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Aprendizados de 2023 e a preparação para 2024

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 08/01/2024

9 MIN DE LEITURA

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Nessa época do ano, muita gente faz um balanço do ano que terminou e pensa no que vem pela frente.

As promessas, metas e mudanças são refeitas nesses dias em que o mundo dá uma desacelerada e nós ganhamos um tempo para refletir (e para renovar a esperança). Eu tenho feito isso já há vários anos, revisando a minha visão dos anos anteriores e analisando o que funcionou e o que não funcionou.

Se 100% do que almejei eu atingi, provavelmente minhas ambições (no bom sentido da palavra) foram baixas, ou não me abri o suficiente para o novo. Afinal, eu não sou o mesmo de 1 ano atrás, e as coisas ao meu redor também se transformam. Há que se deixar um espaço para o inusitado.

Para quem atua no setor lácteo, o ano foi, em geral, difícil. Até começou bem, com preços historicamente altos para o produtor para essa época do ano, mas as importações e a dificuldade de retomada econômica no primeiro semestre erodiram o otimismo. Apesar do maior barulho ocorrer no setor produtivo, a indústria também sofreu neste ano, bem como a maior parte das empresas que atuam nessa cadeia (prestadores de serviços, empresas de bens de capital e insumos para a indústria, por exemplo).

Por outro lado, a tecnificação que vem ocorrendo pode ter ajudado empresas de insumos para o produtor. Se analisarmos o incremento do pacote tecnológico ao longo dos anos, cada litro de leite produzido tem mais genética, nutrição, conforto, software, etc do que há 10 ou 15 anos. Mesmo que a produção esteja se mantendo estagnada, o mercado desses produtos deve ter continuado a crescer (não temos os dados, mas é sensato apostar nisso). Cada litro de leite embute mais tecnologia hoje do que no passado.

Bem, considerando que não foi um ano com céu de brigadeiro, meus aprendizados de 2023 (e a preparação para 2024) começam, então, nas dificuldades, mas vão derivando para uma perspectiva mais ampla de negócios e vida.

1. (Quase) sempre há oportunidades a se explorar: em qualquer crise, como diz o clichê, há oportunidades. Talvez não as mesmas que você imaginava, mas outras, decorrentes do novo contexto difícil e que, na leitura anterior, a gente não fazia, até porque não precisava. Quem não conhece produtor que cresceu na crise? Ou negócio que cresceu na crise? É evidente que isso não vai valer para todos; vai ter gente que vai sofrer, perder o negócio, mas nunca será um ambiente de terra arrasada. Haverá quem vai emergir mais forte lá na frente, caso tenha se preparado para os momentos difíceis, e que tenha feito a lição de casa. Outro dia um produtor muito eficiente (e com muita experiência acumulada) me disse que está expandindo a produção. E a, crise, perguntei? “Já vivi muitas crises e sei que elas passam”, disse ele. “E nessas horas as oportunidades são grandes”. O mundo paga um bônus, às vezes grande, para quem vai na contramão. Mesmo em um cenário complicado, é preciso reconhecer que o leite tem algumas oportunidades que outras commodities não têm, ou que têm menos: o bônus por volume produzido, as bonificações por qualidade (menores do que deveriam ser, principalmente de gordura e proteína), algumas oportunidades em mercados de nicho e a presença de (em geral) um número razoável de compradores em uma dada região, que podem oferecer oportunidades de melhor remuneração em função do mix de produtos, da estratégia de negócios e da saúde financeira da empresa (mas cuidado com as promessas milagrosas ou com o foco somente no curto prazo). Nada disso, é claro, vai fazer um mercado difícil virar um mercado maravilhoso, mas pode ser, em alguns casos, a diferença entre o vermelho e o azul nas contas mensais.

 

2. É hora da sintonia fina de custos: é comum que, sempre que temos um momento mais prolongado de bonança, fiquemos mais relapsos nos custos. Relaxamos na eficiência, investimos em novos projetos ou tecnologias às vezes sem a devida análise necessária, tomamos decisões que podem comprometer o negócio lá na frente. Como diz novamente o clichê, “custo é como unha, de vez em quando precisa cortar” (ou pelo menos avaliar se dá para cortar algo sem afetar o negócio no médio prazo). E os custos crescem mais quando os números estão mais folgados. Nos momentos difíceis, é hora de efetivamente gerenciar o negócio: olhar as métricas técnicas e financeiras, avaliar se há recursos mal-empregados (animais que não se pagam, tecnologias que não se pagam ou que estão mal aproveitadas, gente demais e por aí vai).

 

3. Balancear sua atenção entre o que está ao seu alcance e o que não está:  é fundamental que o setor (produtor e indústria) defendam seus interesses coletivos junto ao governo. É assim que funciona em uma democracia – quem não chora, não mama. Mas essa atuação não pode prejudicar o tempo dedicado ao negócio. Nesses meus 30 anos de atuação, já vi muitos produtores e indústrias reclamando muito, mas ao olhar para dentro de seus negócios, os números eram muito ruins e a gestão, também. Claro que não vou generalizar, mas tenho certeza de que você sabe do que estou falando. Não vamos nunca ter uma situação em que o mercado vai ficar bom por muito tempo até para os mais ineficientes, ou ruim demais por muito tempo até para os mais eficientes. Portanto, não deixe de olhar para o seu negócio, como colocado nos itens 1 e 2 acima, ainda que as pautas coletivas sejam importantes.

 

4. Prepare-se para uma maratona e não para uma corrida de 100 metros rasos: qualquer empresa precisa pensar no longo prazo. Isso vale para quem atua no leite. Tem gente com fôlego para 100 metros rasos, que pensa no horizonte próximo apenas. Citando Charlie Munger, sócio recém-falecido de Warren Buffet, “não é para ser fácil. Quem acha que é, é tolo”. A palavra aqui é Garra. O sucesso é muito mais fruto de garra – persistência inteligente e querer de fato fazer - do que de genialidade (não temos tantos gênios assim no mundo). Um outro ditado que gosto bastante e que está relacionado à visão de longo prazo é “nunca tome uma decisão importante após um dia muito ruim, ou muito bom”. A chance de a racionalidade da decisão ser contaminada pela emoção do momento é enorme. Pense na maratona.

 

5. Saiba tomar as decisões difíceis: “por trás de uma empresa de sucesso, sempre tem um líder que tomou decisões corajosas”, dizia Peter Drucker. Cada líder de negócio, seja uma fazenda de produção de leite, uma indústria ou uma empresa de software, terá que tomar decisões difíceis e corajosas, que podem ser uma mudança no rumo dos negócios, um investimento ou uma reorganização que afeta as pessoas. Mas sem essas decisões, uma vez embasadas com racionalidade, o negócio não muda de patamar e não supera o cenário desafiador.  

 

6. Mindset de aprendizado contínuo: “aprender a aprender” é uma das habilidades mais importantes de qualquer pessoa. O que você aprendeu em 2023? O que pretende aprender em 2024? E aprendizado não é só referente àquilo que está próximo do seu negócio. Para fazer conexões não triviais de ideias, é preciso aprender coisas diferentes. No ano passado, por exemplo, fiz um curso longo sobre agro e meio ambiente, para entender melhor as questões relativas à mudança climática, o papel da produção agropecuária, as oportunidades e os desafios. Para que me serve isso, olhando meu negócio hoje? Talvez não muito. Mas, como dizia Steve Jobs, fundador da Apple, “você tem que acreditar que lá na frente os pontos se conectarão”. Expandir repertório é fundamental para que você tenha mais pontos à disposição, esperando uma conexão. E, claro, você pode ter um insight que pode mudar seu negócio (e sua vida). Só esbarra em algo novo quem está em movimento.

 

7.  Julgue menos, ou ao menos com mais contexto:  aqui é um aprendizado mais pessoal, que 2023 me trouxe. Nosso trabalho, por lidar com informação de mercado, é naturalmente sujeito a julgamentos. Ficamos um pouco chateados por ver às vezes pessoas que não conhecem nosso trabalho, fazendo comentários negativos (por sorte, são uma minoria, ainda que ruidosa). Mas tudo bem, faz parte do ofício, afinal estamos no meio das placas tectônicas do setor lácteo – produtor e indústria – e os terremotos tendem a acontecer aí. Nesse ambiente inflamado e polarizado, queremos achar culpados; descobrir “quem está conosco e quem está contra nós”. Esse modus operandi acaba nos contaminando e nós mesmos corremos o risco de julgar os outros sem saber o contexto ou sem ter todas as informações. Um aprendizado que levo para 2024 e para a frente é julgar menos, bem como levar menos a sério os julgamentos dos quais somos vítimas (e ser mais feliz com isso também). Com mais empatia, o mundo será melhor.

 

8. Metas são importantes, mas cuidado com a tirania delas:  todos nós somos pressionados e, ao mesmo tempo, estimulado pelas metas, sejam pessoais ou profissionais. Mas “água demais mata a planta”. Há momentos em que é importante olhar o processo (houve aprendizado? estamos melhores?) e o contexto (as premissas iniciais se mantiveram?). O objetivo de qualquer negócio não é atingir as metas, mas sim se perpetuar. E nem sempre atingir as metas cumpre esse objetivo, seja porque foram mal planejadas, seja porque o contexto mudou e nem todas elas continuaram a fazer sentido, seja porque falharam em olhar para o longo prazo.

 

9. Balancear o curto, médio e longo prazos: a McKinsey cunhou os termos H1, H2 e H3. Tomando a liberdade de discorrer com alguma flexibilidade sobre esses conceitos, H1 seria o que é importante agora: as métricas do negócio, a silagem que precisa ser colhida, a gestão das pessoas no dia a dia, os custos dos insumos, o preço do leite. H2 é aquilo que pode será relevante no futuro: o programa genético escolhido, as instalações, as ferramentas de gestão, a melhoria de um serviço ou produto. H3 é aquilo que pode vir a ser muito relevante no futuro, ainda que incerto. A estratégia ambiental, por exemplo, entra nesse item (carbono, agricultura regenerativa), bem como as aplicações de Inteligência Artificial, que mal sabemos o que nos trarão. Muitas vezes, estamos quase 100% do tempo focados no H1. Um bom balanceamento é destinar 70% para o H1 (afinal, como escreveu Woody Allen, “a realidade é difícil, mas é o único lugar onde se pode comer um bom bife”, portanto vamos cuidar do “aqui e agora” dos nossos negócios), 20% para o H2 e 10% para o H3. Não se esqueça que o futuro, uma hora, chega. É melhor estar preparado.  

 

10.  Separe um bom tempo para você: por mais que você adore trabalhar, encontre algo que o motive fora do trabalho, que reponha suas energias mentais e psicológicas, ainda que as físicas sejam consumidas. Para mim, essa atividade é a bicicleta (mountain bike). Desde que comecei a pedalar, em 2021, no meio da pandemia, esse se tornou minha válvula de escape. Foram quase 170 horas no ano passado, e espero aumentar essa quantidade em 2024. É um momento de conexão com a natureza, com os amigos, com a esposa (no meu caso) e com você mesmo. É o momento em que os problemas são reduzidos ao seu verdadeiro tamanho (normalmente exageramos na avaliação) e que racionalizo para resolvê-los.

Que, em 2024, você também encontre o “seu pedal”, seja lá qual for ele. Um 2024 de sucesso!     

Marcelo Biker

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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CLAUDIO H.W. DE BEM

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 24/01/2024

Marcelo, parabéns pelo excelente artigo!
Sua reflexão madura e realista sobre os aprendizados de 2023 e as metas para 2024 são inspiradoras. Continue compartilhando sua sabedoria!
Forte Abraço!!
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 24/01/2024

Muito obrigado, De Bem! Grande abraço para você
OSMAR REDIN

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/01/2024

Gostei muito da tua análise Marcelo. Abordando um cenário mais amplo. É comum fazermos reflexões na virada ado ano, mas muitas vez a abordagem fica muito restrita. São os aprendizados que nos movem para frente.
Parabéns. Grande Abraço.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 10/01/2024

Muito obrigado Redin, grande abraço e ótimo ano!
JAIR DA SILVA MELLO

CRUZ ALTA - RIO GRANDE DO SUL - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 09/01/2024

Parabéns Marcelo, excelente abordagem dessas 10 dicas para a nossa vida. Abraço.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 10/01/2024

Obrigado Jair, muito bom receber seu incentivo. Forte abraço
MARIUS CORNÉLIS BRONKHORST

ARAPOTI - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/01/2024

Bom dia Marcelo
Um artigo profundo porém Verdadeiro .
Parabéns amigo .
Continue com seu senso crítico , porem muito produtivo no profissional e tambem no particular .
O ano 2023 foi desafiador sim , porem deixou seus pontos positivos , também descritos acima é só querer ver .
Foi bom 2023 , foi apesar das dificuldades .
Obrigado pelo artigo .
Abraço
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 09/01/2024

Boa tarde amigo Marius, muito obrigado pelo comentário, e aproveito para desejar a você e família um ótimo 2024.

Grande abraço,
MARCO ANTONIO COUTO

PIRACEMA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA LATICÍNIOS

EM 09/01/2024

Olá Marcelo, obrigado por nos brindar um texto legal com seu ponto de vista, do que passou e do que vc espara que aconteça. Tenho acompanho voce há bem uns 20 anos, e vc sempre muito coerente e realmente uma pessoa que consegue ter um olhar "holístico" para nossa cadeia do leite. E como voce mesmo disse, tem melhorado a cada ano.
Mais uma vez obrigado e estamos juntos!
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 09/01/2024

Muito obrigado Marco, que possamos continuar contribuindo com o setor neste próximo ano e além! Sucesso em 2024, forte abraço
PEDRO LUIZ NUNES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/01/2024

Excelente análise Marcelo.
Vamos à luta, pois o desafio é grande, mas com oportunidades.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 09/01/2024

Muito obrigado, Pedro, Grande Abraço e sucesso a você!

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