A transferência de embriões (TE) é uma importante biotécnica para a produção animal, sendo uma ferramenta para a multiplicação de animais de mérito genético superior. Apesar do crescimento do uso de TE em bovinos, seus resultados permanecem inconsistentes.
Receptoras de embriões produzidos in vitro (PIVE) apresentam menores taxas de concepção e maior perda gestacional em comparação com as vacas que recebem embriões produzidos in vivo e inseminação artificial. Dentre vários fatores que podem influenciar o sucesso da TE, a qualidade do corpo lúteo (CL) desempenha papel importante na manutenção da prenhez. A qualidade do CL está correlacionada com a concentração sérica de progesterona (P4), responsável pela concepção e desenvolvimento embrionário. O aumento da concentração sérica de P4 imediatamente após a inseminação tem função na manutenção da prenhez e na promoção do desenvolvimento adequado do concepto. O efeito direto da P4 no alongamento do embrião não foi totalmente elucidado. Porém, a presença de P4 em níveis adequados, antes mesmo da deposição do embrião por meio da inovulação, prepara o ambiente uterino, tornando-o mais receptivo ao embrião e favorecendo o seu desenvolvimento.
O tratamento pós-ovulatório com hormônios luteotrópicos na primeira semana do ciclo estral, como a gonadotrofina coriônica humana (hCG) e o hormônio liberador de gonadotroFina (GnRH), pode melhorar as taxas de prenhez e reduzir as perdas gestacionais. Esses hormônios promovem a formação de um CL acessório e, consequentemente, aumento na concentração sérica de P4. Os objetivos com este estudo foram avaliar os efeitos da administração de um análogo da gonadorelina (Fertagyl®) no momento do TETF, da categoria da receptora, e da estação do ano na prenhez por TETF aos 30 (P/TETF 30) e 60 (P/ TETF60) dias após o estro e nas perdas gestacionais (PG).
Material e Métodos
O estudo foi realizado em 11 fazendas comerciais de Uberlândia, Minas Gerais, Sudeste do Brasil, no período de julho de 2015 a julho de 2016. O clima, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw, megatérmico, com verões quentes e chuvosos ( outubro a março) e invernos frios e secos (abril a setembro). Nas estações primavera/verão, a temperatura média foi de 24,97 °C e a umidade relativa do ar foi de 69,05% e, nas estações outono/inverno, a temperatura média foi de 22,29 °C e a umidade relativa do ar foi de 49,34%(14).
Foram utilizadas 144 doadoras de ovócitos e sêmen de 38 touros diferentes. As doadoras não foram submetidas a nenhum protocolo hormonal e seus ovócitos foram coletados por aspiração folicular guiada por ultrassom (OPU). O intervalo entre OPU em cada doadora foi de pelo menos dois meses. Todos os embriões foram produzidos in vitro. Os embriões foram classificados pelos técnicos de laboratório de acordo com seu estágio de desenvolvimento (de 1 a 9) e sua qualidade morfológica (de 1 a 4)(2). Foram utilizados apenas embriões classificados como grau 1 para qualidade morfológica e nos estágios de desenvolvimento três (mórula), quatro (mórula compacta), cinco (blastocisto inicial), seis (blastocisto), sete (blastocisto expandido) ou oito (blastocisto eclodido)(16). Foram utilizados embriões das raças Nelore (80), Gir (530) e Girolando (701). Os embriões foram transferidos a fresco de acordo com a ordem em que foram alocados no transportador de embriões.
Para serem elegíveis para o programa TETF, as receptoras mestiças não poderiam apresentar nenhuma doença clínica. Além disso, o escore de condição corporal (ECC) deveria estar entre 3 e 3,75, em uma escala de 1 a 5(17). As receptoras selecionadas foram divididas aleatoriamente em dois grupos: o grupo tratado (n = 624, tratado com 0,2 mg de gonadorelina (Fertagyl®) no dia do TETF e o grupo controle (n = 687, não tratado). O protocolo hormonal utilizado para sincronizar a ovulação das receptoras foi a base de progesterona e estrogeno. Sete dias após a estro as receptoras foram submetidos a exame ultrassonográfico transretal e apenas aquelas que apresentavam pelo menos uma CL foram consideradas elegíveis para o programa TETF.
Os embriões foram transferidos para o corno uterino ipsilateral do ovário que possuía o CL, sendo administrada ou não 0,2 mg de gonadorelina i.m. (Fertagyl®). As avaliações de saúde, ECC e ovários foram realizadas pelo mesmo veterinário, assim como todas as inovulações e diagnósticos de gestação.
O diagnóstico de prenhez foi realizado por exame ultrassonográfico transretal, 23 ± 5 dias após o TETF. Cerca de 30 ± 5 dias depois, os animais diagnosticados como gestantes foram reexaminados. A prenhez por TETF aos 30 dias de gestação (P/TETF 30) foi calculada pela razão entre o número de animais gestantes na primeira avaliação e o número total de TETF. A prenhez por TETF aos 60 dias de gestação (P/TETF 60) foi calculada pela razão entre o número de animais gestantes na segunda avaliação e o número total de TETF. A perda de gestação (PG) foi calculada pela razão entre o número de perdas de gestação entre o primeiro e o segundo diagnóstico e o número de animais gestantes no primeiro diagnóstico. O resultado dessas divisões foi multiplicado por 100 para obter o valor percentual. Também foram coletados dados sobre a estação do ano em que a TETF foi realizada (primavera/verão e outono/inverno) e a categoria receptora (novilhas, vacas lactantes e vacas secas).
Resultado
O tratamento afetou tanto P/TETF30 (P = 0,03) quanto P/TETF60 (P = 0,01). O tratamento com gonadorelina no dia 7 tendeu (P = 0,09) a reduzir a PG (7% e 4% para os grupos controle e tratado, respectivamente, Tabela 1).
Não houve efeito da categoria receptora sobre P/TETF30 e P/TETF60, porém, as novilhas tiveram maior PG (P = 0,001), quando comparadas com vacas secas e vacas em lactação (Tabela 2). A estação do TETF afetou a gestação por TETF aos 60 dias (P = 0,024) e tendeu a afetar (P = 0,095) a PG. Durante a estação primavera/verão, a PG tendeu a ser maior em relação ao outono/inverno. Consequentemente, a P/TETF60 foi maior nas estações outono/ inverno (Tabela 3).
O tratamento com gonadorelina no momento da TE bovina aumentou a prenhez por transferência de embriões aos 30 e 60 dias e reduziu a perda de gestação. Além disso, vacas receptoras secas e lactantes apresentaram menor taxa de perda de gestação em comparação às novilhas, e a transferência de embriões realizada nas estações mais quentes do ano (primavera/verão) resultou em menor taxa de prenhez aos 60 dias e maior taxa de perda de gestação.
Este texto é parte do artigo publicado na revista Ciência Animal Brasileira (DOI: 10.1590/1809-6891v25e-76295P)
Autores
Melissa Lobato Defendor
Ana Cláudia Fagundes Faria
Gustavo Pereira Cadima
Mayara Mafra Soares
Ricarda Maria dos Santos.
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais, Brasil