Marcelo Pereira de Carvalho
As opiniões emitidas a respeito do provável futuro da pecuária de leite no Brasil são freqüentemente caracterizadas por extremos. Há aqueles que alertam que a pecuária de leite dita profissional irá acabar, a continuar o aumento da informalidade, a redução do poder de barganha pelo produtor, importações e a falta de política adequada ao setor por parte do governo, entre outras mazelas. De outro lado, há aqueles que sempre apostam no grande potencial do Brasil como produtor de leite, dadas as nossas condições tropicais, o tamanho do país e o quanto temos a evoluir, sugerindo inclusive uma vocação de exportação de leite ao país.
Não é tão fácil saber para qual das previsões estamos caminhando. É evidente que se não houver interesse e perspectiva de diminuição do leite informal, se ninguém se mexer para estimular o consumo de leite, se o combate às importações subsidiadas for afrouxado, se não houver uma política de crédito e fomento, etc., poderemos caminhar (ou continuar caminhando) para a primeira situação.
Porém, se o cenário acima não ocorrer, de fato poderemos desfrutar de um futuro mais promissor, por vários motivos, a começar pela desvalorização cambial, que nos colocou em um patamar mais baixo de custos de produção estimado em moeda americana, em comparação aos demais países. A figura 1 traz os dados comparativos reunidos pela IFCN (International Farm Comparison Network), organização alemã cujo objetivo é acompanhar os custos de produção de leite em diversos países de acordo com uma medotologia única.
Figura 1
Pode-se observar que os dados do Brasil situam-se próximos da Argentina e bem abaixo dos EUA. Antes que alguém questione o tipo de exploração utilizada para se chegar a estes valores, informo que uma das fazendas amostradas representava um rebanho confinado, tido como de alta tecnologia e alto custo de produção. A outra fazenda (com menos vacas em lactação), também se refere a um sistema de alta tecnologia, porém a pasto. Ambas podem ser significativamente melhoradas em relação ao manejo e eficiência, mas o fato é que não se trata de um dado médio brasileiro, mas sim uma representação de sistemas com uso intensivo de tecnologia e ainda passíveis de grande evolução.
É preciso porém alertar que os dados foram levantados em 1996 e 1997, em Reais, e convertidos pelo câmbio de 1999. É evidente que vários insumos, notadamente alimentos, óleo diesel, herbicidas, sementes e outros aumentaram de preço em reais. Desta forma, se estes mesmos dados refletissem valores de 1999 para então serem convertidos em dólar, os custos subiriam talvez 2 ou 3 centavos de dólar.
Contudo, é preciso salientar que temos muito a evoluir no que se refere à definição e aperfeiçoamento dos sistemas de produção de leite, em serviços, como a terceirização de atividades, e em opções comerciais, como na venda de leite no mercado futuro, por exemplo. O fato é que a pecuária de leite no Brasil está longe de ser madura se comparada com a desenvolvida nos demais países de peso no mercado mundial. E, mesmo com todas estas limitações, em função do atual valor da moeda, as fazendas ditas tecnificadas apresentam custos mais em conformidade com países tidos como eficientes do que com países tidos como ineficientes em relação aos custos de produção.
Resta saber se resolveremos as nossas mazelas internas, viabilizando de fato o desenvolvimento da pecuária leiteira profissional.