A média, esse número mágico que parece trazer uma sensação de segurança, é um velho amigo dos produtores. Ela sintetiza, em um único valor, toda a complexidade de uma safra, de um rebanho ou de uma colheita. Mas o dilema da média é que ela pode ser enganadora, como um espelho que só reflete o que queremos ver.
Produtores gostam da média porque ela é simples, direta e, muitas vezes, reconfortante. É fácil olhar para ela e pensar: "Estamos na média, então estamos bem." É como uma trilha bem-marcada em uma floresta densa, onde se pode caminhar sem grandes surpresas. Mas o que muitos não percebem é que essa trilha, por vezes, pode esconder vales profundos ou picos íngremes — os desvios. Esses desvios são as variações que tornam a média apenas uma parte da história, e não a história completa.
Para ilustrar essa realidade, vamos analisar dois rebanhos leiteiros com médias de produção idênticas, mas com desvios completamente diferentes. Ambos os rebanhos têm 100 vacas, mas enquanto o Rebanho 1 apresenta uma produção média diária de 30 litros por vaca com um desvio de 10 litros (variando entre 20 e 40 litros), o Rebanho 2 tem um desvio de 20 litros (variando entre 10 e 50 litros).
Primeiramente, consideremos o custo variável de produção de R$ 2,00 por litro de leite e uma receita de R$ 2,30 por litro. Com essas premissas, a lucratividade média, a princípio, é igual para ambos os rebanhos. No entanto, analisando individualmente o rebanho, começamos a ver uma diferença significativa na lucratividade, devido às diferenças nos desvios de produção.
O Rebanho 1, com menor variabilidade na produção, apresentou uma distribuição de lucros mais equilibrada entre os grupos de produção, resultando em um lucro positivo consistente para cada grupo.
Já o Rebanho 2, com maior variabilidade, teve grupos como o de produção de 10 litros/dia que, devido ao baixo volume de produção, não conseguiram cobrir nem mesmo os custos variáveis, resultando em perdas.
Isso evidencia que, apesar de alguns grupos de vacas altamente produtivas compensarem as perdas, a variabilidade acentuada introduz um risco significativo de prejuízos em determinados grupos.
Esta análise destaca a importância de considerar não apenas a média de produção, mas também os desvios e a variabilidade no rebanho. A eficiência econômica de um rebanho leiteiro não se resume apenas ao volume total de leite produzido, mas também à consistência e à gestão dos custos, especialmente os fixos. Rebanhos com menor variabilidade tendem a ser mais lucrativos e previsíveis, o que é essencial para a sustentabilidade financeira da produção.
O dilema da média, portanto, não deve ser ignorado. Produtores que entendem e gerenciam a variabilidade têm uma vantagem competitiva.
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