Como atendo muitos produtores de leite com a base no pasto, observo um dos principais sabotadores de produção que podem interferir negativamente no sistema, que é o fato de não entender o processo de “colheita” do pasto.
Em primeiro lugar, devemos entender o que são os sabotadores de produção, que eu classifico como, tudo aquilo que de forma direta ou indireta, diminui o lucro da propriedade. Importante ressaltar a palavra lucro e não produção, pois muitas vezes a busca excessiva e desgovernada pela produção, torna-se um sabotador de produção sob ponto de vista econômico.
Em uma propriedade de leite a base de pasto, o uso inadequado desse pasto pode ser um sabotador bastante prejudicial, pois vai atuar de forma negativa em diferentes áreas, entre as quais podemos citar:
- O produtor gastar mais com alimentação no cocho, pelo uso inadequado de pastos que, muitas vezes, apresentam potencial nutricional semelhante ao que está no cocho, com um custo muito menor;
- O produtor gastar mais em correção do solo, utilização de híbridos de qualidade e peca no momento de “colher” esse alimento, aumentando o gasto anteriormente citado;
- O produtor gastar mais por usar um alimento de qualidade e saudável sob o ponto de vista ruminal, na maioria das vezes, apenas como cama para suas vacas dormirem.
Essa perda, o efeito desse sabotador de produção se torna mais evidente ainda, quando o produtor resolve buscar alimentos de maior qualidade para ofertar aos seus animais, o que coincide com valores mais altos por quilo de semente e custos maiores com adubação condizente.
Nesse ponto, preciso considerar que as orientações que o produtor recebe, seja do consultor, vizinho ou técnico, podem interferir diretamente sobre a forma que ele vai lidar com esse tipo de situação. E isso, fica muito claro, considerando aquilo que o produtor e os orientadores muitas vezes levam em conta para escolher um determinado pasto cultivado, sendo normalmente a quantidade de matéria seca por hectare, sendo que, algumas vezes até se fala e litros de leite por hectare, a partir da matéria seca produzida, mas não se fala de como alcançar essa produção estimada.
O produtor precisa ter claro, ele é um produtor de leite, não um produtor de pasto, por isso, quando ele busca obter toda a quantidade de matéria seca determinada para o pasto, na maioria das vezes ele gasta mais para produzir o mesmo leite.
Entendam que não estou aqui dizendo que produzir alimento não é importante. É importantíssimo! Mas o que estou afirmando é que, de nada adianta eu ser um excelente produtor de alimentos para a minha vaca se eu não for um excelente utilizador desse alimento.
Outro ponto que convém ressaltar é que, o que estamos realmente produzindo são nutrientes que estão na matéria seca, por isso usamos esse conceito como padrão mas, ele só será benéfico se os nutrientes estiverem disponíveis e digestíveis (NDT) para a vaca utilizar para gerar energia, para fabricar leite, para expressar cio e para tudo o mais que seja relacionada a produção. E, estar disponível ou não para o animal, está diretamente relacionado ao manejo utilizado pelo produtor, no momento da “colheita” desse alimento.
Bem, mas como atuar com o objetivo de colher melhor o pasto?
O primeiro ponto é conhecer a fundo os alimentos que você utiliza em sua propriedade e, nesse caso, considerando o pasto, conhecendo cada pasto que você tem para oferecer para as suas vacas. Nesse quesito, deve-se considerar alguns pontos básicos, entre os quais:
- Capacidade produtiva, quantidade de massa verde ou matéria seca por hectare;
- Composição nutricional geral do pasto em questão;
- Manejo de utilização do pasto. Altura de entrada, altura de saída, cultivo, adubação e tudo que interfira na produtividade e na sustentabilidade do pasto na propriedade.
Se unirmos essas informações, esses conhecimentos, podemos extrair o máximo potencial dos alimentos que estamos ofertando. E vejam bem, quando falo extrair, não estou me referindo a um modelo extrativista, que apenas consome reservas. E sim, estou citando extrair o máximo dos alimentos pois estou dando muito a eles também e o nome disso é eficiência. Lembrando que estamos buscando sempre a sustentabilidade do sistema.
De forma geral e prática, o produtor deve conhecer os processos envolvidos na produção de leite baseado no pasto e, para esse entendimento, o produtor pode responder algumas perguntas, que cito aqui
- Qual o tipo de alimento que entra como a base volumosa principal na dieta dos meus animais? Essa pergunta é importante porque muitos produtores são “confinadores sem galpão”, pois toda a alimentação é no cocho, servindo o pasto apenas como cama;
- Eu utilizo os pastos pensando no ecossistema do pasto em questão? Pensando nas interações que envolvem os sistemas de pastejos? Pergunta crucial para determinar a sustentabilidade do sistema pastoril na propriedade pois, não é incomum observarmos o produtor quebrando a interação pasto/animal/sol/solo, fundamental para a manutenção econômica e sustentável da propriedade.
Baseado no exposto neste artigo, quando o produtor determina o seu sistema de produção baseado no pasto e, ele compreende tudo que precisa saber para se ter a maior eficiência dos sistema, é quando o produtor consegue gerar a diferença necessária entre o faturamento e o custo de produção, determinando assim o objetivo principal da atividade dentro da propriedade que é o lucro.
Saber colher é a ferramenta do lucro!
Essa frase se torna uma lógica porque, se o lucro é, de forma bem simplificada, determinado pela diferença entre o valor recebido e o custo de produção e, se considerarmos que, ao implantar um determinado pasto ou alimento na propriedade, o custo já está pré-determinado, agora, a maneira que eu vou “colher” esse pasto, será determinante para que eu aumente ou não esse custo e, dessa forma, determine um menor ou maior lucro.
E você produtor, é um bom colhedor de alimentos?
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