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Economia de escala em produção de leite

POR MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 19/05/2000

5 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

A aplicação do conceito de economia de escala em pecuária de leite, em última análise, visa desfrutar de uma potencial redução nos custos de produção em função da diluição de vários componentes de custo fixo, como o custo de instalações, da mão-de-obra e de equipamentos em função da maior produção de leite. Como exemplos, o aumento da produção dilui o custo por litro produzido de um tanque de leite ou de uma sala de ordenha; o maior número de bezerros a serem tratados por um funcionário reduz de mão-de-obra desta categoria por unidade produzida. O aumento da escala traz, potencialmente, a melhor utilização dos recursos disponíveis.

A redução de custos, na verdade, pode ser proveniente não só da diluição dos custos fixos, mas da possibilidade de compra de insumos (alimentos, medicamentos, peças de reposição, equipamentos) a preços mais baixos, pela diluição do custo dos serviços (assessoria técnica, fretes, consertos e reparos) e também por juros potencialmente mais baixos, caso haja financiamento envolvido na atividade. A organização de produtores em "pool" de compras nada mais é do que o usufruto da economia de escala para comprar insumos, por exemplo.

O resultado final é o menor custo de produção. Ilustrando o efeito do aumento da escala em propriedades leiteiras, simulações feitas nos EUA mostram que o aumento do número de animais em lactação de 180 para 800 resultou em redução dos custos de produção da ordem de US$ 0,05/litro.

Além desta evidente diluição dos custos fixos, a economia de escala permite obter melhoria do desempenho em vários aspectos técnico-administrativos. Entre estes aspectos, pode-se apontar:

- possibilidade de contratação de mão-de-obra mais especializada
- maior capacidade de aplicação de tecnologia
- possibilidade de melhor capacidade gerencial
- contratação de serviços mais especializados (serviços técnicos, colheita terceirizada)
- possibilidade de menor remuneração do leite vendido (em função do volume)
- maior facilidade de expansão e de construção de instalações mais adequadas
- maior flexibilidade no uso de mão-de-obra (ex: 3 ordenhas, tratos noturnos, parteiro noturno, etc)

Desta forma, rebanhos maiores apresentam potencialmente não só menor custo decorrente do aumento da escala, mas também um melhor desempenho técnico que, provavelmente, reduzirá ainda mais o custo e certamente aumentará a lucratividade da propriedade.

A tabela 1 exemplifica estas vantagens técnicas ao mostrar que quanto maior o módulo de produção de leite, maior a produção por vaca/ano. Esta constatação pode à primeira vista parecer contraditória, pois sabe-se que, à medida que o rebanho cresce, tende-se a perder o tratamento individual dos animais, aspecto preponderante em pequenas fazendas nas quais o proprietário e sua família atuam diretamente, dando então lugar ao manejo do rebanho como um todo. Porém, o que se percebe é que o aumento do rebanho, apesar de substituir o manejo individualizado por um manejo mais generalizado, pode trazer mais técnica e profissionalismo à exploração, traduzidos em melhor desempenho técnico e econômico.

A junção de efeitos na redução do custo de produção com efeitos na melhoria do desempenho pode ser resumida na tabela 2, que compara as 36 melhores fazendas de um estudo realizado no estado de New York (EUA) com a média das 357 fazendas avaliadas no estudo, tendo como parâmetro a lucratividade medida em retorno sobre o capital investido. Percebe-se que as melhores fazendas tinham 110 % mais vacas, produziam 8 % a mais de leite/vaca/ano e 33 % de leite a mais por funcionário, tinham custo operacional 9,7 % menor e recebiam em média 1,2 % a mais pelo leite vendido. Ou seja, eram mais eficientes tanto em parâmetros produtivos como econômicos.

Tabela 1


Tabela 2


Além destes pontos, é possível que o aumento gradual de escala seja necessário caso a fazenda deseje manter sua rentabilidade constante ao longo dos anos, uma vez que os custos tendem a subir ao longo do tempo e o preço do produto não acompanha esta elevação dos custos. Dados dos EUA mostram que a cada 10 anos, a produção de cada fazenda deve aumentar em 60% para que o lucro/ano se mantenha constante, basicamente em função do efeito inflacionário (ainda que modesto) e do aumento dos custos de produção. Desta forma, a aplicação do conceito de economia de escala passa a ser não só uma ferramenta a mais para o crescimento, mas também um item básico de sobrevivência das propriedades no cenário competitivo verificado nesta década, que tende a se acentuar cada vez mais. Como nem todos conseguem crescer a estas taxas, o resultado é o desaparecimento de grande número de fazendas, concentrando a produção em menos produtores.

Um aspecto que substancia a observação acima e que vem forçando a diminuição do número de rebanhos e a concentração de vacas em um número menor de fazendas (nos EUA) é a elevação gradual do custo de vida nas últimas décadas. Um estudo realizado neste país mostrou que, enquanto uma família rural gastava US$ 4.008 por ano para se manter em 1971, passou a precisar de US$ 20.617 em 1981, atingindo finalmente US$ 37.927 em 1991. Em 1971, 18 vacas seriam suficientes para manter esta família, ao passo que em 1991 este número havia subido para 127 vacas. Enfim, no período analisado o custo de vida subiu 945 % para uma elevação de apenas 244 % no preço do leite.

Desta forma, mostra-se claramente que o pequeno produtor que vivia relativamente bem em 1971, tornou-se inviável economicamente em 1991, mesmo que tenha acompanhado de perto os avanços técnicos e gerenciais disponíveis. Evidentemente, há exceções e pequenas propriedades bem administradas, com custos controlados e com índices excelentes de produtividade deverão competir com sucesso sob vários cenários, por um tempo indefinido. O que se pretende dizer é que as desvantagens do pequeno produtor vão ficando cada vez mais aparentes à medida que as margens de lucro são reduzidas.

Em função do número de estudos realizados nos EUA e das poucas referências de custo em nosso país, boa parte dos exemplos deste artigo é norte-americana. Porém, percebe-se que o pequeno produtor de leite nacional vem passando por processo semelhante, de maneira que especialistas apontam uma provável redução de mais de 60% no número de estabelecimentos leiteiros dentro de um horizonte de 5 a 15 anos.

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fonte: MilkPoint

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 01/03/2016

Olá Dennis, obrigado pelo comentário! Você desencavou esse artigo, hein...:)  Com certeza, o que era apenas uma tendência agora é realidade aí nos Campos Gerais. Abraço,
DENNIS VERSCHOOR

CARAMBEÍ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE OVINOS DE CORTE

EM 27/02/2016

Parabéns Marcelo Pereira de Carvalho . Ótimo artigo. Agora ja fazem mas de 15 anos desde que o sr escreveu este artigo. Aqui na nossa região ja não é mais tendência o agrupamento rebanhos. É sim um realidade e que tende a crescer a passos largos.

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