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Impacto do equipamento de ordenha sobre a mastite bovina

POR MARCOS VEIGA SANTOS

MARCOS VEIGA DOS SANTOS

EM 27/08/2004

7 MIN DE LEITURA

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Em resposta à demanda crescente por leite de alta qualidade, tem-se observado grande aumento do número de novos equipamentos de ordenha instalados em fazendas leiteiras de todas as regiões do Brasil. Este fato, no entanto, ainda contrasta com a manutenção de sistemas de ordenha manual para a grande maioria do leite produzido no nosso país, o que dificulta a melhoria da qualidade do leite nestas condições de exploração. Mesmo nas propriedades que contam com ordenha mecânica, ainda predomina na sua maioria os sistemas do tipo balde ao pé, o que demonstra o grande potencial de crescimento que este setor apresenta.

Entre produtores e técnicos do setor, são ainda freqüentes crenças infundadas sobre o equipamento de ordenha, como por exemplo, a afirmação: "o equipamento de ordenha causa mastite". Tal crença ocorre pela falta de informações corretas sobre o funcionamento, dimensionamento, avaliação e manutenção do equipamento de ordenha, uma vez que em muitas fazendas são observadas falhas graves no uso deste equipamento. Deve-se destacar que entre os principais objetivos do equipamento de ordenha em uma fazenda leiteira estão:
 

  • a) Maximizar a produção leiteira;
    b) Permitir a ordenha rápida das vacas;
    c) Prevenir a ocorrência de lesões nos tetos e úbere;
    d) Não apresentar alterações na composição e qualidade do leite;
    e) Propiciar conforto ao ordenhador.

A obtenção de leite de alta qualidade, entretanto, é o resultado de inúmeros fatores associados, entre os quais devemos considerar: saúde da glândula mamária, manejo de ordenha que atenda os requisitos de obtenção higiênica do leite, resfriamento imediato do leite após a ordenha e ausência de resíduos indesejáveis. Desta forma, o uso correto do equipamento em condições adequadas é um importante fator relacionado com a qualidade do leite e controle de mastite. Pode-se considerar que o equipamento de ordenha é único dentro de uma fazenda leiteira, visto que esta máquina é a que entra em contato mais íntimo com a vaca leiteira, pelo menos uma vez ao dia, durante toda a lactação. Todos os esforços empregados numa fazenda leiteira, como o manejo, a nutrição, o melhoramento genético e a sanidade, são colhidos no momento da ordenha, destacando o papel essencial do bom funcionamento do equipamento de ordenha.

Normatização dos equipamentos de ordenha no Brasil

O uso de normas técnicas sobre o funcionamento de equipamentos de ordenha já é largamente difundido em muitos países como EUA, Europa e Nova Zelândia. Estas normas definem de forma clara a terminologia, o funcionamento e dimensionamento e os testes de aferição e checagem dos equipamentos de ordenha naqueles países. A partir de 2002, o Comitê de Equipamentos de Ordenha do Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (CBQL) definiu as normas brasileiras para equipamentos de ordenha. Atualmente, estas normas são reconhecidas pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) através da INSTRUÇÃO NORMATIVA SDA Nº 48, DE 12 DE AGOSTO DE 2002 e pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Atualmente, estão disponíveis através do CBQL publicações simplificadas sobre as normas brasileiras, o que pode ser uma fonte de consulta de todos os envolvidos com produção de leite de alta qualidade, conforme exemplo na tabela 1 e 2.

Tabela 1 - Dimensionamento dos componentes do equipamento tipo Balde ao Pé.
 


Tabela 2 - Recomendações do nível de vácuo em função do tipo de equipamento

 


Desta forma, temos atualmente de forma simples e acessível uma norma que pode ser aplicada nas condições brasileiras de produção de leite para o adequado dimensionamento e funcionamento dos equipamentos de ordenha. Isto permite dar credibilidade em termos técnicos para a instalação de novos equipamentos de ordenha, assim como averiguar o funcionamento dos equipamentos instalados. Deve-se ressaltar que o adequado funcionamento do equipamento de ordenha é um dos pilares básicos para o controle de mastite e a produção de leite de alta qualidade. Sem esta condição básica, todos os esforços e investimentos adicionais na melhoria da produção de leite podem não ter o retorno esperado.

Relação entre equipamento de ordenha e desenvolvimento da mastite

A despeito de inúmeras pesquisas sobre o tema, é bastante difícil definir qual a porcentagem de casos de mastite que ocorrem devido ao funcionamento do equipamento de ordenha. As estimativas mais recentes, no entanto, apontam que a ordenha mecânica apresenta efeitos diretos e indiretos e que, conjuntamente, o equipamento pode estar relacionado com uma parcela de novos casos de mastite em um rebanho, variando de 6 a 20%. Os efeitos diretos podem representar cerca de 10% das novas infecções, estando ligados à transferência de bactérias entre vacas e entre tetos, contaminação cruzada e penetração de bactérias para dentro do teto. Os efeitos indiretos representariam os outros 10% das novas infecções e estão relacionados às lesões causadas na extremidade e pele dos tetos. No entanto, estas são apenas estimativas devido ao caráter multifatorial das causas da mastite. Desta forma, é possível afirmar que a maioria das causas de novas infecções relaciona-se com fatores outros que não o equipamento de ordenha.

Ainda que o equipamento de ordenha entre em contato direto com os tetos durante a ordenha, o risco potencial do seu uso afetar a saúde de glândula mamária, causando novas infecções, é baixo, quando o equipamento encontra-se em condições adequadas de operação. Por outro lado, é correta a afirmação de que o inadequado uso e funcionamento do equipamento de ordenha, além de deficiências na sua manutenção, podem ser fatores de risco para o desenvolvimento da mastite. O equipamento de ordenha pode estar associado ao desenvolvimento de novas infecções intramamárias nas seguintes formas:

a) Facilitar a transferência de bactérias entre as vacas durante a ordenha

Durante a ordenha, podem ocorrem várias oportunidades de transferência de bactérias entre vacas e quartos. As vacas infectadas contaminam a superfície das teteiras com resíduos de leite, as quais passam a atuar como carreador de patógenos para a pele do teto de vacas sadias durante a ordenha. Teteiras velhas, que ultrapassaram a sua vida útil, desenvolvem rachaduras, nas quais ocorrem acúmulos de bactérias patogênicas. Além disso, a preparação inadequada do úbere antes da ordenha, pelo uso de toalhas de uso múltiplo ou pelas mãos dos ordenhadores, também pode atuar na transmissão de agentes causadores de mastite.

b) Aumento de lesões na pele e extremidade do teto

Um dos principais fatores que afetam a ocorrência de mastite é o aumento da exposição da extremidade do teto aos agentes patogênicos. A máquina de ordenha em funcionamento inadequado pode causar lesões na extremidade do teto, tais como a hiperqueratose, as quais são colonizadas por bactérias patogênicas e podem resultar em novas infecções. As principais situações que resultam em lesões dos tetos são: alto nível de vácuo, sobre-ordenha e falhas nos pulsadores. Como exemplo, alto nível de vácuo (> 60 KPa) está associado com maior ocorrência de hiperqueratose, assim como alterações nas fases de pulsação, principalmente pela massagem insuficiente, podem resultar em maior taxa de novas infecções.

c) Aumento da penetração de bactérias para dentro do teto

Flutuações bruscas no nível de vácuo durante a ordenha podem resultar em fluxo reverso de ar e leite para dentro da glândula mamária, e conseqüentemente, levar ao aparecimento de novas infecções. Estas flutuações de vácuo ocorrem devido à capacidade de bomba de vácuo insuficiente e problemas no regulador de vácuo. Desta forma, quando ocorre o deslizamento e queda de teteiras e rápidas introduções de ar na unidade de ordenha, o fluxo normal do leite é invertido e pequenas gotículas podem ser introduzidas para dentro do teto, possibilitando o aparecimento de novas infecções. A manutenção adequada do equipamento, a secagem completa dos tetos e a remoção cuidadosa da unidade de ordenha após o término do fluxo de leite são medidas que reduzem os riscos do fluxo reverso de leite.

d) Modificação das condições intramamárias ou dos tetos aumentando a infecção bacteriana ou dificultando os mecanismos de defesa

O equipamento de ordenha pode causar alterações nos tecidos da glândula mamária, tornando-a mais susceptível à colonização e infecção. Estas alterações podem incluir: a) congestão e edema (inchaço) dos tetos resultando em menor fechamento do esfíncter do teto; b) menor velocidade de regeneração da queratina presente no canal do teto; c) maior abertura do canal dos tetos após a ordenha. Adicionalmente, lesões que provoquem dor na glândula mamária podem reduzir a capacidade de resposta imune do animal e aumentar assim a ocorrência de infecções intramamárias.

Bibliografia consultada

Mein, G., Reinemann, D., Schuring, N., Ohnstad,I. Milking machines and mastitis risk: a storm in a teatcup. National Mastitis Council Annual Meeting Proceedings, Charlotte, North Carolina, p.176-188, 2004.

MARCOS VEIGA SANTOS

Professor Associado da FMVZ-USP

Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP 13635-900
19 3565 4260

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