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Produção de leite a pasto ou em confinamento: onde se lucra mais? - Parte 2

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/09/2004

9 MIN DE LEITURA

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Por João Cesar de Resende1 e Duarte Vilela1

Em artigo publicado no MilkPoint do dia 14/07/2004 (Clique Aqui para ler) argumentamos que "... a produção de leite a pasto ... quando comparada com sistemas em confinamento, é mais viável economicamente, apresentando margem de lucratividade até 50% maior ....". Nossa afirmativa causou uma surpreendente, mas proveitosa, polêmica entre os leitores. Várias manifestações sobre o assunto foram encaminhadas ao site e publicadas pelo editor, sem falar das mensagens que recebemos diretamente, sempre contendo elogios e questionamentos de produtores, técnicos e especialistas em produção de leite. Tanto nas cartas como nos contatos pessoais, em cada dez leitores, oito discordaram de nosso posicionamento.

O importante, e até honroso para nós que despertamos a discussão, é que as manifestações partiram principalmente de pesos pesados do leite nacional, entre eles técnicos gabaritados no assunto e outros, grandes produtores igualmente experientes e respeitados pelos posicionamentos sensatos que tomam publicamente sobre as questões do agronegócio do leite. Houve um choque entre técnicos da academia e a turma da produção, que realmente entende do curral e vive o mundo selvagem do mercado, dos custos altos, das margens apertadas (freqüentemente negativas), dos preços baixos, da instabilidade dos preços e da falta de políticas consistentes para o setor

É verdade que nossa conclusão foi extraída de resultados de experimento (de "canteiros", como alguns dizem) e, como se sabe, nem sempre um experimento, pelas próprias condições em que é conduzido, reflete as armadilhas do mundo real. Ademais, experimentos acontecem sob condições controladas. Sob esta ótica, avaliação com 32 vacas, ainda que conduzido durante dez anos e com o maior cuidado e rigor possíveis para se evitar erros nas mensurações, jamais poderia fundamentar conclusões polêmicas como esta que tiramos: "leite a pasto dá mais lucro que o leite em confinamento".

Pois bem: estamos aqui para falar mais sobre o assunto. Tentaremos voltar com mais informações e (tentar, quem sabe?) trazer algumas colocações que possam complementar melhor o que falamos. Convidamos os leitores que se manifestaram e também os que em silêncio acompanharam a polêmica, para conosco desenvolvermos raciocínio simples sobre duas fazendas de produção de leite: uma delas produzindo leite no sistema que chamamos "a pasto", em que 60% dos requerimentos nutricionais diários das vacas leiteiras são fornecidos pelo pasto; a outra produzindo leite em confinamento. Cada uma com 100 vacas em lactação, na média do ano.

Custos apurados

Tomando como base as informações e os critérios comparativos propostos e apresentados em detalhes no Anexo (colocado no final deste artigo) e fazendo os cálculos (sugerimos ao leitor fazer os cálculos também), chegamos aos seguintes resultados sobre os custos nas duas fazendas, nas simulações de produtividade (20, 25 e 30 l/vaca/dia no confinamento) e taxa de lotação (3, 4, 5 e 6 vacas/ha na pastagem) propostas:

Estimativa dos custos com a alimentação das vacas em efetiva produção, dos demais custos e da renda líquida em fazendas de leite com 100 vacas em lactação.


Pelos valores apresentados no quadro, algumas considerações que podemos levantar são: a) em termos de custos unitários, a produção de leite em regime de confinamento fica competitiva com a produção intensiva a pasto somente com níveis de produtividades diárias de 30 litros, por vaca; b) com um preço médio de R$ 0,62 por litro de leite (em setembro de 2004 produtores com mais de dois mil litros/dia conseguiram este preço), uma fazenda, com 100 vacas em lactação mantidas em pastagens (taxa de lotação de 3 vacas/ha) e produzindo em média 19 litros/vaca/dia, alcançou rentabilidade bruta superior a uma fazenda com o mesmo número de vacas em lactação, mas em confinamento, produzindo em média 25 litros/vaca/dia.

Com capacidade de suporte de 6 vacas/ha, a fazenda que utiliza a pastagem pode obter uma rentabilidade semelhante a do confinamento com 30 litros/vaca/dia; c) a produção de leite a pasto, mesmo com produtividade individual 30% menor, compete com a produção confinada em termos de rentabilidade; d) a produção de leite em regime de confinamento, para dar lucro na situação atual, precisa ter uma produção média diária por vaca igual ou superior a 25 litros de leite.

A questão da terra

É evidente que, numa fazenda com produção de leite em sistema confinado, a produtividade da terra é maior e, conseqüentemente, os custos indiretos do capital nela empatados pesarão menos nos custos do leite. No entanto, se levarmos em conta a área necessária para se produzir a silagem (lembrar que não é fácil produzir mais do que 70 toneladas de silagem de milho por ha/ano, mesmo considerando dois cultivos anuais na mesma área) e uma taxa anual de juros reais de 6 a 9% sobre o capital investido em terras, percebe-se que este fator de produção onera os custos do leite "a pasto" em pouco mais de R$0,05 (meio centavo) por litro, quando comparado com o confinamento.

Por outro lado, pelos dados do quadro, o uso da pastagem reduziu o custo do leite em até dez centavos por litro, quando comparado com o leite produzido pela fazenda que utiliza confinamento. Explica-se: mesmo sendo "a pasto" a produtividade relativa da terra continua alta, pois, pressupõe uma taxa de lotação de pelo menos quatro vacas/ha durante o período das águas. Suspeitamos, portanto, que a questão da produtividade da terra, mesmo sendo menor na fazenda que utiliza o pasto, não será o principal fator de decisão, ou o que vai deixar ou não confinamento mais competitivo.

Para concluir

Tudo que comentamos anteriormente foi sustentado em produtividades e critérios que podem ser questionados (sugerimos checá-los no anexo). O importante no entanto é que fizemos alguns cálculos que imaginamos que os produtores adeptos (ou não) do confinamento precisam fazer. Existe espaço no Brasil (e vai existir por muito tempo ainda) para uma infinidade e diferentes modelos de produção de leite. Sejam eles grandes ou pequenos, focados no pasto ou no confinamento, com vacas de média ou de alta produtividade, especializados ou mistos. A qualidade do gerenciamento (fazer contas faz parte do bom gerenciamento) e o uso de uma tecnologia adequada é que vão decidir os que vão dar lucro ou não, os que vão sobreviver, ou os que vão "liquidar" todo o plantel em um leilão anunciado numa revista do ramo. A possibilidade de se cometer erros ao fazer contas é muito grande. O erro será maior, no entanto, se deixar de fazê-las. Acertar as contas e errar nos critérios também dá no mesmo.

Confiram os critérios que estabelecemos. Num deles assumimos que os custos que não são relativos à alimentação das vacas em lactação são mais elevados no confinamento do que no pasto. Imaginamos que produzir leite em confinamento envolve maiores investimentos em benfeitorias, instalações e máquinas, maiores gastos com medicamentos e mão-de-obra, investimentos em animais mais caros e possivelmente menos resistentes a enfermidades, manejo mais complicado dos dejetos, não perdendo de vista também a questão do meio ambiente. Isto pode estar tudo correto ou não. Fizemos, no entanto, uma análise que gostaríamos que fosse considerada. Nossos dados sobre a produção em pastagem foram extraídos de pesquisas, mas espelhados em fazendas reais de produção a pasto. Podemos também trocar idéias com técnicos e produtores já experientes no confinamento e fundamentando as contas em dados de fazendas reais e com maiores escalas de produção, maiores produtividades e com bom gerenciamento. Deve ser considerada também a possibilidade de reduzir os custos "enxugando" os investimentos e, principalmente, utilizando alimentos alternativos mais baratos ou mais eficientes.

Anexo:

Detalhamento das duas fazendas comparadas

Fazenda com produção em confinamento:


Nesta fazenda as vacas são holandesas puras, com potencial de 6.000 a 9.000 kg de leite por lactação, recebem toda a sua alimentação (volumosa e concentrada) no cocho, sendo o volumoso uma silagem de milho de boa qualidade. Esta fazenda foi simulada em três níveis diferentes de produtividade média: 20, 25 e 30 litros de leite, por vaca, por dia. As quantidades diárias médias de concentrado e de silagem de milho, fornecidas para cada vaca, ao longo de toda a sua lactação, variaram de acordo com a produtividade. No primeiro caso (20 litros/dia) as vacas receberam em média 8,6 kg de concentrado e 29,8 kg de silagem. No segundo caso (25 litros/dia) 10,4 kg de concentrado e 31,8 kg de silagem e no terceiro (30 litros/dia), 12,7 kg de concentrado e 33,8 kg de silagem.

Fazenda com produção "a pasto":

Aqui as vacas, durante uma média de sete meses mais quentes e chuvosos do ano, permanecem numa pastagem de Cynodon (Tyfton 85 e Coast-Cross), adubada e com manejo rotacionado, sem complementação volumosa de cocho. Nos outros cinco meses, apesar de continuarem na pastagem, faz-se a suplementação volumosa com silagem de milho na média de 30 kg/vaca/dia. Ao longo do ano, recebem uma média de 6 kg de concentrado e produzem 19 kg de leite por dia. São animais com potencial para produção de 4.500 a 6.000 kg de leite por lactação. Esta fazenda foi simulada em quatro diferentes taxas de lotação: 3, 4, 5 e 6 vacas/ha.

Comparação dos custos e das margens de rentabilidade:

A título de simplificação foram estabelecidos alguns critérios, em torno dos quais poderia existir consenso, sem, no entanto, prejudicar a análise e nem "inventar" vantagens para um ou outro sistema.

1. O primeiro critério proposto foi dividir os custos de produção do leite, em duas partes. Uma que se chamou de A e a outra de B, cada uma incluindo o seguinte:

Parte A: inclui somente o custo de alimentação das vacas que estão efetivamente em lactação. Neste custo estão somadas todas as despesas com a pastagem, com a silagem de milho e o concentrado consumidos durante o ano.

Parte B: nesta parte foram incluídos todos os demais itens do custo do leite, entre eles os seguintes: mão-de-obra; medicamentos, produtos sanitários e assistência veterinária; ordenhadeira; inseminação; energia; manutenção do gado solteiro (vacas que não estão em lactação, novilhas e fêmeas em crescimento); juros e depreciações do capital investido em máquinas, equipamentos, benfeitorias e instalações; taxas e impostos; gerente; administração; e escritório. Do total desta parte B foram subtraídas as receitas apuradas com a venda de animais de descarte, processo que já se faz geralmente na determinação dos custos do leite.

2. Sabendo que: a) num sistema a pasto os custos desta parte B tendem a ser menores, se comparados com o confinamento; e b) os custos da alimentação (volumoso, pastagem e concentrados) representam em média aproximadamente a metade dos custos totais do leite (as planilhas de custos indicam isto) e levando em conta estimativas feitas em fazendas reais, assumiu-se que esta parte B, no sistema confinado, teria um valor fixo de R$ 230.000,00 e de R$ 172.500,00 (25% menor) na fazenda que utiliza a pastagem. Ao assumir um valor fixo para os custos da parte B na fazenda confinada, permitiu-se detectar a economia de escala nos vários itens dos custos fixos ao aumentar a produtividade do rebanho. Desta forma, tornou-se possível simplificar bastante as contas, pois passamos a tratar somente da alimentação das vacas em lactação, a parte A do custo, que entendemos seria o diferencial de rentabilidade das duas fazendas comparadas.

3. O terceiro critério proposto foi assumir que os custos unitários dos alimentos seriam iguais nas duas fazendas, e com os seguintes valores (para setembro de 2004):
- concentrado: R$ 570,00/tonelada;
- silagem de milho: R$ 60,00/t (inclui lavoura, processo de ensilagem, armazenamento, perdas totais e assistência agronômica)
- pastagem: R$ 1.395,00/ha (custo de utilização anual estimado para uma pastagem de Cynodon que inclui, entre outros itens, depreciação e juros sobre capital, manutenção anual com adubo (1.000 kg), calcário, mão-de-obra, cercas e assistência agronômica).

4. Como quarto critério, para fazer a comparação, assumiu-se que em cada uma das duas fazendas, pelo menos ao longo dos doze meses de nossa análise, haveria sempre 100 vacas em lactação. Ou seja, no momento em que determinada vaca interrompe a lactação, ela passa para a categoria "gado solteiro" e é substituída por outra recém- parida.

____________________________
1João Cesar de Resende e Duarte Vilela são Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite

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MARCELO DA CRUZ RODRIGUES

CUIABÁ - MATO GROSSO - ESTUDANTE

EM 25/04/2023

em uma fazenda 13 vacas produzem 18 litros de leites por dias quantos litros de leites sera produzundo por 28 vacas
JHENNIFFER ALVES

SANTO ANASTÁCIO - SÃO PAULO

EM 13/10/2020

É ideal que deixamos as vacas leiteiras soltar a pasto o tempo todo?se sim por que ?
EDMILTON VIEIRA DE ANDRADE

ANCHIETA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/08/2020

Boa tarde Pedro, isso mesmo na pecuária extensiva vai precisar de muita área, porem quando se fala em produzir leite com os novos sistemas de produção se consegue um lotação de ate 12 animais equitare, isso se deve ou sistema de piqueteamento, e nesse caso os animais não andam muito ficam em área limitada e pastam um piquete por dia, existe um sistema de pizza para quantidade de 600 animais funciona muito bem, o gado vai ao pasto e retorna para o curral de ordenha que fica no centro de toda estrutura, visando com que o animal não ande muito, como você mesmo mencionou quanto mais a vaca se esforça mais energia gasta e isso vai refletir diretamente no potencial do animal.
Edmilton andrade
ALBERTO LANARI OZOLINS

CAMANDUCAIA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/12/2019

Belo artigo-obrigado por sistematizar uma discussão presente todos os dias na pequena propriedade produtora de leite (200l/dia).
O foco do seu artigo é a essência de um negócio: lucro!! e não o faturamento. Fui e sou induzido a raciocinar pelo mercado para buscar um maior faturamento. NÃO É ASSIM (buscar o maior faturamento) QUE SE INICIA UM NEGÓCIO. https://www.linkedin.com/in/albertoozolins/
PEDRO CORREIA

CAMPINAS - SÃO PAULO

EM 16/11/2016

Pessoal, bom dia.



Gosto do tema agropecuária leiteira, mas sou leigo em alguns pontos.

Alguém pode me explicar por exemplo essa relação vaca/ha?

Quando vcs falam 3, 4 ou 6 vacas/ha significa que se eu tiver um rebanho de 600 cabeças terei de ter uma área de 100ha de pasto? Pergunto por que já li que a vaca não pode andar longas distancias, pois deve guardar energia p/ produzir leite, e se tiver rodar numa área de 100ha teria de andar muito p/ pastar.



Agradeço a quem puder me esclarecer.



abs, Pedro
FLAVIO ANTONIO MACEDO TURIN

SANTA BÁRBARA D'OESTE - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/08/2014

Concordo plenamente mesmo sendo adepto da produção em pasto, tem o extress do animal, bovinos possuem grandes floculencia acredito que aumenta com o confinamento, a digestão do animal deve ser prejudicada pois ele come de dia e rumina a noite, bom vou continuar com a produção em pasto
JOSÉ LUIZ DE ANDRADE FIGUEIRA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/11/2004

Na realidade não farei um comentário sobre o assunto em pauta. Tenho sim uma dúvida que gostaria que me fosse esclarecida: para se calcular a taxa de ocupação do número de vacas por ha foi utilizada a área total de pastagem ocupada por todo o rebanho leiteiro (vacas em lactação, vacas em préparto, vacas secas, novilhas, bezerras, reprodutores e rufiões ) ou somente a área ocupada pelas vacas em lactação?
No meu caso a diferença é brutal. Taxa de ocupação de vacas em lactação por toda a área de pastagem ocupada por todo o rebanho leiteiro: 2,05. Somente pela área ocupada pelas vacas em lactação: 4,72.
ADILSON DA MATTA ANDRADE

MURIAÉ - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/11/2004

Desculpe mas lendo minha carta hoje vi que há erros devido a um problema em meu teclado, aqui vai o paragrafo corrigido:

Elaborando um pré-projeto para uma produção de 60.000 litros de leite dia, notamos que o leite a pasto sem irrigação (não intensivo) necessita de divisão em módulos (3 a 4), devido à distância que os animais tem a percorrer. Sendo assim, a estrutura de transporte deste leite e do resfriamento na unidade produtora, assim como ordenhas e etc, aproximam-se, se não ultrapassam o custo de instalação de vacas confinadas. Sendo que o confinado tem ainda a vantagem, por ser um único módulo, o leite pode ir direto para usina de beneficiamento, mantendo o status de leite A.

obrigado Adilson da Matta Andrade
ADILSON DA MATTA ANDRADE

MURIAÉ - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/11/2004

Não sei se ainda consigo pegar este bonde, pois parece que esta parando. Mas gostaria de deixar aqui um comentário interessante sobre este assunto.

Elaborando um pré-projeto para uma produção de 60.000 litros de leite dia, notamos que o leite a pasto sem irrigação (não intensivo) necessita de divisão em módulos (3 a 4), devido à distância que os animais tem a percorrer. Sendo assim, a estrutura de transporte deste leite e do resfriamento na unidade produtora, assim como ordenhas e etc, aproximam-se, se não ultrapassam o custo de instalação de vacas confinadas. Sendo que o confinado tem ainda a vantagem, por ser um único módulo, o leite pode ir direto para usina de beneficiamento, mantendo o status de leite A.

Gostaria de parabenizar os idealizadores da discussão.

Adilson da Matta Andrade CRMV MG 2451
Médico Veterinário Autônomo Muriaé MG
MARCELLI ANTENOR DE OLIVEIRA

OUTRO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/10/2004

Estas comparações são difíceis de serem feitas, pois todas tentativas realizadas mostram distocias nos resultados.

Produções de 19 kg leite/vaca/dia. Em situações reais de Brasil são difíceis de serem alcançadas, devido a varios fatores como;

- Época de maior produção de forragem ocorre no verão. Neste período temos calor, chuvas, barro etc. Então a demanda nutricional destes animais a alta (para produção descrita no artigo, quantidade de concentrado provavelmente e maior).

- A qualidade de nossas forragens no Brasil, sabemos que não permite suportar altas produções de leite como citada no artigo (> 6000kg/lactação). Todos trabalhos realizados apresentaram valores mais baixos, além de não ter quantificados desempenhos reprodutivos destes animais.

Então, devemos ter muito cuidado quanto apresentamos alguns dados de pesquisas pois podemos estar andando na "contra mão".

Situações quando trabalhamos com riscos da atividade a " A conversa muda"!!!!

Marcelli Antenor de Oliveira
Mestrando em produção Animal escola de Veterinária - UFMG
ROGÉRIO DE PAULA LANA

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 21/10/2004

Prezados senhores,

Como pesquisadores e/ou professores de instituições públicas, devemos estar sempre preocupados com os interesses da sociedade brasileira e não nos comprometermos com interesses específicos. Portanto, para tirar conclusões sobre o melhor sistema de produção, vamos analisar alguns dados estatísticos sobre a produção bovina no Brasil, em que cada sistema dá sua contribuição para o conjunto, ou seja, a união faz a força.

O Brasil possui a segunda maior população bovina, o maior rebanho comercial e foi o maior exportador mundial de carne bovina em 2003 (IBGE, 2003). Há predominância de gado Zebuíno e seus mestiços, criado basicamente em pastagens e suplementado apenas com misturas minerais, devido ao menor custo de produção em detrimento do menor desempenho animal. Uma vez que na produção de leite, há paralelamente produção de carne, vamos analisar a seguir alguns dados importantes.

Em 2002, cerca de 2,43 milhões de animais receberam suplementação de terminação a pasto e 1,91 milhões foram confinados (ANUALPEC, 2003), ou seja, cerca de 8,0 e 6,3%, respectivamente, dos animais abatidos. Na fase de terminação no período da seca, há aumento de 18% no peso corporal (370 para 450 kg - 80 quilos em oitenta dias), dos quais no máximo a metade é proporcionada pelo uso de concentrado (estímulo de 0,5 kg/animal/dia com uso de 4 kg de ração). Baseado nestas informações, pode-se verificar que no máximo 1,3% da carne bovina brasileira ((8,0%+6,3%) * 18/100 * 1/2) é produzida pelo uso de ração ou suplemento concentrado durante a fase de terminação.
A estatística da produção de leite não é diferente: aproximadamente 65% da produção total em Minas Gerais, que acredito ser representativa da produção brasileira, são obtidas por produtores com produção menor que 200 litros/dia; 59% dos produtores produzem menos de 50 litros/dia; e a produtividade em litros/vaca ordenhada/ano é de 897 litros (897/365 = 2,5 litros/vaca/dia) (SEBRAE-MG/FAEMG, 1996).

O sistema de produção de leite predominante no Brasil também é sob pastejo e sem ou com uso limitado de ração concentrada, devido à mesma onerar o custo de produção. Baseado em sete experimentos com vacas mantidas em boas pastagens, predominantemente de capim-elefante e coast-cross no Brasil, realizadas em sua maioria na EMBRAPA-CNPGL, LANA, R.P. (2004) (Efficiency of use of concentrate ration on weight gain and milk production by cattle under tropical pasture and intensive conditions in Brazil, Journal of Animal Science, v.82, Suppl.1, p.222) verificou que as vacas produziram de 6,8 a 13,5 kg de leite/dia, sem uso de ração concentrada, e responderam com média e desvio-padrão de apenas 0,65 + 0,41 kg de leite/kg de ração, ou seja, de 0,2 a 1,0 kg de leite/kg de ração. Neste caso, o leite adicional não cobre o custo com ração concentrada e justifica a resistência do produtor ao uso deste insumo em larga escala. Em confinamento, embora foi analisado apenas um experimento, a resposta foi ainda pior: 0,3 a 0,5 kg de leite/kg de ração concentrada. Não estou incluindo o custo do pasto, pois um kg de matéria seca de pasto é pelo menos 8 a 10 vezes de mais baixo custo que a mesma quantidade de ração concentrada.

Uma excelente publicação intitulada "O Pesquisador, o Estatístico e a Sociedade", apresentada por MATOS (1993) nos anais dos simpósios da 30a reunião anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia - Rio de Janeiro, RJ: SBZ, 1993, p.121 a 139 - deve ser lida e analisada pelos pesquisadores com vistas ao desenvolvimento de pesquisas que verdadeiramente levem à melhoria da produção agrícola e melhoria das condições de vida dos agricultores brasileiros.

Estes são muitas vezes discriminados pelos baixos índices de adoção de tecnologia e produtividade, mas que ao mesmo tempo são os que conjuntamente contribuem para que o Brasil seja atualmente o maior exportador mundial de carne bovina - 1,4 milhões de toneladas por ano (USDA, 2004), e o sexto maior produtor de leite do planeta - 21,1 bilhões de toneladas por ano.

Com base nas informações expostas acima, estou de acordo com Marcio Oiticica, produtor, e Dr. Leonardo Moreira, advogado, produtor, vice-presidente da ACGHMG e diretor da ABCGRH, na mensagem de 08/10/2004 da seção "Espaço Aberto" do MilkPoint, intitulado "Debate: redução do número de produtores de leite". Recomendo a leitura da mensagem a todos os produtores rurais, pesquisadores, técnicos, políticos e demais pessoas ligadas à atividade leiteira no Brasil.

Rogério de Paula Lana, Ph. D.
Professor de Nutrição de Ruminantes
DZO/UFV - rlana@ufv.br

ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/09/2004

Prezados Duarte Vilela e João César,

Parabéns pela forma produtiva e serena de dar continuidade ao assunto. Os dados do Centro são relevantes e pertinentes; seria uma perda para o setor se a polarização prevalecesse sobre o debate equilibrado e consistente.

Já disse antes que não sou defensor do confinamento em qualquer caso especialmente se não houver escala de produção adequada, mas confesso que, técnica e construtivamente argumentando, achei o artigo injustificadamente "pró-pasto".

Faço os seguintes comentários:

1- Por que a vaca confinada, de maior potencial, precisa de 43% mais concentrado (8,6 kg : 6,00 kg) para produzir praticamente o mesmo leite das vacas à pasto, no caso dos 20 litros? A vaca confinada na sombra, sem barro, com menor dispêndio de energia em movimentação e com forragem nutricionalmente mais densa, deveria ter vantagens comparativas e não desvantagens na conversão alimentar.

2- A revisão de literatura nos mostra que a conversão alimentar de vacas a pasto situa-se próxima de 1 L de leite por kg de matéria seca ingerida (dieta total). Na N. Zelândia é comum a relação 15 litros de leite, 15 kg de M.S. ingerida. Nos rebanhos confinados é comum trabalharmos com conversões de 1,4 a 1,5 L de leite por kg de m.s.. No artigo, as vacas a pasto convertem melhor em qualquer hipótese e as vacas confinadas atingem performances de apenas 1,1 a 1,2 L/kg m.s.. Se a relação 1:1 estiver correta, a vaca a pasto comendo 6 kg de concentrado precisa de 13,6 kg de m.s. de pasto ou algo próximo de 100 kg de capim por dia. Se as "a pasto" produzem mais no inverno quando comem silagem, a comparação piora ainda mais a performance das confinadas.

3- Certamente a m.d.o. custa menos por litro de leite em sistemas confinados. É comum encontrarmos performances de 1,2 a 1,5 mil litros/homem/dia. Lembro que, por serem mais tardias, o rebanho jovem das vacas a pasto é maior que o das confinadas e, percentualmente, isto aumenta o custo da parte B do anexo.

4- Em setembro último era fácil fazer um concentrado por R$ 380,00/ton. Há muito tempo a relação grãos-leite não é tão favorável. Se utilizarmos uma conversão de 1,4 l/kg de m.s é justo falarmos em um custo de dieta de vacas com 17% P.B. e 1,7 mcal/kg de energia por um valor em torno de R$ 22,00 a R$ 24,00 por 100L. O custo proposto, de R$ 570,00 /ton sobrecarrega o sistema confinado e o custo da dieta proposto na tabela.

5- Estranho que a performance das vacas a pasto seja estática. A única variação é na ocupação do pasto. Já as confinadas podem ser menos ou mais eficientes em produtividade, conversão e produção total. Não estamos comparando as mesmas coisas.

6-As vacas a pasto produzem entre 20,8 e 41,6 mil litros por ha por ano. São produções bastante altas. Quanto as vacas confinadas produzem por ha/ano? Sem essa informação não podemos responder a "questão da terra" e em quanto a menor produtividade "onera" o capital investido na produção a pasto.

Para concluir:

Ainda que com matemática diferente, concordo com os números de custos totais propostos na tabela, excluso gestão e juros sobre capital mencionados na parte B. De qualquer forma as proporções estão corretas a meu ver.

Por esse motivo, concordo que a produção a pasto com suas diversas complementações é de menor risco e mais barata por unidade produzida que o sistema em confinamento.

Também concordo que, para a atual situação do Brasil, a produção a pasto e similares se justifica melhor e, dependendo da escala analisada, é a única possibilidade.

Quanto à remuneração sobre o capital investido, como bem disse o Aloísio, cada caso é um caso.

Com meu abraço,
Roberto Jank Jr.

ROGÉRIO SIDNEI ALVES

CUIABÁ - MATO GROSSO - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 25/09/2004

Gostaria de saber qual a formulação (em %), do concentrado que foi administrado aos animais em confinamento e a pasto. Também gostaria de saber qual a composição química (NDT, Fibra, Proteína, FDA, Energia, etc...) do concentrado e da silagem de milho que foram colocados à disposição dos animais.

Outra dúvida que tenho, é se a equipe do MilkPoint têm conhecimento da composição química e utilização da Cana Hidrolisada, e se a mesma, juntamente com uréia ou outro energético, poderia substituir a contento a ensilagem de milho utilizada no experimento.

Agradeço o atendimento!!!

Rogério Sidnei - Cuiabá-MT
JOSÉ MAURÍCIO DE SOUZA CAMPOS

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 23/09/2004

Prezado Duarte,

Uma vez ou outra leio um assunto técnico neste excelente site, fico querendo expor minha opinião, mas por falta de tempo ou para não causar mais polêmica largo para lá...

Acho que devemos ter muito cuidado ao tratar de alguns assuntos em veículo de comunicação de massa, pois os milhares de leitores podem entender de forma diferente...

Primeiramente gostaria de parabenizar você e o João Rezende pela forma como apresentaram a questão, tanto no primeiro como no segundo artigo. Um trabalho de 10 anos não pode ficar sem ser apresentado aos criadores, mesmo que apresente algumas limitações. Nós sabemos da dificuldade de se fazer pesquisa neste País. Acredito que a polêmica foi criada pela própria natureza do tema. É como tratar da genética a se usar em sistema de produção de leite no Brasil. Sempre que sou convidado para tratar destes dois assuntos, de forma isolada do sistema de produção, não tenho muita motivação.

A reação dos nossos criadores e técnicos é compreensível e o grande mérito foi estimular o debate. O que nós e os criadores temos que entender é que o assunto deve ser tratado como o Aloísio tratou em seu comentário ao primeiro trabalho (Parte 1): a taxa de retorno do capital investido com a terra é que deve ser considerada para a tomada de decisão. Considerando ainda que no estabelecimento de um sistema de produção de leite, além dos fatores produtivos, devem ser levados em consideração os relacionados com a terra, trabalho e capital, com este enfoque o assunto fica fácil de ser compreendido e discutido.

As experiências dos países que intensificaram seus sistemas de produção (a pasto ou confinado), o fizeram porque lá a terra e a mão-de-obra é cara e o capital abundante. O que não parece ser a situação do Brasil no momento, assim, de forma abrangente, o confinamento não se justifica.

De forma especifica existe alguns casos interesantes: o banco de dados do Projeto Educampo/SEBRAE-MG mostra algumas propriedades localizadas no Sul de Minas, com valor da terra nua a R$ 13.000,00/ha, neste caso, talvez, nem a intensificação a pasto ou em confinamento resolva o problema.

O que mais me preocupa sobre o tema é o motivo pelo qual, mesmo estando disponível há mais de 30 anos, a maioria dos produtores de leite não intensificam seus sistemas de produção de leite a pasto. Como trabalhar com 0,5-1,0 vaca/ha em terras nuas ao preço de R$ 5.000,00 ou mesmo R$ 3.000,00/ha e recebendo R$0,51/litro de leite? Será que criamos uma tecnologia que extrapola a capacidade de compreensão de técnicos e criadores? Como viabilizar milhares de sistemas de produção de leite, onde a terra não é tão cara, mas a propriedade é pequena, com a maioria da mão-de-obra familiar que pode ser treinada, mas o capital é escasso? Não consigo enxergar outra solução a não ser pela intensificação da produção a pasto. Nós que participamos de instituições públicas temos que dar oportunidade a todos. Não podemos criar modelos de sistemas excludentes.

Só sei, colega, que o melhor que temos a fazer é continuarmos trabalhando para ajudarmos a sociedade, que nos financia, a encontrar soluções para nossos desafios...é o que tenho procurado fazer aqui em Viçosa. Vamos dar uma aula..?

Abraços,

José Maurício de Souza Campos
Prof. Bovinos de Leite - DZO/UFV
RONALDO AUGUSTO DA SILVA

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/09/2004

Senhores João Cesar e Duarte Vilela,

Cumprimento-os pela excelente matéria. Especialmente pela didática. Profunda, com substância, objetiva e prática. Voces falam como quem conhece e isso dá segurança ao produtor. É verdade que há uma quantidade infinda de variáveis e condicionantes da atividade de produção de leite, que interferem em cada caso. O raciocínio tem que ser simplificado para se chegar ao resultado. A partir daí, cada um que faça as adaptações. Podem estar certos de que estes dois artigos - e espero que o estudo continue, serão de grande utilidade para o meu caso. Aliás, desde que visitei a Embrapa de Coronel Pacheco, em agosto/99 mantenho contato com os técnicos de lá e recebo os mais relevantes subsídios com presteza e atenção. Particularmente o Dr. Renaldi tem sido brilhante na ajuda sobre as questões sanitárias, assunto que assola o mundo. Permitam-me sugerir reflexões sobre Receitas Acessórias (externalidades) de uma Fazenda. O Dr. Campos, entusiasta da Compostagem, afirma em sua tese que a venda do adubo pode gerar uma receita adicional. Outro assunto que me entusiasta sobremaneira: biodigestor. Que tal escrever sobre isso no mesmo diapasão da matéria sobre lucro a pasto e confinado? Cordial abraço. Ronaldo Augusto
RUI DA SILVA VERNEQUE

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 20/09/2004

Gostaria de parabenizar aos colegas pelo excelente exercício que fizeram e que muito contribuirá para produtores tomarem decisão de qual sistema de produção deve ser o adotado. Por certo, embora existam "radicalismos" a respeito do assunto, exceto em situações bastante particulares ou específicas o sistema a pasto é muito mais prático, flexível, a grande maioria dos produtores podem adaptar facilmente a ele e, além disso, é mais lucrativo.

Rui da Silva Verneque

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