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Acidose ruminal subaguda e inflamação sistêmica em vacas leiteiras

POR JOÃO PEDRO ANDRADE REZENDE

E MARINA A. CAMARGO DANÉS

MARINA A. CAMARGO DANÉS

EM 13/09/2023

4 MIN DE LEITURA

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Vacas leiteiras possuem altas exigências nutricionais, principalmente no início e meio de lactação. Por isso, para atender às exigências de energia e proteína neste período, é preciso fornecer maior quantidade de alimentos concentrados e menor quantidade de forragens. Dietas com alto teor de amido (> 25% na matéria seca – MS) são tipicamente fornecidas para vacas de alta produção, o que aumenta o aporte de energia para o animal e maximiza a síntese de proteína microbiana, mas também aumenta o risco de acidose ruminal subaguda (SARA).

Dietas com alto teor de amido, bem como de outros carboidratos rapidamente degradáveis (pectina e sacarose), causam uma produção acelerada de ácidos graxos de cadeia curta no rúmen, o que, dependendo da capacidade neutralizante (tampão) do ambiente e da velocidade absorção pelo epitélio ruminal, causa SARA. Sendo assim, é necessário balancear as dietas com adequado teor de fibra fisicamente efetiva (FDNfe) para promover mastigação, produção de saliva e motilidade ruminal.

De fato, em uma metanálise publicada recentemente, os teores de amido e FDNfe apareceram como os principais fatores dietéticos correlacionados com a ocorrência de SARA (Khorrami et al. 2021). Como esperado, maiores teores de amido na dieta foram associados a um maior risco de SARA, enquanto maiores teores de FDNfe geraram um menor risco. Nessa mesma metanálise, quando fatores do animal também foram considerados, o consumo de matéria seca (CMS) destacou-se como fator animal mais importante. Quanto maior o CMS, maior o risco desse distúrbio metabólico. Esse destaque ressalta a maior propensão à SARA geralmente observada em vacas de alta produção, as quais naturalmente apresentam maior CMS.

Além dos fatores dietéticos, vários fatores de manejo alimentar também influenciam a ocorrência de SARA em fazendas leiteiras. Dentre esses, destacam-se baixa qualidade de mistura da dieta total (TMR), espaço de cocho limitado, inconsistência nos horários de alimentação e o agrupamento de vacas primíparas com multíparas.

A baixa qualidade de mistura da TMR pode estimular a seleção por ingredientes e/ou tamanho de partículas, levando as vacas a consumirem uma dieta diferente (geralmente com maior teor de amido e menor FDNfe) daquela formulada. Esse problema é agravado em sistemas de alimentação em lote, onde uma má mistura resultará em cada vaca consumindo uma dieta diferente (e desbalanceada), de acordo com o seu comportamento individual e hierarquia dentro do grupo.

No mesmo sentido, um espaço de cocho restrito impede que vacas de posição hierárquica inferior acessem a pista de alimentação junto com as demais (situação ainda mais crítica quando primíparas e multíparas estão juntas). Como resultado, essas vacas tendem a se alimentar vorazmente (ação conhecida como slug feeding) quando conseguem espaço, ingerindo grande quantidade de carboidratos de rápida degradação de uma só vez.

Devido a esses motivos, que são frequentemente observados no campo, a SARA é amplamente encontrada em rebanhos leiteiros. Alguns levantamentos realizados há alguns anos oferecem uma noção da magnitude desse problema, indicando que a prevalência de SARA parece variar de 15 a 30%.

Tabela 1. Prevalência de SARA em fazendas leiteiras.

Prevalência de SARA em fazendas leiteiras.

Tal fato tem grande importância econômica, uma vez que a SARA pode reduzir a produção e teor de gordura (Baumgard et al. 2002) e proteína do leite (Chang et al. 2018). Além disso, esse distúrbio metabólico aumenta o risco de diversas doenças, como deslocamento de abomaso, problemas de casco e abscessos hepáticos.

Mais recentemente, os efeitos sistêmicos da SARA têm sido estudados na literatura. Em uma revisão publicada por Aschenbach et al. (2019), é discutido que os impactos da SARA vão além da redução do pH ruminal, podendo afetar a capacidade de absorção e função de barreira tanto do rúmen quanto do intestino grosso.

Quando a função de barreira do epitélio ruminal falha, toxinas (principalmente histamina e lipopolissacarídeos – LPS) geradas no rúmen e até mesmo bactérias vivas atravessam a barreira e chegam ao fígado através da circulação portal, onde desencadeiam processos inflamatórios. A inflamação local no fígado causa a produção e liberação de citocinas pró-inflamatórias (como IL-1, IL-6, IL-8 e TNF- α) e proteínas de fase aguda (como a haptoglobina) na corrente sanguínea. Isso provoca um estado de inflamação sistêmica, levando ao gasto de energia e aminoácidos que, de outra forma, poderiam ser direcionados para a produção.

Caso uma grande quantidade de amido chegue ao intestino grosso, a acidose também pode acontecer nesse compartimento do trato gastrointestinal (Steele et al., 2016; Pederzolli et al., 2018), de forma simultânea ou não à sua ocorrência no rúmen. Apesar dos trabalhos com intestino grosso ainda serem escassos e não totalmente consistentes, a acidose intestinal também pode desencadear inflamação sistêmica, seguindo um mecanismo semelhante ao proposto para o rúmen.

 

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Referências

ASCHENBACH, J. R. et al. Symposium review: The importance of the ruminal epithelial barrier for a healthy and productive cow. Journal of Dairy Science, v. 102, n. 2, p. 1866-1882, 2019.

BAUMGARD, L. H. et al. Trans-10, cis-12 conjugated linoleic acid decreases lipogenic rates and expression of genes involved in milk lipid synthesis in dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 85, n. 9, p. 2155-2163, 2002.

CHANG, G. et al. Histamine activates inflammatory response and depresses casein synthesis in mammary gland of dairy cows during SARA. BMC Veterinary Research, v. 14, n. 1, p. 1-9, 2018.

KHORRAMI, B. et al. Models to predict the risk of subacute ruminal acidosis in dairy cows based on dietary and cow factors: A meta-analysis. Journal of Dairy Science, v. 104, n. 7, p. 7761-7780, 2021.

PEDERZOLLI, Rae-Leigh A. et al. Effect of ruminal acidosis and short-term low feed intake on indicators of gastrointestinal barrier function in Holstein steers. Journal of Animal Science, v. 96, n. 1, p. 108-125, 2018.

STEELE, M. A. et al. Development and physiology of the rumen and the lower gut: Targets for improving gut health. Journal of Dairy Science, v. 99, n. 6, p. 4955-4966, 2016.

JOÃO PEDRO ANDRADE REZENDE

MARINA A. CAMARGO DANÉS

Professora do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras. Engenheira Agrônoma e mestre pela ESALQ/USP. PhD em Dairy Science pela Universidade de Wisconsin-Madison, WI, EUA. www.marinadanes.com

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