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Pasteurização do colostro: quais são os efeitos?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E CRISTIANE TOMALUSKI

CARLA BITTAR

EM 14/04/2022

7 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 12/04/2022

O colostro é uma importante fonte de nutrientes e uma fonte imediata de anticorpos maternos (imunoglobulinas), os quais serão passivamente absorvidos.

Como já se sabe, estes anticorpos são fundamentais para proteção do bezerro recém-nascido contra doenças infecciosas nas primeiras semanas de vida e com efeitos prolongados ao longo de toda sua vida produtiva. Na nossa coluna já discutimos bastante a importância da adequada colostragem e neste artigo você pode saber sobre as últimas atualizações nos protocolos de colostragem.

Entretanto, apesar das inúmeras vantagens nutricionais e imunogênicas associadas ao processo de colostragem, o colostro também pode ser a primeira fonte de transferência de microrganismos patogênicos como Mycobacterium avium ssp. paratuberculose (Streeter et al., 1995), Samonela spp. (McEwen et al., 1988), Mycoplasma spp., Listeria monocytogenes (Farber et al., 1988), Campylobacter spp. (Steele et al., 1997), e Escherichia coli (Clarke et al., 1989). Alguns destes patógenos podem agir diretamente gerando consequências em curto prazo, enquanto outros causam prejuízos em longo prazo.

Esses microrganismos patogênicos podem ser originados de infecções, principalmente na glândula mamária da vaca, ou serem provenientes de contaminação durante a colheita, armazenamento ou manuseio do colostro. Assim, a limpeza e higiene durante a ordenha e o armazenamento do colostro são essenciais. No entanto, ainda assim pode haver contaminação e na busca por sua redução ou eliminação, o tratamento térmico do colostro (pasteurização) surge como uma possível alternativa.

Porém, como tudo na vida, junto com as vantagens associadas a técnica, existem alguns efeitos adversos, como a deterioração das imunoglobulinas colostrais e de componentes bioativos do colostro (Lakritz et al., 2000; Godden et al., 2003). Assim, em alguns estudos a concentração de imunoglobulinas no colostro pasteurizado é inferior àquela observada no colostro não pasteurizado, seja fresco ou congelado (Tabela 1).
 

Tabela 1. Compilado de estudos que avaliaram a concentração de IgG no colostro tratado ou não termicamente.


CBB: contagem bacteriana baixa; CBE: contagem bacteriana elevada; CBQ: colostro de baixa qualidade; CMQ: colostro de média qualidade; CAQ: colostro de alta qualidade. - Adaptado de Malik et al., (2022).
 

A pasteurização do colostro utilizando o tempo e a temperatura convencionalmente utilizados para pasteurizar o leite (63ºC x 30 min) gerou alteração na aparência (aumento da viscosidade) e redução de 25 a 30% na concentração de IgG (Godden et al., 2003).

Com isso, diversos tempos e temperaturas passaram a ser testadas visando encontrar a melhor combinação que resulte no menor efeito de redução nas concentrações de IgG. Em 2006, Godden e seus colaboradores relataram que a pasteurização do colostro por 60 minutos a 60°C era eficaz na redução da contagem bacteriana total, preservando os níveis de IgG no colostro.

Entretanto, muita discrepância quanto à temperatura de aquecimento aplicada ao colostro ainda é observada na literatura, com relatos variando de 60ºC (Godden et al., 2006) a 76°C (Lakritz et al., 2000).

Assim, os efeitos desse tratamento térmico e sua influência sobre o estado imunológico dos bezerros ainda permanecem inconsistentes como mostram os variáveis resultados obtidos em diferentes situações (Tabela 2).

Tabela 2. Tabela 2. Compilado de estudos que avaliaram a concentração sérica de IgG de bezerros que receberam ou não colostro tratado termicamente.

Buscando preencher esta lacuna, Malik et al. (2022) elaboraram uma meta-análise estabelecendo associações entre as características do colostro pasteurizado e as concentrações de IgG do colostro e IgG sérica dos animais que o consumiram.

Os estudos utilizados para esta meta-análise foram divididos em dois grupos: pasteurização com temperatura acima de 60ºC (> 60ºC) ou pasteurização com temperatura abaixo de 60ºC (< 60ºC). Os autores destacaram que a pasteurização do colostro diminuiu a concentração de IgG do colostro em 20,6 g/L quando a temperatura foi > 60ºC e em 5,38 g/L quando foi < 60ºC.

Essa redução na concentração de IgG ocorre devido a desnaturação destas imunoglobulinas quando expostas a altas temperaturas (McMartin et al., 2006). A desnaturação das imunoglobulinas é um processo indesejado uma vez que resulta na perda de suas funções biológicas, deixando assim de atuarem como anticorpos no bezerro.

Em contrapartida, neste mesmo estudo a pasteurização do colostro também foi associada com aumento significativo de 2,65 g/L na IgG sérica quando a temperatura aplicada foi < 60ºC enquanto que não houve diminuição significativa quando a temperatura foi > 60ºC. Esse efeito positivo do tratamento térmico na concentração de IgG sérica pode estar ligado ao aumento na absorção dessas imunoglobulinas devido a redução da ligação destas aos patógenos presentes no colostro. Ao reduzir a carga bacteriana do colostro, mais anticorpos permanecem potencialmente livres para serem absorvidos (Elizondo-Salazar e Heinrichs, 2009).

Outro fator que pode ter contribuído com esse resultado é a redução da ligação bacteriana aos receptores de IgG no intestino. As bactérias podem se ligar a receptores inespecíficos nos enterócitos (células do intestino) dos bezerros recém-nascidos, reduzindo assim o número de receptores disponíveis para absorção de imunoglobulinas (Johnson et al., 2007). Consequentemente, ao reduzir o número de patógenos no colostro, mais receptores permaneceram disponíveis para esta ligação.

A redução na contagem bacteriana do colostro é um dos grandes objetivos de todos os criadores, pois reduz o risco de transmissão de doenças no rebanho e a exposição dos bezerros a patógenos em um período em que estes se encontram altamente suscetíveis. Essa prática reduz as taxas de morbidade e mortalidade no período de aleitamento e seus prejuízos econômicos.

Ao final do estudo foi ressaltado o efeito positivo da pasteurização do colostro, justificado principalmente pelo aumento na concentração sérica de IgG. Essa alta concentração de IgG sérica contribui consideravelmente para a melhoria do estado imunológico de bezerros, com efeitos na saúde e desempenho (Tomaluski et al., 2022). No entanto, os autores alertam que os benefícios imunológicos do colostro não são restritos apenas a concentração de imunoglobulinas e que são necessárias novas pesquisas que avaliem os efeitos do tratamento térmico sobre os demais componentes imunológicos do colostro.

O Padrão Ouro de criação de bezerras nacional sugere que a pasteurização do colostro seja realizada a 60°C por 60 minutos para a prevenção de transmissão de algumas doenças. Mas, é importante utilizar pasteurizador próprio e devidamente calibrado, com rápido fornecimento ou congelamento do colostro após o processo.

Utilizar banho-maria com colostro em baldinhos abertos não vai resultar em boa pasteurização. Da mesma forma, se a qualidade microbiológica inicial do colostro é muito baixa, a pasteurização não é a solução, uma vez que não esteriliza o material.

Assim, a pasteurização deve ser adotada em conjunto com práticas de higiene na ordenha, acondicionamento ou mesmo fornecimento para os animais. Lembre-se que aumentar o número de processos dentro do bezerreiro, nem sempre vai resultar em benefícios para o sistema. Tudo depende de um olhar mais amplo para solucionar problemas com a qualidade microbiológica do colostro e seus efeitos na transferência de imunidades passiva. Um equipamento novo no bezerreiro não substituirá a gestão inadequada!
 

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Referências

Clarke, R. C. et al. 1989. Isolation of verocytotoxin-producing Escherichia coli from milk filters in south-western Ontario. Epidemiol. Infect. 102:253– 260. https://doi.org/10.1017/S0950268800029927.

Elizondo-Salazar, J. A., and Heinrichs, A. 2009. Feeding heat-treated colostrum to neonatal dairy heifers: Effects on growth characteristics and blood parameters. Journal of Dairy Science. 92:3265–3273. https://doi .org/10.3168/jds.2008-1667.

Farber, J. M.; Sanders, G. W. and Malcolm, S. A. 1988. The presence of Listeria spp. in raw milk in Ontario. Can. J. Microbiol. 34:95–100. https://doi.org/10.1139/m88-020.

Godden, S. et al. 2006. Heat treatment of bovine colostrum. II: Effects of heating duration on pathogen viability and immunoglobulin G. Journal of Dairy Science. 89:3476– 3483. https://doi.org/10.3168/jds.S0022-0302(06)72386-4.

Godden, S. M. et al. 2003. Effect of on-farm commercial batch pasteurization of colostrum on colostrum and serum immunoglobulin concentrations in dairy calves. Journal of Dairy Science. 86:1503–1512. https://doi.org/10.3168/ jds.S0022-0302(03)73736-9.

Johnson, J. L. et al. 2007. Effects of feeding heat-treated colostrum on passive transfer of immune and nutritional parameters in neonatal dairy calves. Journal of Dairy Science. 90:5189–5198. https://doi.org/10.3168/jds.2007-0219.

Lakritz, J. et al. 2000. Effects of pasteurization of colostrum on subsequent serum lactoferrin concentration and neutrophil superoxide production in calves. Am. J. Vet. Res. 61:1021–1025. https://doi.org/10.2460/ajvr.2000.61 .1021.

Malik, M. I.; Rashid, M. A.; Raboisson, D. 2022. Heat treatment of colostrum at 60° C decreases colostrum immunoglobulins but increases serum immunoglobulins and serum total protein: A meta-analysis. Journal of Dairy Science.

McEwen, S. A. et al. 1988. A prevalence survey of Salmonella in raw milk in Ontario. J. Food Prot. 51:963–965. https://doi.org/10.4315/0362-028X-51.12.963.

McMartin, S. et al. 2006. Heat treatment of bovine colostrum. I: Effects of temperature on viscosity and immunoglobulin G level. Journal of Dairy Science. 89:2110–2118. https:// doi.org/10.3168/jds.S0022-0302(06)72281-0.

Steele, M. L. et al. 1997. Survey of Ontario bulk tank raw milk for foodborne pathogens. J. Food Prot. 60:1341–1346. https://doi.org/10 .4315/0362-028X-60.11.1341.

Streeter, R. N. et al. 1995. Isolation of Mycobacterium paratuberculosis from colostrum and milk of subclinically infected cows. Am. J. Vet. Res. 56:1322–1324.

Tomaluski, C. R. et al. 2022. Passive transfer, health, performance, and metabolism of calves fed different sources of colostrum. Livestock Science, p. 104868.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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RAFAEL OSIELSKI LANZARINI

GRAVATAÍ - RIO GRANDE DO SUL - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 14/04/2022

Muito boas informações.
Outro fator importante também na pasteurização do colostro é a baixa oscilação de temperatura no processo, que eleva em muito a qualidade do produto final.
Infelizmente, pasteurização de colostro ainda é um processo pouco explorado no país.

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