O sistema compost barn caracteriza-se por ser um galpão com a presença de uma área de cama coletiva, destinada ao descanso dos animais, composta por materiais orgânicos, os quais necessitam de manejo frequente para garantir a incorporação de dejetos e consequente atividade microbiana através de sua compostagem (PILATTI & VIEIRA, 2017; MARCONDES et al., 2019).
A sua introdução no Brasil ocorreu em 2012, em função de bons resultados obtidos nos índices produtivos, conforto e reduções na contagem de células somáticas (CCS) em outros países, como Israel e Argentina.
Porém, com a implantação no Brasil, algumas dificuldades foram surgindo devido às diferenças climáticas. Em Israel, devido ao clima quente e seco e à dificuldade de encontrar materiais de cama, utilizava-se dejetos secos. O próprio clima proporcionava condições de secagem da cama, mesmo sem a utilização de ventiladores.
Já no Brasil, o mesmo não ocorreu. Houve a necessidade de adoção de sistema de ventilação para auxiliar tanto na secagem da cama, como na dissipação de calor dos animais.
Da mesma forma, devido ao nosso clima, o uso de dejetos secos (baixa relação C/N) para material de cama não era viável, tornando a cama mais úmida e compactada. Dessa maneira, é importante que os materiais de cama sejam boas fontes de carbono, onde juntamente com as fezes e a urina (elementos ricos em nitrogênio), umidade e oxigênio forneçam condições adequadas para o crescimento microbiano (LLONCH et al., 2021).
A cama é um fator de extrema importância no sistema, tanto para a degradação biológica, como para o conforto dos animais. Visto que as vacas ao se deitarem ficam com úbere e tetos em contato direto com a cama, isto é um fator de alerta para a sanidade da glândula mamária, em virtude da ocorrência de mastites no rebanho.
Por este motivo, é importante manter a cama seca e solta, por meio de revolvimento diário, proporcionando a mistura do composto biológico (materiais de cama, fezes e urina dos animais), para então ocorrer a degradação destes resíduos e consequente produção de calor.
O sucesso da compostagem depende de: revolvimento (incorporação de oxigênio), umidade, matéria orgânica (cama), ventilação e presença de microrganismos. Os principais patógenos causadores de mastite associados com camas orgânicas são os estreptococos ambientais (Streptococcus uberis) e coliformes (Escherichia coli e Klebsiella spp.).
Essas camas orgânicas proporcionam conforto aos animais, além de apresentarem boa capacidade absortiva de umidade (SANTOS & FONSECA, 2019). E a escolha do tipo de material a ser empregado na cama irá depender do custo e da disponibilidade na região, além da facilidade no transporte e do armazenamento na fazenda.
Qual a melhor cama para Compost Barn?
Os materiais mais consolidados e utilizados no Brasil são a serragem, maravalha e pó de serra, mas também utiliza-se casca de amendoim, casca de café e palha de arroz (Damasceno, 2020).
A serragem é caracterizada por ser um material de pequenas partículas de madeira (5 a 30 mm), o que favorece a absorção da umidade da cama (King, 2007), além de apresentar adequada porosidade, o que permite que a temperatura da cama seja bem distribuída (SILVA et al., 2020).
Já a maravalha apresenta boa capacidade absortiva de umidade, mas varia conforme o tipo de madeira utilizada (eucalipto, pinheiro ou pinos). O pó de serra (< 5 mm) apresenta bom grau de maciez, superior à serragem, e absorve bem a umidade, porém o problema na utilização de materiais com partículas pequenas é referente à poeira, a qual pode causar problemas respiratórios nos animais.
Partículas maiores não funcionam bem na cama, necessitando de picagem em tamanhos menores. Geralmente, cavacos (partículas com 50 mm) são utilizados visando dar firmeza ao material de cama, mas sua utilização é recomendada em conjunto com a serragem (50:50), a qual tem objetivo de absorver a umidade.
A utilização de aparas de madeira finas e serragem é recomendada devido a maior área de superfície susceptível à degradação microbiológica, porém o maior entrave na utilização frequente desses materiais é o seu custo elevado, chegando a 40 reais/m³ no noroeste do Rio Grande do Sul.
Devido à baixa oferta de materiais conforme a região, a qual leva ao aumento do custo dos mesmos, há a possibilidade da utilização de materiais alternativos para a cama. Dentre eles podemos citar: casca de amendoim, casca de arroz, casca de café, palhadas de culturas em geral, etc.
A casca de amendoim pode ser encontrada com maior frequência na região sul e sudeste do país. Apresenta boa capacidade absortiva, porém deve-se tomar cuidado com materiais com excesso de umidade, pois pode apresentar fungos.
Já a casca de arroz apresenta restrições devido a sua dureza e baixa capacidade de absorção de umidade, além de poder ocasionar irritação na pele dos animais. É indicado misturar uma parte de casca de arroz com serragem ou maravalha, numa proporção 60:40 (Damasceno, 2020).
Outro material que pode ser utilizado é a casca de café, sendo encontrada de forma mais expressiva nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. É importante que o material esteja bem seco, pois caso contrário não funcionará bem.
Restos de culturas vegetais como palhas de trigo, cevada, centeio, sorgo, milho (finamente moída), feijão e soja também podem ser utilizados (MOTA et al., 2019;DAMASCENO, 2020). No caso da região noroeste do Rio Grande do Sul, produtores têm utilizado resíduos de cereais, como a casquinha da aveia, para reposição da cama em períodos de baixa oferta de serragem e/ou maravalha.
Independente do material utilizado para cobertura da cama em compost barn, o composto gerado pode ser utilizado como adubo orgânico na própria fazenda ou vendido, gerando renda extra ao produtor.
Como mencionado, a escolha do tipo de material a ser utilizado na cama irá depender principalmente da sua disponibilidade e custo. Porém, os materiais que apresentam melhores resultados são a serragem e maravalha, desde que seja preconizado um bom manejo de cama, com revolvimento diário para incorporar oxigênio para a decomposição aeróbica da matéria orgânica.
Quer se especializar? Confira o curso “Manejo de cama em sistemas de Compost Barn” do EducaPoint!
Leia também:
Por que tantas fazendas estão indo para o Compost? Essa é sua hora?
Compost Barn: o que ninguém te conta antes de construir
Projeto e dimensionamento de Compost Barn
Referências
DAMASCENO, F. A. Compost Barn como uma alternativa para a pecuária leiteira. 1o ed. Divinópolis, 2020.
KING, T. Creatures of comfort; Dairy cattle on compost. Disponível em: <https://www.thelandonline.com/archives/creatures-of-comfort-dairy-cattle-on-compost/article_f48f3371-79bd-50d4-a550-cfecce0e4cf9.html>. .
LLONCH, L.; GORDO, C.; LÓPEZ, M.; et al. Agronomic characteristics of the compost-bedded pack made with forest biomass or sawdust. Processes, v. 9, n. 546, p. 1–12, 2021. Disponível em: <https://www.mdpi.com/2227-9717/9/3/546>. .
MOTA, V. C.; ANDRADE, E. T. DE; LEITE, D. F. Bed temperature in Compost Barns turned with rotary hoe and offset disc harrow. Eng. Agríc, v. 39, n. 3, p. 280–287, 2019.
SANTOS, M. V. DOS; FONSECA, L. F. L. DA. Controle de mastite e qualidade do leite - Desafios e soluções. 1o ed. Pirassununga/SP, 2019.
SILVA, M. V. DA; PANDORFI, H.; ALMEIDA, G. L. P. DE; et al. Spatial variability and exploratory inference of abiotic factors in barn compost confinement for cattle in the semiarid. Journal of Thermal Biology, v. 94, p. 1–11, 2020.