2020 foi um ano diferente de tudo que já vivemos, em todos os aspectos. No leite não foi diferente! O setor viu altos e baixos, mas uma alta resiliência.
Nesta 33ª edição do PointCast, temos como convidados Valter Galan, sócio do MilkPoint Mercado, e Lavinia Morais, analista de mercado do MilkPoint Mercado. Vem com a gente conferir o que rolou no mercado neste ano que passou e o que esperamos pro ano que vem!
Produção
No início do ano, pudemos acompanhar uma maior captação de leite (3,5%) em relação a 2019. Porém tanto os preços pagos ao produtor quanto o RMCR apresentaram patamares mais baixos, além disso, o mercado de grãos já iniciou o ano com preços altos e com projeção de aumento de preços até o fim do ano – fato que se confirmou. O cenário desfavorável para o produtor impactou a produção no 2º trimestre do ano, visto que a captação de leite retraiu 0,6% em relação a 2019.
Porém, a partir de junho, a situação passou a se reverter. Com melhores negociações de derivados a partir de maio, o preço pago ao produtor reagiu, impactando o RMCR. Assim, ao longo do segundo semestre pudemos observar altos preços pagos ao produtor e melhor rentabilidade – embora os preços dos grãos tenham se mantido bastante elevados. Assim, no terceiro trimestre houve estímulo à produção de leite e a captação aumentou 2,6%.
Por outro lado, nesta reta final do ano, o preço pago ao produtor e RMCR apresentaram retração – embora ainda estejam em patamares melhores do que o observado no ano passado. Esse cenário já colocou produtores de leite em alerta. Além disso, o leite também desvalorizou frente a arroba, o que gerou outro alarde no campo. Por fim, a situação climática no Sul não se mostrou favorável no início da safra, visto que houve seca por conta do fenômeno La Niña.
Comércio Exterior
No primeiro semestre do ano, pudemos acompanhar importações em nível inferior ao de 2019, resultado de produtos importados pouco competitivos no mercado nacional – dado que o dólar apresentou alta considerável. Além disso, embora não sejam tão representativas, houve aumento no volume de exportações de derivados lácteos.
Esse cenário mudou drasticamente a partir do segundo semestre. Com reação de preços no mercado nacional e aumento de disponibilidade de produtos do Mercosul, as importações aumentaram significativamente. Setembro e novembro foram os meses com os maiores patamares de importação, sendo que novembro, com 188,8 milhões de litros em equivalente-leite, registrou-se o maior patamar desde 2016.
Consumo e comportamento de preços
O ano começou sem grandes mudanças para a demanda de derivados lácteos e seus preços, tanto que os patamares de preços se mantiveram similares a 2019. Porém, com a chegada da pandemia do Covid-19 em março o cenário já se modificou. Inicialmente, consumidores, ainda com as incertezas do cenário, estocaram produtos, o que fez com que preços de UHT e leites em pó reagissem. Por outro lado, o fechamento do setor de foodservice prejudicou queijeiros, que tiveram que realocar parte de seus produtos para supermercados.
Em seguida, a economia entrou em seu pior momento, com pico do câmbio e queda significativa do PIB (-11,40). Para reverter a situação, em abril, o governo instituiu o auxílio emergencial de, inicialmente R$ 600, e depois, R$ 300, de forma a recuperar o consumo das famílias.
O auxílio emergencial representou 8,5% do PIB do 2º trimestre. Além disso, a pandemia modificou os hábitos de consumo da população brasileira. O fechamento do setor de foodservice e o aumento do desemprego, estimulou o consumo dentro de casa, o que fortaleceu o consumo de lácteos. Além disso, houve uma redistribuição dos gastos das famílias, que deixaram de gastar com combustíveis e transportes, por exemplo, e alocaram seus gastos para alimentação.
Por isso, pudemos observar um aumento do volume e faturamento de lácteos. Assim, a partir de maio, houve reversão do mercado, com preços subindo para a maioria dos derivados lácteos. Esse aumento de preços se deu tanto pela mudança de hábitos de consumo, aumento de demanda pelo “corona voucher”, como por baixos estoques na indústria. Assim, pudemos acompanhar, também, um aumento expressivo dos preços negociados para o leite spot neste período.
Além disso, entre julho e setembro, tanto o IPCA quanto o IGP aumentaram no período, o que pode estar relacionado com uma maior demanda do consumidor final, que não acompanhou a produção.
Porém, em setembro o mercado de derivados lácteos já deu sinais de retração. As negociações com o varejo se mostraram mais difíceis. Se tratando de margens por elo da cadeia, pudemos observar queda da participação da indústria ao longo do trimestre no caso do UHT e queijos, e ganho por parte do varejo. Em novembro, pudemos acompanhar uma reação do mercado, porém, que não se sustentou, visto que agora em dezembro o mercado tem sido complicado para os laticínios. Para a segunda quinzena do mês, já se espera um mercado complicado por conta do foco em vendas de produtos natalinos.
Cenários Futuros
Desde novembro, temos acompanhado um dólar em queda, resultado de melhores perspectivas quanto às vacinas do Covid-19, cenário de maior certeza quanto às eleições dos EUA e aumento de investimentos em países emergentes – como é o caso do Brasil.
Esse cenário do dólar já tem impactado no mercado de grãos e boi gordo, que apresentaram retração no início de dezembro, e pode favorecer o produtor quanto aos custos de ração e insumos. Por outro lado, a retração do dólar pode deixar o produto importado mais competitivo e favorecer importações.
Do lado da demanda, o mercado de derivados lácteos ainda é muito incerto. Em dezembro temos a última parcela do auxílio emergencial e não há certezas quanto a um programa de renda básica no próximo ano. Esse cenário pode impactar os lares que passaram a consumir mais lácteos em 2020.
Além disso, muito se discute em até que ponto as mudanças de hábitos dos consumidores durante a pandemia devem se manter neste “novo normal”. Porém, deve-se levar em consideração as boas perspectivas de vacinação da população, permitindo uma reabertura dos canais de alimentação e recuperação da economia, favorecendo a demanda.
Edição: Maicon Moreira
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