Do conforto à produção: estratégias de manejo para búfalas leiteiras

O sucesso na produção de leite de búfala começa muito antes da ordenha. Conforto, manejo e bem-estar são fatores decisivos para garantir produtividade, qualidade do leite e saúde do rebanho. Entenda como pequenas adequações podem transformar o desempenho das búfalas.

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A produção de leite de búfala envolve cuidados além da ordenha, destacando o manejo e conforto animal como essenciais para a saúde e produtividade. O interesse no leite de búfala cresce devido à sua maior rentabilidade em relação a outros tipos. O estresse térmico é um fator crítico; estratégias como sombra, acesso à água e sistemas de resfriamento são importantes. O manejo adequado, incluindo camas confortáveis, contribui para a saúde do rebanho e aumenta a produção de leite.

A produção de leite de búfala vai muito além do simples manejo de ordenha. O conforto e o manejo animal são fatores críticos que influenciam diretamente na saúde, no bem-estar animal e na produtividade do rebanho. E para que as búfalas atinjam seu máximo desempenho produtivo é fundamental compreender profundamente estes aspectos (Santana et al., 2001).

Búfalas são animais rústicos e resistentes, e o interesse pela produção de leite vem crescendo significativamente, motivado pela demanda do consumidor final por derivados e pela valorização dos produtos. Embora os sistemas hoje ainda sejam menos tecnificados quando comparamos com a bovinocultura de leite, há um grande crescimento na atividade, justificando o aumento de investimentos e inovações no setor e a busca por conhecimento de técnicos e produtores.

Pequenas mudanças e adequações nos manejos diários podem gerar aumentos substanciais tanto na produção quanto na qualidade do leite, além de diminuir fatores de estresse e os custos associados às doenças (De Rosa et al., 2009). Isso é particularmente relevante considerando que o leite de búfala apresenta maiores teores de gordura, proteína, vitaminas e minerais, tornando-se mais rentável que o leite de vaca, cabra ou ovelha, especialmente na produção de derivados (Tonhati et al., 2008).

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Pensando nas características destes animais, eles apresentam uma enorme sensibilidade ao estresse térmico. Altas temperaturas, elevados índices de umidade e radiação solar podem inibir a ingestão de alimentos, prejudicar a digestão e, como impacto direto, reduzir a produção leiteira. Ainda que possuam intensa pigmentação epidérmica, que protege a derme da radiação UV, a coloração escura também reduz a refletividade da pele, facilitando a retenção de calor (Roque et al., 2012). Além de possuírem uma baixa densidade de glândulas sudoríparas, em média 394 glândulas por cm2, o que dificulta ainda mais a regulação térmica (Uppal et al., 1995).

A radiação solar é uma das principais causas de desconforto, que reflete diretamente na produtividade em determinadas localidades ou estações do ano. Desta forma, a oferta de sombras (naturais ou artificiais) e aclimatação são indispensáveis para redução dos efeitos negativos do excesso de calor (Magalhães et al., 2011).

Essas estratégias são altamente eficazes: a implementação de árvores, galpões abertos ou coberturas bem distribuídas permite que as búfalas mantenham suas rotinas de alimentação e descanso sem desconforto. Outras práticas, como lagos ou piscinas naturais e artificiais, também oferecem resfriamento eficiente e podem ser utilizadas dependendo da categoria animal. São opções viáveis para produtores de todos os portes (pequeno, médio ou grande) e reforçam que o bem-estar animal não deve ser negligenciado.

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A necessidade desses manejos se justifica pelo comportamento natural dos animais: a busca por água para banho e sombra durante os picos de calor é uma estratégia para reduzir o estresse térmico. Por essa razão, a implementação de sistemas silvipastoris próximos a fontes de água é crucial em regiões de altas temperaturas. Ablas et al. (2007) confirmaram que, com essa disponibilidade, as búfalas preferem a imersão como meio de ajuste da temperatura corporal por termólise.

Vaca na água

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Elaborada pela autora

Para as búfalas lactantes, a imersão em águas é excelente para aumentar a produção de leite, por ser um método eficiente e rápido de dissipação de calor corporal (De Rosa et al., 2009). Em sistemas de produção, estratégias como nebulizadores e chuveiros durante dias quentes também contribuem para o conforto térmico e a produtividade do animal (Amaral e Escrivão, 2005). Além disso, a oferta de dietas concentradas durante a pré-estimulação na sala de ordenha pode melhorar a descida do leite.

Outro fator fundamental, que por muitas vezes é negligenciado, é o acesso à água fresca e limpa, ressaltando que búfalas chegam a consumir de 60 a 80 litros de água por dia, variando conforme a produtividade e condições climáticas. Manter reservatórios limpos e distribuídos estrategicamente pelos piquetes evita deslocamentos excessivos e disputas entre animais.

Outro componente essencial de manejo é o conforto e o dimensionamento das camas, que impactam diretamente na saúde do úbere e dos membros. Embora as búfalas apresentem menor incidência de mastite, a atenção a esses aspectos continua sendo necessária. Camas limpas, secas e macias permitem que a búfala se deite e rumine adequadamente, indicativo de bem-estar e de produção. É fundamental garantir o uso de materiais apropriados, como areia, cascalho fino ou maravalha tratada, que ajudam a reduzir lesões e infecções, variando conforme a disponibilidade regional ou o custo. Além disso, o manejo eficiente deve incluir a limpeza diária e a reposição periódica do material, evitando o acúmulo de fezes e urina.

Investir em manejo, conforto e bem-estar das búfalas não só aumenta a produção e qualidade do leite, como também reduz estresse e doenças. Práticas simples, como sombra, água, camas adequadas e sistemas de resfriamento, transformam o cuidado em produtividade, mostrando que o sucesso na produção de leite de búfala está diretamente ligado ao respeito ao comportamento natural desses animais.

Autores:
Aline Silva Oliveira- Engª Agrônoma. MSc. em Zootecnia e Doutoranda em Zootecnia – Universidade Federal do Paraná.

Queila Gouveia Tavares - Engª Agrônoma. MSc. em Zootecnia e Doutora em Zootecnia – Universidade Federal do Paraná.

Laetizia Ratier Zaleski – Graduanda em Zootecnia - Universidade Federal do Paraná.

Davi Móises Vidal Pinto - Graduando em Zootecnia - Universidade Federal do Paraná.

Maity Zopollatto - Engª Agrônoma. PhD em Zootecnia. Professora Associada no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná.

 

Referências bibliográficas

ABLAS, D.S. Comportamento de bubalinos a pasto frente a disponibilidade de sombra e água para imersão. Ciência Animal Brasileira, PDF- p. 167-175, 24.jun. 2007.

AMARAL, F. R., CARVALHO, L. B., SILVA, N., BRITO, J. R. F. Qualidade do leite de búfalas: composição. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v.29, n.2, p.106-109, 2005.

DE ROSA, G.; GRASSO, F.; BRAGHIERI, A,; BILANCIONE, A.; DI FRANCIA A.; NAPOLITANO F. Behavior and milk production of buffalo cows as affected by housing system. J. Dairy Sci.,v.92, n. 3, p. 907-912, 2009.

MAGALHÃES, J. A.; TOWNSEND, C. R.; COSTA, N. L.; PEREIRA, R. G. de A. Desempenho produtivo de búfalos em sistemas silvipastoris na Amazônia brasileira. Pubvet, v. 5, n. 27, ed. 174, art. 11-17, 2011.

 

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Material escrito por:

Aline Silva Oliveira

Aline Silva Oliveira

Engª Agrônoma. MSc. em Zootecnia e Doutoranda em Zootecnia - Universidade Federal do Paraná.

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Laetizia Ratier Zaleski

Laetizia Ratier Zaleski

Graduanda em Zootecnia - Universidade Federal do Paraná.

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