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Insights de uma visita sobre resfriamento de vacas em fazendas leiteiras

POR ISRAEL FLAMENBAUM

COWCOOLING - FLAMENBAUM & SEDDON

EM 08/12/2022

9 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 06/12/2022

No final de outubro, visitei fazendas leiteiras e encontrei produtores de leite em várias regiões leiteiras importantes do Brasil, incluindo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. 

Naturalmente, as minhas visitas abordaram a questão do estresse térmico, as necessidades de resfriamento das vacas em todas as regiões e, sobretudo, a contribuição econômica da implementação dos meios de resfriamento das vacas para a fazenda leiteira individual e para as cooperativas nos vários regiões.

Neste artigo, gostaria de compartilhar com os leitores alguns insights que obtive durante a visita e que podem ser importantes para o setor lácteo brasileiro.
 

Uso de ventiladores

Na maioria das fazendas que visitei, verifiquei que eles utilizam ventilação forçada nas áreas de descanso das vacas, às vezes até com um número maior de ventiladores do que o necessário.

Pelas conversas com os produtores visitados, entendi que eles consideram a ventilação forçada como um procedimento de resfriamento completo.

Isso me leva a fazer o seguinte esclarecimento: Deve-se entender que a ventilação forçada por si só não é suficiente para dissipar o calor gerado por uma vaca de alto rendimento. Essa vaca, produzindo 40 litros por dia ou mais, deve emitir cerca de 2.000 watts de calor para o meio ambiente. A ventilação forçada, mesmo quando operada continuamente na velocidade do vento recomendada e 24 horas por dia, não pode dissipar mais de 1.000 - 1.200 watts de calor da vaca. Assim, a ventilação forçada pode aliviar o calor gerado por uma vaca seca, ou que produz 10 litros por dia ou menos, o que não é adequado para a maioria das vacas do rebanho brasileiro hoje. 

No que diz respeito ao resfriamento de vacas secas (o que eu recomendo), combinar umedecimento e ventilação forçada por um número limitado de horas por dia será muito mais barato do que a operação de ventiladores durante todo o dia.

O fato de que a ventilação forçada por si só não pode dissipar o calor de vacas de alto rendimento foi comprovado cientificamente, através de um estudo realizado há vários anos na Universidade do Kansas. (Brouck et al 2002), e apresentado na figura 1.

Fig. 1 – Alteração da temperatura corporal das vacas sob condições de estresse térmico recebendo ventilação forçada isoladamente ou em combinação de sessões de umidificação a cada 2, 10 e 15 minutos.

Alteração da temperatura corporal das vacas sob condições de estresse térmico recebendo ventilação forçada
 

A temperatura corporal de vacas de alta produtividade estressadas pelo calor foi medida uma vez a cada cinco minutos e por um período de três horas, com tratamentos que incluíram uso apenas de ventilação forçada, ou uso de ventilação forçada combinada com umedecimento, administrados a cada 15, 10 e 5 minutos.

As vacas que foram ventiladas apenas forçadamente (como aquelas sem nenhum tratamento), não diminuíram sua temperatura e a mantiveram acima do normal (39oC), durante todo o tempo de teste. A temperatura corporal das vacas que foram resfriadas pela combinação de umedecimento e ventilação forçada tendeu a diminuir, com a maior diminuição obtida nas vacas que foram molhadas a cada 5 minutos. 

Mais um estudo realizado por este grupo examinou a velocidade ideal do vento no tratamento de resfriamento que combina umedecimento e ventilação forçada. Os seguintes tratamentos foram testados em vacas que estavam em estresse térmico: molhagem sem ventilação forçada e combinações de molhagem com ventilação forçada a velocidades de vento de 1, 2 e 3 metros por segundo.

Como esperado, verificou-se que a molhagem sem ventilação forçada (prática comum em muitas fazendas leiteiras brasileiras) não conseguiu reduzir a temperatura corporal da vaca, enquanto a ventilação forçada na velocidade de 3 metros por segundo apresentou o melhor resultado.

Como pude ver em minhas visitas, muito poucas, se é que tinha alguma, das fazendas têm uma ideia sobre a velocidade do vento criada por seus ventiladores em diferentes locais de descanso e resfriamento.

Mesmo naquelas fazendas onde havia resfriamento combinando umedecimento com ventilação forçada, isso não era feito da maneira necessária. Na maioria das fazendas, o resfriamento é realizado apenas no pátio de espera e somente antes de cada ordenha.

No entanto, pelos testes que realizei, com o medidor de velocidade do vento, verifiquei que não havia velocidade suficiente do vento (3 metros por segundo) em grande parte do pátio de resfriamento e, em outros casos, o mesmo acontece com a questão do molhamento.

Normalmente, a densidade de vacas nos pátios de espera era superior aos 2 metros quadrados por vaca que costumo recomendar, um fato que afeta negativamente a “qualidade do resfriamento”. Como estamos falando de resfriamento antes da ordenha, então, a duração do tratamento de resfriamento também difere entre as vacas de cada grupo, quando aquelas que entram primeiro na sala de ordenha dificilmente recebem resfriamento.

Em relação ao fornecimento de resfriamento no cocho, na maioria das fazendas visitadas o resfriamento das vacas por meio da combinação de umedecimento e ventilação forçada não foi realizado de forma completa.

Em vez disso, apenas umedecimento foi fornecido, com a esperança de que as vacas molhadas fossem resfriadas ao serem ventiladas forçadamente ao retornar à área de descanso (um conceito errado, pois a eficácia desse resfriamento é questionável). Foram encontrados problemas também no que diz respeito à duração do tratamento de resfriamento que as vacas recebem.

Nos estudos que realizamos em Israel, descobrimos que, para aliviar totalmente o estresse térmico de vacas de alto rendimento em climas quentes, é necessário resfriá-las a cada 3-4 horas, totalizando 6 horas cumulativas por dia.

Vacas que receberam esse tratamento durante toda a estação quente comeram mais, produziram quase quatro litros de leite por dia a mais e, ao mesmo tempo, deitaram e ruminaram por mais tempo, em comparação com vacas que receberam resfriamento por cerca de metade desse tempo.

Examinamos a aplicação desta recomendação em uma fazenda leiteira de grande porte localizada no norte do México, caracterizada por verões extremamente quentes. Fizemos isso inserindo registradores de dados intravaginais em um grupo representativo de vacas (veja as figuras 2 e 3, abaixo).

Como pode ser observado, verificamos que aquelas vacas, resfriadas três vezes ao dia (a cada 8 horas), e por uma hora de cada vez, apresentavam temperatura corporal acima do normal (39oC), durante grande parte do dia. Isso foi diferente em vacas que foram resfriadas 6 vezes ao dia e por 6 horas cumulativas, que mantiveram a temperatura corporal normal (abaixo de 39oC), durante todo o dia no verão.

Fig 2 - Vacas resfriadas 3 vezes ao dia, por 3 horas cumulativas.

 

Fig. 3 - Vacas resfriadas 6 vezes ao dia, por 6 horas cumulativas

A instalação e operação adequadas do sistema de resfriamento são, obviamente, de grande importância a fim de atingir os objetivos da fazenda.

De qualquer forma, é igualmente importante monitorar a eficácia do tratamento de resfriamento e realizar o teste no início da estação quente, com a intenção de evitar uma situação em que o resfriamento seja operado, mas sem nenhum efeito positivo nas vacas e, assim, desperdiçar recursos, por um lado, e não resolver o problema, por outro.

Existem vários meios de monitoramento da temperatura corporal da vaca, incluindo sensores instalados nos pescoços ou orelhas de todas as vacas do rebanho, contando as frequências de respiração e ruminação da vaca, parâmetros que podem indicar indiretamente seu "estado térmico".

Outras medidas são a introdução de bolus intrarruminais que medem e transmitem continuamente a temperatura ruminal da vaca. A principal limitação de todos esses meios de monitoramento é o nível de precisão na previsão da temperatura corporal da vaca e, além disso, seu alto custo, devido à necessidade de instalação desses dispositivos em todas as vacas do rebanho, e no caso dos bolus , também por toda a vida da vaca.

Conforme apresentado anteriormente neste artigo, preferimos usar registradores de dados intravaginais para monitorar a temperatura das vacas em geral e para avaliar, em tempo real, a eficácia dos tratamentos de resfriamento fornecidos às vacas.

A vantagem de usar registradores de dados é a simplicidade de seu uso e o custo relativamente baixo devido ao fato de usarmos esses dispositivos em apenas um grupo amostral representativo de vacas (geralmente, 10% das vacas em cada grupo) e com a maior freqüência possível durante a estação quente. O uso frequente de data loggers a partir do início da estação quente garantirá a "colheita dos frutos" do investimento que o produtor fizer.

Para avaliar e quantificar esses frutos esperados, precisamos conhecer o custo da implantação do tratamento de resfriamento recomendado e os benefícios econômicos de sua utilização. Em minha última visita ao Brasil, apresentei dados atualizados do benefício econômico decorrente da a implementação do resfriamento para as vacas, fazendo uso de um programa de computador especial que desenvolvi para este fim.

Do lado do custo, levei em consideração o investimento em equipamentos de resfriamento (ventiladores, aspersores, tubulações e caixas de controle). Estimamos que nestes dias o investimento em meios de resfriamento esteja em torno de R$ 2.000,00 por vaca. Se alguns dos componentes já estiverem presentes na fazenda (na maioria das fazendas visitadas há ventiladores na área de descanso e pátio de espera), pode-se incluir um custo de equipamento menor. Também levei em consideração o custo de operação do sistema de resfriamento (principalmente eletricidade).

Até onde sei, nas principais regiões leiteiras do Brasil, as vacas devem ser resfriadas por pelo menos 200 dias por ano e, portanto, o custo anual de operação do sistema de resfriamento será de cerca de R$ 300 por vaca.

Além disso, considero também o custo da alimentação adicional para apoiar o aumento da produção de leite (não há leite sem alimentação). No meu cálculo, considero um consumo adicional de ração de 0,5 kg de matéria seca para cada litro adicional de leite produzido devido à implementação do resfriamento na fazenda.

Do lado dos benefícios, considero um aumento de 10% na produção anual de leite da vaca e um aumento esperado de 10% também no teor de gordura e proteína do leite.

A eficiência alimentar será melhorada em 10 a 15%, já que menos comida é necessária para produzir cada litro de leite na estação quente. Esperamos também uma redução de pelo menos 10 "dias abertos" por vaca (devido à melhoria na taxa de concepção das vacas inseminadas na estação quente), e uma redução para metade nos gastos com medicamentos (devido à melhoria no sistema imunológico da vaca, especialmente para aquelas que parem na estação quente).

Examinando o custo-benefício de investir no resfriamento das vacas nos dias de hoje no Brasil, descobri que tal investimento tem o potencial de reduzir o custo de produção do leite em R$ 0,35 por litro e deixar no bolso do pecuarista cerca de R$ 3.000 por vaca, anualmente.

Sendo assim, o investimento na instalação do sistema de resfriamento na fazenda será amortizado em menos de um ano, tornando o resfriamento das vacas um dos melhores investimentos que um pecuarista do Brasil pode fazer nos dias de hoje.

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ISRAEL FLAMENBAUM

Especialista no estudo do estresse térmico em vacas leiteiras, professor na Hebrew University of Jerusalém, tem ministrado cursos e treinamentos sobre o assunto em diversos países.

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SEBASTIAO DA SILVA BRAGA

CATAGUASES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/12/2022

Boa tarde
Sou produtor de leite e gostaria de saber mais sobre esta matéria
LUIS ANTONIO SCHNEIDER

MARINGÁ - PARANÁ - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 12/12/2022

Excelente matéria, conhecimento teórico e prático repassado de forma objetiva. Parabéns ao Dr. Israel, que através da aplicação de suas informações, transforma a produção de leite, no Brasil e também ao redor do mundo. Só temos que levar a sério, colocar em prática e tentar evitar as gambiarras, afinal resfriar vacas é assunto sério e altamente impactante nos resultados das Propriedades Leiteiras. Obrigado Dr. Israel.

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