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Ácidos graxos de cadeia média: quanto suplementar?

VÁRIOS AUTORES

RODRIGO DE ALMEIDA

EM 21/03/2023

5 MIN DE LEITURA

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A suplementação com gordura foi, por muitas décadas, associada a apenas uma estratégia para elevar a densidade energética da dieta, permitindo aumentar a produção e a gordura do leite, dependendo do perfil de ácidos graxos (AG) da gordura fornecida.

Porém, os estudos sobre suplementação lipídica vêm sendo mais frequentes, mostrando que o perfil de ácidos graxos que compõe os suplementos pode causar diferentes respostas no metabolismo animal.

Tais respostas vão depender do grau de saturação da gordura utilizada (saturada ou insaturada), tamanho da cadeia do ácido graxo (curta, média ou longa), dose utilizada, grupamento racial, estação do ano, período de lactação e categoria animal.

Uma classe de ácidos graxos que tem ganho crescente interesse são os ácidos graxos de cadeia média (AGCM). Os AGCM são compostos por AG com cadeias de 6 a 12 carbonos, sendo eles o ácido capróico (C6:0), ácido caprílico (C8:0), ácido cáprico (C10:0) e ácido láurico (C12:0), os quais são encontrados com maior abundância no óleo de coco e em menores quantidades no óleo de palma.

Esses ácidos graxos foram notados devido ao seu frequente uso em dietas de monogástricos e na conservação de forragens, atuando como antimicrobianos, a fim de evitar o crescimento de microrganismos patogênicos. Além disso, os AGCM possuem vias metabólicas distintas dos ácidos graxos de cadeia longa (AGCL), fornecendo energia ao animal de forma mais rápida e eficaz.     

Os AGCM são absorvidos no intestino mais rapidamente por não precisarem de um transportador, de modo que o processo de absorção é facilitado (Figura 1). Além disso, também não requerem carnitina palmitoil transferase para entrarem na mitocôndria celular e serem oxidados.

Figura 1. Absorção intestinal e transporte de AGCM e AGCL do lúmen para o fígado. AGCM: ácidos graxos de cadeia média; AGCL: ácidos graxos de cadeia longa; TCM: triglicerídeos de cadeia média; TCL: triglicerídeos de cadeia longa.

acido graxo cadeia longa
Fonte: Adaptado de Dean e English, 2013.

 

A suplementação de AGCM não é uma prática tão comum na alimentação de bovinos leiteiros. Porém, alguns estudos têm mostrado resultados interessantes, principalmente com impacto na microbiota do rúmen. Os AGCM atuam no ambiente ruminal com efeito antimicrobiano, tornando a membrana plasmática das bactérias instável, ocorrendo a morte celular das mesmas.

A suplementação de AGCM mostrou também diminuição da população de protozoários e arqueobactérias (microrganismos unicelulares que se assemelham a bactérias e produzem metano). Quando ocorre a mudança na microbiota ruminal, também pode reduzir o consumo e a digestibilidade da FDN em decorrência da diminuição da população de protozoários, os quais têm como função principal a digestão de fibra.

Tais propriedades antimicrobianas no rúmen podem ter efeitos positivos e negativos no desempenho animal dependendo da dose utilizada durante a suplementação. Estudos revelam que suplementar AGCM com dosagens > 1% da MS (230 g para uma vaca com ingestão de 23 kg MS/dia) reduz a emissão de gás metano.

Por outro lado, em consequência desta alta dosagem, há também redução da digestibilidade da FDN, bem como na ingestão de MS, na digestibilidade de nutrientes e na produção de leite, como já mencionado acima. No entanto, quando AGCM são suplementados com uma dose mais baixa, abaixo de 1% da MS, observa-se o aumento do número de neutrófilos, ativando imunomoduladores em vacas no início de lactação.

Ainda, a suplementação de 0,186% na MS (43 g para uma vaca com ingestão de 23 kg MS/dia) mostrou um aumento na produção de leite e redução na incidência de cetose. Ainda que os mecanismos desses efeitos metabólicos não estejam completamente claros para os pesquisadores, talvez uma menor inclusão de AGCM seja a mais recomendada para minimizar os efeitos negativos mencionados acima e priorizar os mecanismos benéficos.

Em um estudo recente, conduzido na Universidade de Alberta, Canadá em 2022, os pesquisadores utilizaram 0,063% na MS (15 g para uma vaca com ingestão de 23 kg MS/dia) de AGCM em 30 vacas na metade da lactação, sendo que o objetivo principal foi avaliar os efeitos da baixa dosagem no desempenho, metabolismo, digestibilidade, fermentação e perfil da microbiota ruminal. Os autores não encontraram diferenças no consumo de MS, digestibilidade de FDN e demais nutrientes; bem como a produção e componentes do leite não diferiram entre o grupo tratamento e controle.

Entretanto, vacas suplementadas com AGCM apresentaram pH ruminal mais elevado e menor oscilação do pH ruminal durante o dia. Em relação à microbiota ruminal, não observaram diferenças na população de bactérias e protozoários, mas foram notadas alterações na população de arqueobactéricas (metanogênicas).

Assim, em resposta à pergunta inicial, hoje ainda não existe uma dose ideal única para a suplementação de AGCM; isso dependerá do objetivo do nutricionista e do rebanho. Pelos dados disponíveis na literatura, parece que a suplementação baixa ou moderada (<1% da MS) é a mais indicada. Tal cenário tipicamente apresenta efeito favorável no desempenho animal, principalmente em relação à redução de gás metano e ativação de imunomoduladores no metabolismo animal.

Nota dos autores: nosso grupo de pesquisa recentemente concluiu um experimento avaliando a suplementação de AGCM para vacas no período de transição, adotando uma estratégia de baixa inclusão (45 g/vaca/dia; 0,25-0,35% da MS). Em breve, compartilharemos os principais resultados deste estudo com os leitores do MilkPoint.
 

Referências

Burdick, M., Zhou, M., Guan, L. L., & Oba, M. Effects of medium-chain fatty acid supplementation on performance and rumen fermentation of lactating Holstein dairy cows. Animal: an international journal of animal bioscience (2022), 16(4), 100491.

Dean, W., English, J. Medium Chain Triglycerides (MCTs). Nutrition Review (2013).

De Smet, K., K. Deschepper, E. Van Meenen, J. De Boever. Effects of medium chain fatty acids on rumen fermentation. Book of abstracts of the 60th annual meeting of the European Association for Animal Production, 24–27 August 2009, Barcelona, Spain, (2009), p. 514.

Faciola, A.P., G.A. Broderick. Effects of feeding lauric acid on ruminal protozoa numbers, fermentation, and digestion and on milk production in dairy cattle. Journal of Animal Science, 91 (2013), pp. 2243-2253.

Hristov, A.N., M. Vander Pol, M. Agle, S. Zaman, C. Schneider, P. Ndegwa, V.K. Vaddella, K. Johnson, K.J. Shingfield, S.K.R. Karnati. Effects of lauric acid and coconut oil on ruminal fermentation, digestion, ammonia losses from manure, and milk fatty acid composition in lactating cows. Journal of Dairy Science, 92 (2009), pp. 5561-5582.

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