que caiu 7,7% em relação ao mês anterior. Assim, neste janeiro estamos começando claramente abaixo do ano passado, e ainda há dois meses de acentuada queda sazonal", disse a entidade, em relatório acessado pelo iProfesional.
A expectativa, concordam tanto a OCLA quanto a CAPROLECOBA, está nas possibilidades de aumento das exportações. Obviamente, isso dependerá muito das condições domésticas que permitam um aumento nos volumes de produção, um aspecto que até agora tem estado distante devido ao aumento acelerado dos insumos e dos custos operacionais.
A crise na La Lácteo
Um exemplo de como os resultados ruins do setor, combinados com uma crise que vem arrastando o setor lácteos argentino há anos, complicam a sobrevivência de vários atores é a crise pela qual a empresa La Lácteo, de Córdoba, está passando, com a produção suspensa e salários atrasados.
A empresa parou de receber material de embalagem devido a dívidas com seus fornecedores e encerrou janeiro com um conflito em grande escala com o sindicato ATILRA, que está exigindo o pagamento de salários integrais. O sindicato mantém um plano ativo para reter o trabalho, o que, nos últimos dias, resultou no descarte de pelo menos 70.000 litros de leite que não foram processados.
Fontes próximas à empresa estimaram as perdas decorrentes dessa ação em 800 milhões. de pesos (US$ 962 mil). A La Lácteo está em processo de insolvência desde 2018 e a continuidade da empresa também está em risco devido a dívidas de até 70 milhões de pesos (US$ 84,2 mil) com os produtores de leite que a abastecem.
Em uma declaração recente, a administração da empresa reconheceu que não conseguiu pagar os salários devido à "queda nas vendas e cobranças". Acrescentou que, devido às medidas de força que a ATILRA mantém em vigor, a empresa chegou a uma "absoluta falta de recursos financeiros, ainda mais quando não tem acesso a crédito bancário desde 2018".
SanCor e um conflito sem fim
Do lado da SanCor, o conflito entre a alta administração da empresa e o sindicato não termina e o horizonte comercial da empresa é uma verdadeira incerteza. Após o fracasso da conciliação obrigatória estabelecida pelo Ministério do Capital Humano, o sindicato voltou a ativar uma série de medidas de força baseadas em retenções de tarefas que, no final de janeiro, resultaram na perda de milhares de produtos, como o leite com chocolate.
O sindicato está exigindo o pagamento de termos salariais e ajustes de acordo com o contexto de inflação generalizada. Do lado da empresa, seus diretores acusam a ATILRA de promover um boicote com base na recusa em avançar com uma proposta de trust que, entre outros aspectos, promovia a entrada de investidores externos na administração da empresa.
Apesar dos esforços do governo para desbloquear um conflito que se arrasta há quase três meses, o fato é que o sindicato mantém uma medida de "retenção de débitos trabalhistas por falta de pagamento de salários", que teve início na tarde de 26 de janeiro.
A empresa registrou perdas de 4,5 bilhões de pesos (US$ 5,4 milhões) desde o início da disputa com o sindicato. Por outro lado, o sindicato disse em um comunicado recente que a empresa tem um passivo de US$ 379,4 milhões "e um conselho de administração em decadência, em recuo e marcado por conflitos entre seus membros".
As informações são do iProfesional, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.