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Utilização de resíduos como fertilizantes: é possível?

JULIO CESAR PASCALE PALHARES

EM 25/11/2022

6 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 17/11/2022

Os resíduos orgânicos da pecuária leiteira devem ser entendidos como um ativo, devido ao seu teor de nutrientes e suas características que proporcionam a melhoria da qualidade do solo, além de contribuírem para redução do custo com a compra de fertilizante químico.

As vantagens citadas acima já foram ditas e escritas por centenas de vezes. Elas são verdadeiras, mas as consequências do uso dos resíduos como fertilizante podem não ser as melhores se não respeitarmos as orientações técnicas e os limites ambientais.
 

Vale a máxima: Tudo que é bom, em excesso, pode ser tonar ruim!

Os agricultores chineses utilizam os resíduos animais como fertilizante desde os tempos antigos. Como fornecedor de matéria orgânica e nutrientes, os estercos de animais tornaram-se o insumo mais importante da história do desenvolvimento agrícola da China.

No Cinturão do Milho dos Estados Unidos (Corn Belt) o uso excessivo de fertilizantes é associado à contaminação das águas subterrâneas. No entanto, as recomendações continuam a ser feitas com base quase que, exclusivamente, em retornos econômicos (Powell e Rotz, 2015).

Nas últimas décadas, o maior impacto na qualidade da água dos rios na Nova Zelândia tem sido via áreas de pastagem que requerem grandes quantidades de fertilizantes para suportarem altas produções e densidades animal (Julian et al., 2017). Na Holanda, fazendas leiteiras com área insuficiente para aproveitar todos os resíduos orgânicos como fertilizante são obrigados por lei a exportar o excedente para outras áreas (Klootwijk et al., 2016).

Os nutrientes dos resíduos orgânico não são utilizados de forma eficaz na pecuária devido:

  1. distribuição desigual das fezes e urina pelos animais no pasto;
  2. a coleta e o armazenamento dos dejetos é, muitas vezes inadequada a incompleta, com grandes perdas por volatilização e lixiviação;
  3. o incorreto momento e método de aplicação do resíduo no solo;
  4. a liberação lenta dos nutrientes orgânicos;
  5. os preços relativamente baixos dos fertilizantes químicos (Sutton et al. 2013; Strokal et al. 2016; Hou et al. 2017).

Nos textos anteriores A matemática ambiental da produção de leite: qual a calculadora que temos e A matemática ambiental da produção de leite: qual a realidade da produção leiteira mundial e brasileira, apresentei o conceito do balanço de nutrientes e suas vantagens como ferramenta para darmos maior eficiência no uso de nutrientes pela atividade leiteira.

O conceito do balanço de nutrientes também é válido para fazer com que utilizemos os resíduos como fertilizante com segurança ambiental e benefícios econômicos e agronômicos.

A regra é simples! A cultura vegetal tem uma necessidade de nutrientes. O solo é fonte de nutrientes, seja por uma questão natural ou por um histórico de adubação. Portanto, devemos aplicar a quantidade de resíduo que supra a necessidade da cultura, considerando o que já está disponível no solo. Isso é fazer o balanço de nutrientes no uso dos resíduos como fertilizante.

Devem-se considerar todos os fertilizantes minerais ou orgânicos aplicados na área para que não haja excesso de nutrientes no solo. A quantidade de resíduo a ser aplicada também dependerá da fertilidade do solo (áreas com baixa fertilidade podem ter taxas de aplicação mais altas), frequência de aplicação e condições climáticas.

A aplicação dos fertilizantes orgânicos no solo deverá ser associada a técnicas que visem minimizar as perdas de nutrientes por erosão, lixiviação, escoamento superficial e volatilização. Neste sentido, devem ser adotadas práticas e sistemas de produção conservacionistas (sistema plantio direto, cultivo em nível, entre outros) e formas de aplicação dos fertilizantes orgânicos e minerais apropriadas (injeção, incorporação, parcelamento, etc.).

O manejo ambiental vigente na produção animal brasileira e mundial é o uso dos resíduos orgânicos como fertilizante porque esta é a forma mais simples e barata de se dar destino aos resíduos. Mas o simples e barato não pode significar degradação ambiental.

É muito comum no Brasil vermos propriedades que possuem a licença ambiental, ou seja, estão de acordo com a legislação, mas quando fazem a aplicação do resíduo no solo, não consideram o balanço de nutrientes e por isso causam impactos ambientais negativos no solo, nas águas e no ar. Veja o caso de uma propriedade leiteira em Minas Gerais.

Figura 1. Exemplo de uso de dejetos leiteiros em uma propriedade em Minas Gerais.

Caso de uma propriedade leiteira em Minas Gerais

A experiência de outros países, no ensina que há dois caminhos para se fazer o correto uso dos resíduos como fertilizante: existência de limites e padrões na legislação para que o uso se dê de forma correta e educação de técnicos e produtores para fazer o cálculo do balanço de nutrientes.

A matemática do balanço não é difícil se tivermos as informações necessárias:

  • Recomendação agronômica da cultura;
  • Análise de fertilidade do solo;
  • Concentração de nutrientes no resíduo.
     

Das três informações, a mais difícil de ter é a última, por não haver o hábito de se fazer a análise química dos resíduos. Este hábito tem que mudar! Só assim os produtores poderão calcular o balanço de nutrientes com precisão e dar segurança ambiental e viabilidade econômica ao uso dos resíduos.

Uma opção é utilizar dados técnicos da literatura para se ter os teores de nutrientes dos resíduos. É uma opção, mas não é a melhor, pois, estes dados podem ter sido gerados em condições produtivas muito diferentes da propriedade, o que fará com que o cálculo do balanço de nutrientes tenha maior imprecisão.

O balanço de nutrientes é uma ferramenta poderosa para darmos maior eficiência de uso dos nutrientes nos sistemas leiteiros, bem como para darmos segurança ambiental ao uso dos resíduos como fertilizante.

O primeiro passo para que internalizemos o balanço no cotidiano da atividade é a documentação do uso dos fertilizantes químicos e orgânicos na propriedade. A Tabela 1 pode ser utilizada para esta documentação.

Tabela 1. Documentação do uso de fertilizantes na unidade de produção.

Tabela para documentação do uso de fertilizantes na unidade de produção

No próximo texto trarei exemplos práticos de como aplicarmos os resíduos no solo tendo como referencial o balanço de nutrientes.

Até lá!
 

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Referências Bibliográficas

Hou Y, Velthof GL, Lesschen JP, Staritsky IG, Oenema O. 2017. Nutrient recovery and emissions of ammonia, nitrous oxide, and methane from animal manure in Europe: effects of manure treatment technologies. Environmental Science Technology 51, 375–383.

Julian, J. P., K. M. de Beurs, B. Owsley, R. J. Davies-Colley, and A. G. E. Ausseil. 2017. River water quality changes in New Zealand over 26 years: response to land use intensity. Hydrology and Earth System Sciences 21, 1149–1171. doi:10.5194/hess-21-1149-2017

Klootwijk, C.W., Van Middelaar, C.E., Berentsen, P.B.M., De Boer, I.J.M., 2016. Dutch dairy farms after milk quota abolition: economic and environmental consequences of a new manure policy. J. Dairy Sci. 99, 8384–8396. https://doi.org/10.3168/jds.2015-10781

MARA (Ministry of Agriculture and Rural Affairs of the People’s Republic of China), 2020. Improve Requirement and Strengthen Supervision of Returning Livestock Manure to Cropland (in Chinese). https://www.moa.gov.cn/govpublic/xmsyj/202006/t20200617_6346644.htm

Powell J.M, Rotz C.A. 2015. Measures of nitrogen use efficiency and nitrogen loss from dairy production systems. Journal of Environmental Quality 44, 336–344.

Strokal M, Ma L, Bai Z, Luan S, Kroeze C, Oenema O, Velthof G, Zhang F. 2016. Alarming nutrient pollution of Chinese rivers as a result of agricultural transitions. Environmental Research Letters 11, 024014

Sutton, M.A., Bleeker, A., Howard, C.M., Bekunda, M. et al. 2013. Our Nutrient World: The challenge to produce more food and energy with less pollution. Global Overview of Nutrient Management. Centre for Ecology and Hydrology, Edinburgh on behalf of the Global Partnership on Nutrient Management and the International Nitrogen Initiative. https://initrogen.org/index.php.publications/our-nutrient-world/

JULIO CESAR PASCALE PALHARES

Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste

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IGOR BIRELO SANCHES

MARÍLIA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 11/10/2023

Boa tarde!

Estou escrevendo um pré-projeto de mestrado e pretendo trabalhar a adequação do manejo de dejetos em propriedade rural leiteira de 250L/dia. Neste aspecto, gostaria de saber quais os referenciais que posso utilizar para embasar a escolha do modelo de biodigestor empregado na proposta. Há diversos tipos e, no entanto, gostaria de trabalhar com um deles para que seja então realizado a análise de viabilidade técnica e financeira.

Abraços! Muito obrigado.

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