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Suplementar vacas recém paridas com gordura é uma boa ideia?

VÁRIOS AUTORES

RODRIGO DE ALMEIDA

EM 26/02/2021

7 MIN DE LEITURA

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A utilização de alimentos ricos em gordura na dieta de vacas em lactação é uma estratégia utilizada há muitos anos com o intuito inicial de adensar energeticamente a dieta, especialmente quando a demanda dos animais por energia é elevada e o consumo é reduzido, em situações como início da lactação e estresse térmico (Piantoni et al., 2015).

Fontes de gordura comumente utilizadas em dietas de vacas lactantes incluem sementes oleaginosas como caroço de algodão e soja integral crua ou tostada, gordura animal (proibida no Brasil) e suplementos lipídicos comerciais, como gorduras protegidas ou hidrogenadas.

Ainda há dúvidas sobre as vantagens do uso de ácidos graxos (AG) nas dietas no início de lactação. Alguns estudos da década de 80 e 90 mostram redução pronunciada no consumo e aumento da chegada de AG para serem metabolizados no fígado com a suplementação de AG insaturados na forma de sais de cálcio (Drackley, 1999).

Outros estudos demonstram que a suplementação com uma mistura de ácido palmítico (C16:0) e esteárico (C18:0) no início da lactação resulta no aumento de reservas corporais, menos energia destinada para produção de leite e aumento do escore de condição corporal, principalmente pelo efeito metabólico do ácido esteárico (Piantoni et al., 2015), enquanto o fornecimento de um suplemento similar após o pico de lactação resultou na maior ingestão de energia e maior produção de leite (Weiss et al., 2013).

O ácido palmítico (C16:0) é um ácido graxo saturado de cadeia longa, o qual vêm ganhando espaço na pesquisa de suplementação lipídica de vacas leiteiras, pelo seu potencial em aumentar a produção de leite, produção de gordura e eficiência alimentar (Lock et al., 2013; Piantoni et al., 2013).

No entanto, a resposta potencial da suplementação durante o início da lactação e o nível de inclusão ainda não foi bem estabelecido, visto que a maioria dos experimentos com suplementação lipídica foram realizados no pós-pico de lactação.

Rico et al. (2017) recomendaram 1,5% de inclusão de ácido palmítico na MS para vacas no terço médio de lactação (146 DEL); quando a inclusão foi aumentada, o consumo, a produção de leite e seus componentes foram reduzidos. Dessa forma, o mesmo nível de inclusão de ácido palmítico (1,5% da MS) foi utilizado no trabalho descrito a seguir, no entanto não se sabe ao certo se essa é a inclusão ideal de suplementação imediata no pós-parto.

Neste estudo da Universidade de Michigan, EUA, foi fornecido suplemento de ácido palmítico no início da lactação (1-24 DEL) e pico de lactação (25-67 DEL) para um total de 52 vacas. Os autores De Souza et al. (2019) planejaram o experimento de forma que um grupo de 13 vacas recebesse a suplementação apenas no início da lactação, outro grupo de 13 vacas recebesse em ambos períodos (início e pico de lactação), o terceiro grupo de 13 vacas não recebeu no início, porém foi suplementado no pico, enquanto o quarto grupo (também de 13 vacas) não foi suplementado em ambos os momentos, isso com o objetivo de avaliar os efeitos da suplementação com ácido palmítico em diferentes períodos de lactação.

A utilização do ácido palmítico na dieta de vacas no início da lactação não apresentou efeito sobre a produção de leite e o consumo de matéria seca. Ou seja, ao contrário do que muitos pensam, a suplementação lipídica com palmítico não comprometeu o consumo.

Porém, a suplementação aumentou em 5,3 kg/d a produção de leite corrigida para 3,5% de gordura, além de aumentar em 4,7 kg/d a produção de leite corrida para energia. Já no pico de lactação a produção de leite aumentou em 3,45 kg/d, bem como a produção de leite corrigida para gordura e energia (4,5 kg/d e 4,6 kg/d, respectivamente), apesar da ingestão de matéria seca não ter sido afetada pela suplementação de ácido palmítico.

Da mesma forma, as produções (mas não os teores) de gordura e proteína no leite dos animais suplementados com ácido palmítico aumentaram tanto no início da lactação quanto no pico. No início da lactação a produção de gordura aumentou em 280 g/d, já no pico esse aumento foi de 210 g/d. Já para proteína, os valores são de 100 g/d e 140 g/d, respectivamente.

Também avaliada, a digestibilidade da MS, da FDN e dos ácidos graxos também foram afetadas pela suplementação dessa gordura. No início da lactação, as digestibilidades aumentaram em 3%, 4,4% e 4,7% (para AG totais), respectivamente. Já no pico, os aumentos foram de 2,9%, 3,5% e 7% (para 16C).

Outro quesito avaliado foi a ingestão de energia (digestível, metabolizável e líquida), que também aumentou com a suplementação de ácido palmítico. Por outro lado, o ácido palmítico reduziu o peso vivo, escore de condição corporal, insulina plasmática e aumentou os ácidos graxos não esterificados no sangue no início da lactação, agravando o balanço energético negativo; efeitos que merecem cuidado e atenção dos nutricionistas.

Os resultados de De Souza et al. (2019) indicam que a suplementação com ácido palmítico aumenta a produção de leite quando fornecido imediatamente após o parto, mas essa resposta se mostra independente do estádio de lactação.

A suplementação no pós-parto também parece oferecer um efeito residual ao longo da lactação, embora ocorra uma preocupação com o agravamento do balanço energético negativo. Assim, no pico de lactação, os resultados se mostram mais expressivos na produção de leite e seus componentes, além de melhor desempenho corporal do animal no pico de lactação.

Como já mencionado acima, foi observado que a suplementação de ácido palmítico não afetou a produção de leite durante o período pós-parto, mas quando suplementado no pico de lactação a produção de leite aumentou em 3,45 kg/d.

Esses resultados indicam que a produção de leite geralmente não é afetada quando os suplementos de AG saturados são administrados imediatamente no período pós-parto, mas a produção de leite pode aumentar quando esses suplementos são fornecidos após a 3 a 4 semana após o parto (Beam e Butler, 1998; Weiss e Pinos-Rodriguez, 2009; Piantoni et al., 2015).

Dessa forma, podemos concluir que o ácido palmítico aumenta a produção de energia do leite as custas de reservas corporais no início da lactação, levando a maior perda de peso vivo e escore de condição corporal. No entanto, ainda falta compreender os mecanismos que modulam essa resposta. Vale ainda, ressaltar que a resposta a suplementação de ácidos graxos pode depender do estádio de lactação, da produção de leite e da composição em ácidos graxos do suplemento lipídico utilizado.

Aliás talvez esta seja a nossa recomendação prática mais importante aos leitores do MilkPoint; nem todos os suplementos de gordura são iguais! Assim, como produtor ou nutricionista de um rebanho, ao avaliar a inclusão de uma gordura protegida ou hidrogenada na dieta do seu rebanho, exija da empresa que comercializa este suplemento, um laudo de análise que demonstre o perfil de AG do suplemento.

Referências

Beam, S. W., W. R. Butler. 1998. Energy balance, metabolic hormones, and early postpartum follicular development in dairy cows fed prilled lipid. J. Dairy Sci. 81:121-131.

De Souza, J., Lock, A. L. 2019. Effects of timing of palmitic acid supplementation on production responses of early-lactation dairy cows. J. Dairy Sci. 102:260-273.

De Souza, J., Strieder-Barboza, C., Contreras, G. A., Lock, A. L. 2019. Effects of timing of palmitic acid supplementation during early lactation on nutrient digestibility, energy balance, and metabolism of dairy cows. J. Dairy Sci. 102:274-287.

Drackley, J. K. 1999. Biology of dairy cows during the transition period: the final frontier? J. Dairy Sci. 82:2259–2273.

Lock, A. L., C. L. Preseault, J. E. Rico, K. E. DeLand, M. S. Allen. 2013. Feeding a C16:0-enriched fat supplement increased the yield of milk fat and improved feed efficiency. J. Dairy Sci. 96:6650-6659.

Piantoni, P., A. L. Lock, M. S. Allen. 2013. Palmitic acid increased yields of milk and milk fat and nutrient digestibility across production level of lactating cows. J. Dairy Sci. 96:7143-7154.

Piantoni, P., A. L. Lock, M. S. Allen. 2015. Milk production responses to dietary stearic acid vary by production level in dairy cattle. J. Dairy Sci. 98:1938-1949.

Rico, J. E., J. de Souza, M. S. Allen, A. L. Lock. 2017. Nutrient digestibility and milk production responses to increasing levels of palmitic acid supplementation vary in cows receiving diets with or without whole cottonseed. J. Anim. Sci. 95:436-446.

Weiss, W. P., J. M. Pinos-Rodríguez. 2009. Production responses of dairy cows when fed supplemental fat in low- and high-forage diets. J. Dairy Sci. 92:6144-6155.

Weiss, W. P., D. E. Shoemaker, L. R. McBeth, N. R. St-Pierre. 2013. Effects on lactating dairy cows of oscillating dietary concentrations of unsaturated and total long-chain fatty acids. J. Dairy Sci. 96:506-514.

MILAINE POCZYNEK

Mestranda em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP

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