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Fibra efetiva para vacas leiteiras: aspectos práticos - Parte II

POR JÚLIA D. LIMA DIAS

E MARINA A. CAMARGO DANÉS

MARINA A. CAMARGO DANÉS

EM 12/02/2018

6 MIN DE LEITURA

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No artigo anterior, relembramos o conceito de fibra fisicamente efetiva e vimos como mensurar a quantidade de FDN fisicamente efetiva de forragens, além da aplicação dessas informações em formulação de dietas. Nessa segunda parte, discutiremos sobre a importância da colheita na efetividade da fibra, principalmente de silagens, e as fontes de fibra efetiva que podem ser utilizadas em fazendas.

Processamento da silagem e fibra fisicamente efetiva

A silagem de milho é a principal forragem utilizada para gado de leite confinado ou semi-confinado no Brasil. É um alimento rico em energia, encontrada no amido dos grãos de milho e na fração digestível do FDN. Os grãos de milho representam 45% da MS e mais de 50% da energia contida na silagem.

A grande maioria do milho para silagem no Brasil é colhida por colhedoras simples, tracionadas por trator, com capacidade de colher 1, 2 ou 3 linhas de milho, sem sistema de rolos para esmagar os grãos de milho durante a picagem, conhecido como cracker. Nos últimos anos, no entanto, tem crescido a utilização de colhedoras automotrizes, que podem colher de 4 a 12 linhas e são equipadas com cracker. A quebra do pericarpo dos grãos de milho é essencial para a digestão do amido, especialmente no rúmen, onde fornece energia para o crescimento microbiano. Grãos de milho que escapam inteiros na picagem e são fornecidos aos animais passam pouco digeridos pelo trato digestivo e podem ser observados nas fezes, o que representa grande perda de energia da silagem que poderia ser aproveitada para produção.

Quando a colheita é realizada por colhedoras simples, normalmente o tamanho de corte deve ser pequeno, para provocar quebra nos grãos de milho. A picagem fina pode comprometer o conteúdo de FDNfe da silagem, por reduzir muito o tamanho da parte vegetativa da planta. Em dietas formuladas exclusivamente com silagem de milho como fonte de forragem, o fornecimento da quantidade adequada de FDNfe pode ser prejudicado. Uma solução para esse problema é a utilização de colhedoras simples equipadas com quebrador de grãos, o que permite corte da silagem em tamanho maior ainda mantendo o dano aos grãos.

Esse tipo de equipamento foi testado em experimento recente realizado na Universidade Federal de Lavras, comparando dois tamanhos de corte (3 e 8,5 mm) e o efeito do quebrador sobre o processamento dos grãos. Com o tamanho de corte de 8,5 mm e o uso do quebrador foi possível aumentar o tamanho de partículas da forragem colhida sem prejuízo no processamento dos grãos. A proporção de silagem colhida com tamanho de partículas > 8 mm aumentou de 61,8% da matéria natural (MN) com corte de 3 mm para 78,4% da MN com corte de 8 mm (Dias Junior, 2016, tese de doutorado, DZO/UFLA).

Quando a silagem é colhida por automotriz, o problema da quebra de grãos é minimizado, dado que estas são equipadas com cracker. No entanto, o ajuste dos rolos deve ser ideal, sendo recomendado que a distância entre os rolos seja de 1 mm, e o estado de conservação da máquina e sua manutenção sejam bem feitos. As colhedoras automotrizes permitem picar a planta de milho em partículas de até 24 mm com esmagamento dos grãos. Assim, a quantidade de FDNfe é preservada sem prejuízo na digestibilidade do amido dos grãos. 

Em todos os casos, a digestibilidade tanto da fibra quanto do amido dependem do ponto de colheita. Quanto mais avançado o estado de maturação da planta colhida, menor será a digestibilidade da FDN e mais difícil será a quebra dos grãos. Porém, se colhida muito precocemente, a silagem terá teor de amido reduzido e a fermentação prejudicada, em consequência de formação de ácido butírico na silagem muito úmida, o que reduz o consumo pelos animais. Quando se utiliza colhedora automotriz, pode-se obter boa silagem com até 38% de MS, dado que essas máquinas possibilitam a quebra dos grãos mesmo mais maduros. Há ganho em teor de amido na silagem, comparado com planta colhida mais verde.

Ainda, quando se colhe com máquina automotriz atenção especial deve ser dada à carga de peso no silo para compactação. Essas máquinas colhem grande quantidade de forragem em pouco tempo, o que exige máquinas pesadas na compactação do silo. Nesse Radar Técnico há informações sobre como calcular o peso das máquinas para compactação adequada.

Em termos práticos, para colhedoras simples é recomendado colher quando a planta tiver entre 30 e 32% de MS ou dois terços do grão leitoso. Para colhedora automotriz o ideal é de 35% a 38 % de MS ou um terço do grão leitoso.

Fontes de fibra fisicamente efetiva

Quando a silagem de milho disponível é finamente picada e não é possível atender à exigência de FDNfe, torna-se necessário adicionar outra fonte de fibra fisicamente efetiva à dieta.

Observe o exemplo:

- Silagem de milho:
- Teor de MS: 31.7%
- Teor de FDN: 49%
- Partículas acima de 8 mm: 59%
- Consumo de FDN de silagem de milho estimado: 5,39 kg/dia
- Consumo de FDN > 8mm estimado: 3,24 kg / dia
- Consumo de MS esperado: 24,46 kg / dia
- Teor de FDN > 8 mm na dieta formulada: 3,24 / 24,46 = 13,2%

Quando a dieta é formulada com essa silagem o teor de FDNfe foi de 13,2%, abaixo do mínimo de 15%. Essa é uma dieta que, dependendo da quantidade de concentrados e da velocidade de fermentação dos carboidratos, oferece grande risco de acidose.

Para torná-la mais segura, principalmente para vacas de alta produção, é necessário adicionar uma fonte de fibra longa. Agora, considere uma dieta formulada com a silagem de milho do exemplo anterior e acrescida de silagem de aveia:

- Silagem de aveia:
- Teor de MS: 36%
- Teor de FDN 53,5%
- Partículas acima de 8 mm: 83%
- Consumo de FDN vindo de silagem de milho: 3,67 kg / dia
- Consumo de FDN vindo de silagem de aveia: 2,31 kg / dia
- Consumo de FDN > 8mm vindo de silagem de milho: 2,16 kg / dia
- Consumo de FDN > 8mm vindo da silagem de aveia: 1,91 kg / dia
- Consumo de FDN > 8mm total: 1,91 + 2,16 = 4,07 kg / dia
- Consumo de MS esperado: 24,46 kg / dia
- Teor de FDN > 8 mm na dieta formulada: 4,07 / 24,46 = 16,6%

A inclusão da silagem de aveia tornou a dieta mais segura, com 16,6% de FDNfe. A fonte de fibra longa pode ser produzida na fazenda, como silagem de gramíneas, ou adquirida, como fenos e pré-secados. A opção vai depender da disponibilidade de recursos de cada propriedade. O caroço de algodão é um subproduto concentrado particular, pois sua fibra é fisicamente efetiva e deve ser considerada. No entanto, vale lembrar que a inclusão de caroço de algodão em dietas para vacas é limitada pelo alto teor de óleo desse alimento.

É importante salientar que a formulação de dietas para vacas leiteiras leva em consideração diversos aspectos dos animais, do sistema de produção e dos alimentos disponíveis. O trabalho do nutricionista é complexo e exige conhecimento que vai muito além da exigência de fibra. Contar com um nutricionista como consultor da propriedade é sempre recomendado para produzir leite com eficiência técnica e econômica.

Em resumo:

• Vacas leiteiras exigem dietas com carboidratos altamente fermentáveis e fibra de alta qualidade como principais fontes de energia.
• Fibra fisicamente efetiva é necessária para manter a função ruminal e saúde de vacas em lactação.
• O processamento da forragem na colheita é determinante para a quantidade e qualidade da fibra fisicamente efetiva que o alimento fornecerá.
• A quantidade de fibra fisicamente efetiva das forragens pode ser avaliada na fazenda, usando o separador de partículas da Penn State e essa informação aplicada à formulação da dieta.


Referências bibliográficas

Dias Junior, G. S. Processamento de silagem de milho e suplementação de vacas leiteiras com enzimas fibrolíticas. Tese de doutorado. Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal de Lavras (UFLA). 
 

JÚLIA D. LIMA DIAS

Mestranda em nutrição de ruminantes no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras.
Experiente em consultoria técnica e gerencial de fazendas leiteiras no sul de Minas Gerais.

MARINA A. CAMARGO DANÉS

Professora do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras. Engenheira Agrônoma e mestre pela ESALQ/USP. PhD em Dairy Science pela Universidade de Wisconsin-Madison, WI, EUA. www.marinadanes.com

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ANTÔNIO VICENTE FRANÇA

GOIÂNIA - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 10/11/2023

Parabéns! Assunto importante, linguagem simples e direta... ! Penso que isto reflete a verdadeira função das Universidades de uma nação! Assim, evita gastos e mais gastos com pesquisas vazias, par não dizer inúteis..! Por isto que a Universidade de Lavras é tão reconhecida...!
ORLANDO BOHRER

IJUÍ - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/02/2018

Olá,

Assunto sempre interessante e oportuno. Gostaria de saber qual a base que levou a um consumo de, um indivíduo vaca , a mais 24 kg de MS por dia. E por que da escolha da silagem de Aveia para tentar corrigir o consumo efetivo de FDN ?
THIAGO DINIZ

EM 15/06/2017

Olá, Júlia e Marina!



Parabéns pelo estudo que conseguiu agregar teoria e prática, algo incomum de se ver nesse tema.



Me ocorreu uma dúvida: que vaca é essa que exigiu consumo de MS superior a 24 kg/dia?
ALAN DE SANTANA PEREIRA

PASSOS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/12/2016

Parabéns as autoras pelo artigo.

Gostaria de acrescentar um breve comentário a respeito do tema. E muito corriqueiro nos depararmos com situações descritas como a utilizada no exemplo do artigo, silagens de milho como fonte única de forragem sem tamanho de partícula  para conseguirmos o conteúdo de FNDfe necessário para tornarmos as dietas "seguras", e este problema ainda se agrava acho na maior parte das fazendas do estado onde as autoras se encontram, Minas Gerais, pois a maior parte das  fazendas possuem vagões horizontais com sistema de auto carregamento e que através de suas fresas conseguem diminuir ainda mais o tamanho médio de partícula, já realizei algumas vezes a mensuração deste impacto utilizando da Penn state  e a porcentagem de partículas > 8mm são reduzidas em torno de 30% o que tornaria a dieta descrita no artigo ainda mais deficiente em FDNfe e precisaríamos de uma inclusão ainda maior de uma segunda fonte de fibra fisicamente efetiva. Assim muito importante nossa atenção para o que realmente esta chegando na boca da vaca e o entendimento do assunto muito bem descrito neste artigo se faz necessário para garantirmos produtividade e longevidade de nossas vacas. Um Abraço!  
HELDER DE ARRUDA CÓRDOVA

CASTRO - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 19/12/2016

Boa tarde,



Poderiam detalhar melhor os valores estimados para os ítens:

- Consumo de FDN de silagem de milho estimado: 5,39 kg/dia

- Consumo de FDN > 8mm estimado: 3,24 kg / dia

- Consumo de MS esperado: 24,46 kg / dia.



Antecipadamente agradeço.

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