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Uso de aditivos para silagem de grão úmido e desempenho de vacas leiteiras

POR MARIA ISABELA MOREIRA SILVA

E POLYANA PIZZI ROTTA

FAMÍLIA DO LEITE

EM 10/08/2023

7 MIN DE LEITURA

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A ensilagem é um método de conservação de culturas úmidas baseada na fermentação anaeróbica (Weinberg et al., 2010). Durante o processo fermentativo, as bactérias ácido láticas utilizam como substrato os carboidratos solúveis em água para produzir o ácido lático, que é o principal responsável por diminuir o pH da silagem (Kung, 2018), sendo esse pH baixo, responsável por conservar o material ensilado (Figura 1).

Figura 1. Processo fermentativo da silagem.

 Adaptado de Collins e Owens (2003).

Para as silagens de grão úmido, a colheita do material é realizada com a umidade entre 30 e 40% (Mello, 2004), logo após a maturação fisiológica, quando cessa a translocação de nutrientes da planta para as sementes e estas apresentam teores máximos de amido, que é um dos nutrientes mais importantes para o desempenho animal (Gobetti et al., 2013). O processo fermentativo do grão promove a proteólise e degradação da matriz proteica, tornando os grânulos de amido prontamente disponíveis, o que proporciona maior degradação e aproveitamento pelos microrganismos ruminais (Hoffman et al., 2011).

Dessa forma, a ensilagem de grão úmido pode ser um método de processamento viável para aumentar a digestibilidade do amido (Ferraretto et al., 2013), tornando esse componente mais disponível ao animal e por consequência melhorando o seu desempenho produtivo. Essa técnica tem sido amplamente utilizada devido às melhorias no valor nutritivo e custos mais baixos em comparação com outros métodos de processamento de grãos (Morais et al., 2017).

Por outro lado, algumas características intrínsecas dos grãos, como teor de umidade relativamente baixo e teor de amido elevado (Kung Jr et al., 2007) alteram a produção do ácido lático afetando a rápida redução do pH, o que pode prejudicar a qualidade do material ensilado. Outra particularidade da silagem de grão úmido é que a quantidade de microrganismos homoláticos é significativamente menor quando comparado às silagens de planta inteira, uma vez que estes microrganismos se encontram em maiores quantidades nas folhas e nas partes basais da planta (Jobim et al., 2009). A fermentação homolática é a forma mais eficiente de transformar hexoses em ácido lático, sendo um processo importante na conservação do alimento (Pahlow et al., 2003).

Aditivos comumente utilizados para silagem de planta inteira, incluindo microbianos, químicos, enzimáticos e suas associações são utilizados com a finalidade de preservar a qualidade do material e podem ser uma alternativa na ensilagem de grão úmido (Muck et al., 2018). Os aditivos têm como objetivo minimizar as perdas decorrentes do processo fermentativo, inibindo o crescimento de microrganismos indesejáveis, estimulando assim a produção de ácido lático, o que melhora a fermentação e qualidade final da silagem (Kung Jr. et al., 2007).

Inoculantes microbianos usados como aditivos incluem as bactérias homofermentativas, que representam microrganismos capazes de intensificar a produção de ácido lático e reduzir o pH das silagens. Esse grupo é composto pelos Lactobacillus plantarum, Lactobacillus acidophilus e Pediococcus cerevisiae. Já as bactérias heterofermentativas, como o Lactobacillus buchneri, são microrganismos que utilizam ácido lático e glicose como substrato para produção de ácido acético e propiônico, os quais são efetivos no controle de fungos em baixo pH durante a fase aeróbica (Pahlow et al., 2003).

As enzimas são substâncias orgânicas que decompõem moléculas compostas em unidades menores, por exemplo, o CHO em açúcares (Soares et al., 2010). A aplicação de aditivos enzimáticos na alimentação animal não tem função nutricional, mas podem ajudar no processo digestivo aumentando a disponibilidade dos nutrientes presentes na silagem (Pereira, 2020). Com relação aos aditivos químicos, eles visam a redução de fungos e leveduras, sendo o maior objetivo a elevação da estabilidade aeróbia das silagens (Schmidt et al., 2014).

Apesar do extenso conhecimento sobre o uso de aditivos na silagem de plantas inteiras, ainda existem poucos estudos sobre os efeitos de sua aplicação na ensilagem de grão úmido, além disso, os poucos trabalhos existentes trazem resultados inconsistentes.

Como exemplo, em uma meta-análise realizada por Torres et al. (2021) foi observado que os aditivos de silagem de planta inteira não apresentaram efeito sobre a qualidade da silagem de grão úmido e no desempenho de vacas leiteiras em lactação. Contudo, é importante ressaltar que os aditivos utilizados foram desenvolvidos para as condições fermentativas da planta inteira, sendo necessário estudos de aditivos específicos para a silagem de grãos.

Apesar disso, em outros estudos o Lactobacillus buchneri apresentou resultados satisfatórios na qualidade de silagens de grão úmido, tornando-se uma alternativa viável para melhorar a estabilidade aeróbica desse tipo de silagem. Isso se deve ao maior acúmulo de ácido acético nas fases posteriores da ensilagem e menor número de leveduras e bolores (Taylor; Kung Jr., 2002).

Com relação ao desempenho produtivo de vacas leiteiras, Broderick et al. (2002) não observaram diferenças na produção e na composição do leite, nem na eficiência alimentar, quando a silagem de grão úmido de milho substituiu o milho seco em dietas para vacas confinadas.

Em contrapartida, na meta-análise realizada por Torres et al. (2021), também não foi observado efeito na produção de leite quando o grão seco foi substituído por silagem de grão úmido, porém houve uma melhoria na eficiência alimentar, o que pode estar relacionado a melhor digestibilidade do amido que melhora o aporte energético aos animais.

Portanto, a adoção de aditivos comumente utilizados para planta inteira na ensilagem de grão úmido deve ser avaliada com cautela, visto que os benefícios não são tão evidentes. Além disso, devido às diferenças nos padrões fermentativos dos grãos, o uso equivocado de aditivos não específicos pode levar a perdas econômicas.

 

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Referências bibliográficas

BRODERICK, G.A.; MERTENS, D.R.; SIMONS, R. Efficacy of carbohydrate sources of milk production by cows fed diets based on alfalfa silage. Journal of Dairy Science, v.85, p.1767-1776, 2002.

COLLINS, M; OWENS, V. N. Preservação de forragem como feno e silagem. Em Forages: uma introdução à agricultura de pastagem. RF Barnes, CJ Nelson, KJ Moore e M. Collins, eds. Blackwell Publishing, Ames, IA. p. 443-471, 2003.

DE CÓRDOVA GOBETTI, S. T.; NEUMANN, M.; OLIBONI, R.; OLIVEIRA, M. R. Utilização de silagem de grão úmido na dieta de animais ruminantes. Use of humid grains silage in the diet of ruminants. Ambiência, 9(1), 225-239, 2013.

FERRARETTO, L. F.; CRUMP, P. M.; SHAVER, R. D. Effect of cereal grain type and corn grain harvesting and processing methods on intake, digestion, and milk production by dairy cows through a meta-analysis. Journal of dairy science, v. 96, n. 1, p. 533-550, 2013.

HOFFMAN, P. C.; ESSER, N.; SHAVER, R. D.; COBLENTZ, W. K.; SCOTT, M. P.; BODNAR, A. L.; SCHMIDT, R. J.; CHARLEY, R. C. Influência do tempo de ensilagem e inoculação na alteração do amido-proteína matriz em milho úmido. Journal of Dairy Science. 94 (5), 2465–2474, 2011.

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MARIA ISABELA MOREIRA SILVA

Mestranda do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa

POLYANA PIZZI ROTTA

Professora de Produção e Nutrição de Bovinos de Leite da UFV e coordenadora do Programa Família do Leite

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