Para otimizar a produção leiteira da vaca de leite na próxima lactação, recomenda-se um período seco médio de aproximadamente 60 dias. Durante esse período, pode-se usar ferramentas para eliminar as infecções intramamárias (IIM) existentes e prevenir novos casos de mastite após a secagem e no período pré-parto. As vacas com mastite subclínica na secagem ou que tiveram um novo caso durante o período seco tem maior risco de mastite clínica após o parto.
O uso de antibióticos na secagem tem sido uma das principais ferramentas de tratamento, com o uso recomendado para todas as vacas em lactação durante as últimas décadas. Porém, o uso imprudente de antimicrobianos pode resultar em resistência bacteriana e gerar um risco de saúde pública. Assim, para racionalizar a utilização e ter um emprego mais consciente dos antimicrobianos, diversos estudos têm avaliado a terapia seletiva de vaca seca, a qual baseia-se em observar alguns critérios específicos para determinar se a vaca está apta ou não para o tratamento de vaca seca. A definição se uma vaca tem ou não mastite no momento da secagem pode ser feita pela cultura microbiológica realizada em laboratório especializado, cultura na fazenda e registro mensal de CCS e do histórico de mastite clínica durante a lactação. A combinação do antibiótico intramamário com selante interno de tetos ou a utilização apenas do selante na secagem das vacas, também pode ser utilizada para reduzir a incidência de IIM no período seco e de mastites clínicas após o parto.
Um estudo recente, realizado a partir de um banco de dados de rebanhos da Áustria, comparou em larga escala os dados da secagem de cerca de 27.700 (31.3%) vacas com antibiótico intramamário e 60.800 (68.7%) vacas sem antibiótico intramamário, em relação à produção de leite, CCS e frequência de mastite na lactação subsequente. As vacas secadas com antibiótico produziram mais leite na lactação anterior à secagem (7.920 kg versus 7.470 kg/305dias), assim como também tiveram maior média de produção de leite no momento da secagem (15,5 kg/dia versus 14,7 kg/dia). A probabilidade de usar o tratamento de vacas seca teve uma correlação linear positiva com o aumento da produção de leite (Figura 1), o que significa que quanto maior a produção de leite da vaca na secagem, maior a chance de uso de tratamento de vaca seca.
Figura 1. Probabilidade do uso de antibióticos na secagem associado com produção diária de leite (Fonte: adaptado de Wittek, 2017)
Alguns fatores como o uso de antibiótico na secagem, produção de leite na lactação anterior a secagem e no momento da secagem, CCS antes da secagem (últimos 3 meses) apresentaram efeitos sobre a produção de leite na lactação seguinte. Dentre estes fatores, o uso de tratamento de vaca seca foi o fator que mais influenciou a produção de leite, sendo que nas vacas tratadas produziram 91kg de leite a mais na lactação seguinte. Esses resultados podem ser um reflexo da maior chance de uso do tratamento de vacas secas nas vacas de maior produção leiteira do que naquelas de menor produção. Assim como na produção de leite, a probabilidade do uso de tratamento de vaca seca também está associada com a CCS na secagem (Figura 2), indicando que é mais provável usar antibióticos em vacas que apresentem aumento da CCS na secagem.
Figura 2. Probabilidade do uso de antibióticos na secagem associado com CCS na secagem; os dados de CCS são apresentados depois da transformação de células/mL em log (Fonte: adaptado de Wittek, 2017)
Além da associação do uso do tratamento de vaca seca com produção de leite e CCS, o estudo também avaliou a relação com a frequência de mastite clínica na lactação anterior e na seguinte. As vacas tratadas com antibiótico na secagem tiveram mais casos clínicos de mastite (9,3%) na lactação anterior do que as vacas não tratadas (6,5%), sendo que essa diferença permaneceu por 90 dias após parto (grupo com antibiótico: 7,9%, grupo não tratado: 4,7%). Vacas que apresentaram um caso de mastite clínica na lactação anterior apresentaram maior frequência de mastite clínica dentro de 90 dias após o parto da lactação subsequente.
Embora os resultados deste estudo tenham sugerido que o uso do tratamento de vaca seca resulta em maior produção de leite e diminuição da CCS na lactação seguinte, provavelmente por aumentar a cura de mastite subclínica, deve-se destacar que os resultados foram obtidos numa situação de excelente saúde do úbere (vacas com CCS média na secagem de aproximadamente 120.000 células/mL).
Fonte: Wittek, et al, J Dairy Sci, v., n., p., 2017 (https://dx.doi.org/10.3168/jds.2017-13385)
* Melina Melo Barcelos é mestranda do Departamento de Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP e pesquisadora do Laboratório Qualileite-FMVZ/USP.