A mastite é uma inflamação da glândula mamária (GM) que geralmente está associada a uma infecção causada por bactérias. Nas primíparas, estas infecções no início da lactação comprometem o desenvolvimento e a saúde da GM, diminuem a produção e qualidade do leite e também aumentam o risco de mastite clínica e descarte das vacas.
Além disso, quando há aumento da contagem de células somáticas (CCS) no pós-parto de primíparas, essa CCS pode permanecer alta ao longo da primeira lactação, acompanhada da menor produção de leite.
A prevalência de quartos mamários infectados em primíparas no pós-parto varia de 18 a 80%, sendo que até 35% das primíparas podem apresentar mastite subclínica. As bactérias que mais causam mastite em primíparas, no pré-parto e pós-parto, pertencem ao grupo de estafilococos não-aureus (ENA); no entanto, Staph. aureus, estreptococos ambientais e coliformes também podem causar mastite em primíparas.
Para o controle de bactérias ambientais e contagiosas, as principais medidas têm pouca ação no controle da mastite em primíparas.
Da maioria dos estudos desenvolvidos até o momento que consideraram a presença de mastite no periparto, poucos avaliaram a CCS individual dos quartos mamários das primíparas. Além disso, estudos que associem a ocorrência da infecção com a CCS dos quartos mamários, assim como o momento exato da infecção dos úberes e os fatores de risco envolvidos são necessários.
Assim, recentemente, pesquisadores da Alemanha e da Dinamarca realizaram um estudo para determinar o período mais provável de início da mastite em primíparas e os fatores de risco da mastite em primíparas no início da lactação.
Para tanto, foram estudadas 279 primíparas, entre 23 e 32 meses de idade, clinicamente saudáveis de 3 rebanhos leiteiros. Encerrada a fase de colostro, amostras de leite dos quartos mamários foram obtidas para cultura microbiológica e CCS, em dois momentos: a) 2 a 4 dias após o parto; b) 14 a 20 dias após o parto.
Além disso, os animais foram monitorados para verificar a associação entre a ocorrência de infecção intramamária até o 17º dia de lactação e o aparecimento de mastite clínica até o 100º dia.
Adicionalmente, foram feitos registros sobre dados relacionados à gestão dos rebanhos e visitas semanais para avaliação da ordenha, higiene das primíparas e do ambiente. Os potenciais fatores de risco estudados para ocorrência de mastite nas primíparas:
- Escore de condição corporal: entre 8 semanas antes e 14-20 dias após o parto;
- Facilidade do parto;
- Escore de higiene de úberes e pernas; no período entre 8 semanas antes do parto e 14-20 dias após o parto;
- Cetose pós-parto;
- Claudicação: de 8 semanas antes e 14-20 dias após o parto;
- Edema de úbere.
Quanto à ocorrência de mastite nos quartos mamários, foram avaliados como potenciais fatores de risco após o parto (14-20 dias de lactação):
- Higiene dos tetos;
- Escore da extremidade dos tetos (hiperqueratose).
As infecções intramamárias foram classificadas como nova ou persistente, de acordo com a identificação das espécies bacterianas aos 2-4 dias e 14-20 dias após o parto. Por exemplo, as IIM foram persistentes quando a mesma espécie bacteriana foi identificada nas 2 amostras de leite coletadas nos diferentes momentos após o parto.
Já as novas IIM apresentaram identificação de diferentes patógenos nas 2 amostras de leite do pós-parto ou aquelas que não apresentaram crescimento de patógenos na amostra de leite obtida no 3 dia após o parto, mas que foram identificadas 14-20 dias após o parto.
Houve maior número de quartos mamários (85,8%) sem isolamento aos 14-20 dias após o parto, em comparação aos 2-4 dias após o parto (80,2%). Aos 2-4 dias após o parto, cerca de 20% dos quartos mamários foram diagnosticados infecção causada por ENA (4,8%), Pseudomonas spp. (4,7%) e coliformes (3,8%).
Já nas amostras de leite obtidas de 14-20 dias após o parto, um total de 129 quartos mamários (14,3%) estavam infectados com ENA (7,1%), Staphylococcus aureus (2,1%) e Corynebacterium spp. (1,4%) – Tabela 1.
Tabela 1 - frequência de isolamento de patógenos causadores de mastite em primíparas após o parto.
Dos 129 quartos mamários infectados de 14-20 dias após o parto, 22 apresentaram infecções persistentes, ou seja, o mesmo patógeno foi isolado aos 2-4 e 14-20 dias após o parto.
Assim, de acordo com a cultura de 14-20 dias após o parto, dos quartos mamários infectados por ENA, houve 23,5% de infecções persistentes; já para Staph. aureus, 16% foram casos persistentes.
No total, 83% dos quartos infectados apresentaram novas infecções com outra espécie de patógeno aos 14-20 dias após o parto, em comparação os resultados de 2-4 dias após o parto. Dos 107 quartos mamários que apresentaram novas infecções, cerca de 46% foram causados por ENA, 15% por Staph. aureus e 100% de Corynebacterium spp.
Na avaliação dos fatores de risco, foi observado que quanto maior a CCS no 1º mês após o parto (2-4 dias), maior o risco de infecções causadas por patógenos contagiosos, como Staph. aureus e Corynebacterium spp., aos 14-20 dias após o parto. Por outro lado, primíparas com edema persistente de úbere têm risco 4x maior de infecções causadas por ENA e coliformes do que primíparas com apenas edema temporário.
Quanto à produção de leite, primíparas de mais alta produção apresentaram maior risco de IIM por ENA e Corynebacterium spp. aos 2-4 dias após o parto; mas tiveram menor risco de IIM por patógenos ambientais entre 14-20 dias após o parto e de ocorrência de mastite clínica nos primeiros 100 dias de lactação.
As vacas que pariram com maior idade tiveram mais infecções causadas por IIM por ENA e Corynebacterium spp. aos 14-20 dias após o parto. Além disso, foi observada uma associação entre a queda dos copos coletores da ordenha por chutes das vacas e o aumento de novas infecções de 2-4 dias até 14-20 dias após o parto.
Em resumo, o início da lactação apresenta influência significativa na saúde do úbere e ocorrência de IIM no pós-parto de primíparas. Até o momento, entendia-se que a origem das IIM que ocorrem no pós-parto fosse estabelecida anteriormente ao parto. No entanto, este estudo evidenciou que IIM podem ocorrer também após o parto.
Assim, além de estratégias de controle que minimizem os fatores de risco antes do parto são necessárias medidas de prevenção de novas IIM no início da lactação para garantir a saúde do úbere e o futuro desempenho produtivo das primíparas.
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Referência:
Nitz et al., Animals, 2020. Artigo completo: https://www.mdpi.com/2076-2615/10/6/1053/pdf