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Porque poucos calculam os custos de produção?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 18/05/2000

4 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

Recentemente, em uma palestra que assisti sobre Custos de Produção de Leite, um produtor reclamou que não sabe qual é o seu custo de produção, que não sabe se ganha dinheiro ou não com a atividade e que as universidades e órgãos públicos deveriam informar qual o custo de produção do litro de leite no Brasil, para que o produtor possa saber se está ou não ganhando dinheiro.

Tais colocações, por mais absurdas que sejam, são bastante freqüentes e demonstram, antes de tudo, o desconhecimento do produtor de leite em torno do tema. Afinal, apesar de ser importante saber o custo médio de fazendas com exploração semelhante, cada um deve conhecer seu próprio custo de produção. E não é isto que acontece.

Pode-se afirmar que, embora seja dos assuntos mais debatidos, o custo de produção continua sendo uma incógnita para a maior parte dos produtores e técnicos. Quantos de fato calculam corretamente os custos de produção ? Pouquíssimos. Considerando que o tema tem sido extensivamente debatido nos últimos anos, porque a palavra "custo" ainda é um tabú para a pecuária leiteira nacional ?

Um primeiro aspecto é que o cálculo dos custos de produção envolve a implantação de um sistema de coleta de informações confiáveis na fazenda. Não é possível calcular custos sem que os gastos sejam rigorosamente reportados. Assim, o monitoramento dos custos começa a emperrar no treinamento da mão-de-obra e na capacidade gerencial das propriedades. A utilização de dados não confiáveis, além de gerar distorções nas análises, acaba por desestimular o produtor, que passa a não ver vantagem em gastar tempo e dinheiro gerando um dado desvinculado da realidade. O colega Artur Chinelato aborda este ponto em sua última coluna na Produtor Parmalat: o produtor brasileiro parece avesso a anotações, mesmo as mais importantes para o seu negócio.

O segundo ponto é que há um certo "grau de abstração" no cálculo dos custos de produção de leite. Para a grande maioria dos produtores, custo é o que foi gasto no mês, receita é o que entrou e lucro ou prejuízo é a diferença. Conceitos como depreciação, capital investido, remuneração da mão-de-obra familiar, valoração de estoque, estão a anos-luz da realidade da maior parte das fazendas. O resultado é que o custo corretamente calculado é distinto do apresentado pelo fluxo de caixa, muito mais palpável para o produtor. Este obstáculo conceitual está ligado à forma de encarar a propriedade: os que a administram como empresa têm mais facilidade em entender os custos do que os que fazem do resultado desta o montante exato a ser usado nas despesas pessoais (o que sobrou ao final do mês, é o lucro e vai para o bolso do produtor).

Em terceiro lugar, ninguém pode interpretar custos de produção com um mês de dados. É necessário pelo menos 6 meses ou mesmo 1 ano inteiro para que se tenha uma boa base de dados. Logo, além das dificuldades operacionais e conceituais descritas acima, há que se considerar a necessidade de se investir em tempo. Aqui, cuidado com avaliações feitas em projeções ou estimativas: geralmente resultam em valores inferiores, pois tendemos a ser "otimistas" em relação a desperdícios, mortalidade, quebras, etc.

Ainda, pode-se apontar como um quarto aspecto limitante a necessidade de investimento em pessoal e computador, a não ser que tal serviço seja oferecido por consultores, cooperativas, laticínios e órgãos de extensão. Embora seja possível monitorar os custos à mão, as facilidades de uma planilha eletrônica são insuperáveis, especialmente em rebanhos maiores e mais tecnificados.

Por fim, há que se considerar aquela que talvez seja a maior barreira: o desconhecimento dos conceitos econômicos por parte dos técnicos que, até por formação, têm grande carência na área. Se justamente os responsáveis por repassar a teoria e a prática do controle de custos ao produtor carecem de conhecimento suficiente, fica ainda mais fácil entender porque esta ferramenta administrativa não é adotada em massa.

Na esteira desta constatação, vem a falta de padronização entre metodologias de cálculo de custos e rentabilidade. Há extremos em que, dependendo da forma de cálculo, a mesma propriedade pode apresentar lucro ou prejuízo, o que gera confusão por parte do produtor e de quem tem acesso aos dados. Freqüentemente, são publicados custos em revistas do setor, geralmente informados pela própria fazenda. O resultado disto é que sempre fica a dúvida a respeito da acurácia das informações.

Como resolver isto? O primeiro passo seria tentar uniformizar a metodologia de cálculo dos custos. Nos EUA, por exemplo, existe um Conselho chamado Farm Financial Standards Council, cujo obtido é padronizar a análise econômica em propriedades agrícolas. Este Conselho lançou a publicação "Financial Guidelines for Agricultural Producers", que tem justamente a função de padronizar o controle de custos e da rentabilidade em atividades agrícolas.

A partir desta uniformização, o passo seguinte é disponibilizar ao mercado a metodologia e um instrumento de aplicação desta, como por exemplo uma planilha eletrônica ou um programa de computador, possibilitando a implantação do sistema em grande número de fazendas. Pode-se até pensar em adotar o procedimento de, sempre que algum dado for publicado utilizando o padrão recomendado, tal fato é mencionado ao leitor, servindo como referência. Com certeza, este procedimento reduziria a polêmica em relação ao tema e resultaria em maior adoção de controle de custos pelos produtores.

É evidente que esta padronização não é simples; dependendo do tipo de exploração, formas de controle podem fazer sentido ou não. Em um pequeno produtor familiar, separar a propriedade em unidades setorizadas, como criação de novilhas, produção de volumosos, etc., pode ser inviável. Também, como interpretar a remuneração da mão-de-obra familiar é outra questão discutível. Tais dúvidas certamente aparecerão; o fundamental é criar um padrão fácil de ser adotado e que represente com a maior fidelidade possível a situação financeira da maior parte das propriedades. Se isto não for feito, continuaremos andando em círculos neste assunto, vendo, vez por outra, trabalhos isolados feitos por Universidades e Centros de Pesquisa, geralmente com metodologias e enfoques distintos, não permitindo comparação entre os dados levantados.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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