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Andando sobre gelo fino

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 12/06/2020

3 MIN DE LEITURA

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No que se refere ao consumo de lácteos (ou melhor, ao balanço entre oferta e demanda de lácteos), tivemos até agora 3 momentos distintos. O primeiro, de algumas semanas, no início da pandemia, assistiu ao aumento das compras de abastecimento, resultando em elevação dos preços de alguns produtos, como leite UHT e leite em pó, ao mesmo tempo em que produtos com forte participação no food service (como queijos), caíram de preço.

O segundo momento ocorreu a partir de meados de abril, quando os efeitos da quarentena no consumo se mostraram mais evidentes: as compras de abastecimento visando estocagem em maior quantidade deixaram de ocorrer, ao mesmo tempo em que ficou claro que não voltaríamos ao normal tão cedo. Os preços do leite UHT sofreram queda no atacado, visto que haveria um limite para o leite antes destinado ao food service pudesse ser processado em outros produtos lácteos, como o UHT.

O terceiro momento é o que vivemos agora. A entrada da entressafra, intensificada pelo desestímulo em função da queda de preços ao produtor e do aumento dos custos de alimentação, fizeram o mercado mudar novamente. Agora, assistindo à elevação dos preços no atacado para todos os principais lácteos, inclusive aqueles mais afetados pelo virtual fechamento dos canais de food service. Alguns laticínios criam programas de incentivo para a produção de leite extra. O leite spot passa dos R$ 2. Agora vai!

A sensação que se tem é que, no final, o bicho não foi tão feio assim. Estamos passando pela pandemia com danos – sem dúvida – mas nenhum fatal. Há até uma possibilidade de recuperar nos próximos meses as perdas de abril e maio. Mas...

Há um componente fundamental cujo efeito ainda não conseguimos quantificar, mas que tudo indica ter papel preponderante para a pré-conclusão acima. Trata-se dos programas de auxílio emergencial de renda implementados pelo governo. De acordo com as estimativas do mercado, a queda de renda até agora foi da ordem de R$ 70 bilhões, ao passo que os benefícios agregados já são de R$ 200 bilhões e podem chegar a R$ 250 bilhões. Como cita neste vídeo Mansueto de Almeida, Secretário do Tesouro, os beneficiários do Bolsa-família estão tendo o equivalente a 18 meses do programa, concentrados em 3 meses (considerando 2 pessoas por família, recebendo R$ 600 mensais).

É sensato considerar que esse aporte de liquidez, ainda que não efetuado de forma  homogênea (provavelmente muitos que precisam não estão tendo acesso), em grande parte é direcionado ao consumo de alimentos.

Uma matéria da Folha de São Paulo atesta essa hipótese. Pesquisa da consultoria Horus indica que “o valor das compras no varejo de mantimentos subiu nos dias seguintes à liberação do auxílio emergencial de R$ 600, em sinal de que o recurso foi usado para a obtenção de itens de primeira premência. A média saltou de um patamar em torno de R$ 35 no dia 14 de abril, quando saiu a primeira parcela, para mais de R$ 55 no dia 18 e a quantidade de produtos na sacola saiu de seis para dez”. Além disso, o auxílio emergencial deslocou o pico de compras para o meio do mês, algo que normalmente não ocorre.

Não há como saber quem pesa mais na balança para determinar o atual momento de mercado: a falta de oferta (incluindo importações) ou o aumento artificial da renda. O Índice de Captação de Leite do CEPEA (ICAP-L) indicou pequena queda, de 0,6%, entre março e abril. Normalmente, a queda é maior. Mas maio pode ter tido resultado diferente, com redução mais pronunciada, o que explicaria uma parte do movimento ascendente.

Eu jogo minhas fichas, porém, no auxílio de renda. Acredito que seja ele quem está mantendo o mercado andando. A grande questão é: o que ocorrerá quando o auxílio terminar? Fala-se em prorrogação de 2 meses, mas o fato é que não há dinheiro para manter o programa por muito tempo. O melhor dos mundos é que seja feita uma eliminação gradual, que coincida como a retomada da economia e dos trabalhos, permitindo aquilo que se chama de soft landing (aterrisagem suave). Mas nada garante ou indica que isso irá ocorrer. Se isso não for a realidade, em algum momento teremos o choque de demanda encontrando o produtor animado com a recuperação dos preços (oferta em recuperação).

Por isso, cuidado com a euforia. A verdade é que estamos andando sobre gelo fino. E navegando em mares desconhecidos, para terminar com mais uma metáfora.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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CARLOS HUMBERTO MENDES DE CARVALHO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 17/06/2020

Estou de acordo com os comentarios de Savio Santiago. Tivemos um primeiro semestre com a CRISE DA SAUDE e teremos o SEGUNDO SEMESTRE COM A CRISE DA ECONOMIA. Toda cautela será pouca ainda, pois somente com muito otimismo que o pais tem previsão de voltar a acelerar sua economia somente no ultimo trimestre do ano.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 18/06/2020

Olá Carlos Humberto, obrigado pelo comentário. De fato, há o risco real de termos um "gap" grande de renda em algum momento antes da retomada. O governo vai precisar achar uma forma de minimizar isso, talvez promovendo uma saída gradual do auxílio, e não abrupta.
SÁVIO COSTA SANTIAGO DE BARROS

LAVRAS - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 17/06/2020

Perfeito!

Entendo que estamos passando por um fenômeno mais atrelado a demanda do que propriamente a oferta como você mencionou.

Além do grande aporte do programa de renda emergencial ainda temos circulando seguros desemprego e reembolsos de FGTS. Até o fim de maio foram 1,9 milhões de pedidos de seguro desemprego.

Portanto há um cenário de super renda que não é sustentável no médio e longo prazo.

Vejo como importante também a mudança momentânea de hábitos de consumo. As pessoas estão comendo em casa, parte pelo isolamento social e parte pela mudança de hábitos econômicos, fica mais barato comer em casa.

Com isso se reforçou a venda de alimentos básicos nos supermercados e atacarejos, mas com rotina descompassada, com menos visitas e aumento do ticket médio. Esses canais já perceberam a instabilidade e estão comprando "da mão pra boca", se resguardando da iminente invertida.

A combinação foi perfeita para o aumento de preços: Crescimento de renda pontual, aumento de consumo de alimentos e entressafra. O que vem pela frente parece ser uma combinação mais assustadora: Redução drástica da renda, consequente redução de consumo e aumento da produção motivado pelos altos preços que se confirmarão em junho e julho. Já é quase unanimidade a informação de aumento de produção recente em bacias importantes do sudeste.

É preciso muita cautela, principalmente até o final de 2020
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 18/06/2020

Muito bom, Sávio. Acho que esse insight de que é mais barato comer em casa é relevante também nessa equação. Que tenhamos um soft landing de alguma forma, com retirada gradual do auxílio, à medida em que a economia se recupera. Caso contrário, o tsunami será grande.
CARLOS HUMBERTO MENDES DE CARVALHO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 16/06/2020

otimo
GLAUCO RODRIGUES CARVALHO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 16/06/2020

Parabéns pelo texto Marcelo. Estamos com uma visão bem alinhada sobre o cenário e sobre os riscos do segundo semestre, conforme vc mencionou acima. Além do auxílio emergencial (puxando a demanda) a queda nas importações tem feito toda diferença. E com essa volatilidade de câmbio a decisão de importar torna-se bem complicada.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 16/06/2020

Obrigado Glauco, é por aí mesmo, estamos com a mesma leitura de mercado, vamos acertar ou errar juntos :) Grande abraço e vamos em frente!
MARCO ANTÔNIO MALBURG

ÁGUA BOA - MATO GROSSO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/06/2020

Faltou citar a fonte, utilizada no artigo quase na íntegra, CI Leite Junho/2020
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 15/06/2020

Marco Antônio, meu artigo foi escrito no dia 8/6, para o nosso serviço premium MilkPoint Mercado. As fontes consultadas são unicamente as que estão linkadas no texto. Não faz parte da nossa forma de trabalhar pegar informações de terceiros sem citar. A CI Leite, que você menciona, foi publicada hoje. Mas de qualquer forma fico feliz que nós e Embrapa estamos tendo leitura semelhante do momento de mercado.
CARLOS HUMBERTO MENDES DE CARVALHO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 15/06/2020

Marcelo excelente artigo. Todos precisam ter cuidado com a euforia que estamos vivendo, é fruto do aumento de renda momentaneo . Enquanto perdurar a euforia pode persistir......
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 15/06/2020

Obrigado Carlos Humberto
OSMANI MENDES FERREIRA

IBIÁ - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 15/06/2020

Temos que atentar para preços que o mercado possa absorver, está sanfona só leva a uma desarmonia entre produtor industria e mercado todos culpando uns aos outros, onde na verdade ninguém ganha com está sanfona.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 15/06/2020

Obrigado Osmani,
TIAGO MORAES FERREIRA

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/06/2020

O que vai determinar esse impacto ou não vai ser a velocidade da recuperação econômica pós pandemia.
Os danos no emprego é evidente. E a velocidade da retomada também.
Att
Tiago Moraes Ferreira
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 15/06/2020

Sem duvida, Tiago!

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