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O que nos reserva o futuro?

POR VALTER GALAN

PANORAMA DE MERCADO

EM 18/03/2019

4 MIN DE LEITURA

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Quando a economia brasileira começar a se recuperar (será que ainda este ano?) e retomarmos, novamente, nosso ritmo de crescimento de produção de leite e começarmos a recuperar nosso consumo per capita de leite e derivados, quando e onde poderemos chegar com nossa produção?

Para tentar responder a esta pergunta, o MilkPoint Mercado estimou nossa sobra e/ou falta de leite em cenários futuros (em 5 e 10 anos, a partir de 2019), projetando diferentes cenários de crescimento da produção brasileira de leite e de consumo per capita, partindo dos 166 litros/habitante/ano estimados para o ano de 2018, e considerando um crescimento anual da população brasileira da ordem de 1%. Esta projeção baseou-se num modelo inicial elaborado pela Associação Viva Lácteos.

A tabela 1 apresenta a estimativa de falta (área marcada em vermelho) ou sobra (área marcada em verde) de leite no mercado brasileiro com diferentes cenários de crescimento da produção e de consumo per capita.

Tabela 1. Brasil - Sobra/falta de leite (em bilhões de litros por ano) em função do consumo per capita e do crescimento da produção – Cenário 5 anos (2019 a 2023). Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado, com base em estimativa inicial da Associação “Viva Lácteos”.

Explicando melhor a tabela se, por exemplo, a produção brasileira de leite crescer a uma taxa média anual de 2% nos próximos 5 anos (período de 2019 a 2023) e atingirmos, em 2023, em consumo per capita de 190 litros/habitante/ano, nos faltarão cerca de 4,2 bilhões de litros de leite equivalente para atender a demanda total da nossa população. Ao contrário, se neste período nossa produção voltar a crescer em sua média anual verificada entre 2005 e 2014 (cerca de 5% ao ano) e o nosso consumo per capita não conseguir sair da faixa dos 170 litros/habitante/ano, nos sobrarão cerca de 7,4 bilhões de litros anuais, que deverão encontrar algum destino no mercado internacional, na forma de exportações.

A tabela 2 apresenta esta mesma estimativa, prolongando a análise para um período de 10 (dez) anos, de 2019 a 2028.

Tabela 2. Brasil - Sobra/falta de leite (em bilhões de litros por ano) em função do consumo per capita e do crescimento da produção – Cenário 10 anos (2019 a 2028). Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado, com base em estimativa inicial da Associação “Viva Lácteos”.

Esta estimativa de maior longo prazo mostra que, retomado o ritmo de crescimento da produção brasileira de leite de cerca de 5% ao ano, mesmo que seja atingido o patamar de 230 litros de leite per capita ano de consumo, ainda teremos 4 bilhões de litros de leite anuais de “sobra” exportável – ou seja, tendo o mesmo desempenho médio de crescimento do período pré-crise e aumentando cerca de 40% nosso consumo, em 10 anos teremos quase “meia” Argentina de leite para exportar... Nada mal!

Estimativas à parte, alguns direcionadores interessantes aparecem destes números. Inicialmente, verifica-se que o crescimento da produção brasileira de leite está intimamente associado ao crescimento do nosso consumo interno. Se um (consumo) não acontecer, o outro (produção) tem espaço bastante reduzido para crescimento.

Ao mesmo tempo, passa a ser mais claro que o limite entre importar e exportar leite. Isso nos levará, forçosamente e muito rapidamente, a entender que países exportadores também podem ser importadores de lácteos, dependendo do momento de mercado, produção e de consumo. É um “mind set” novo para uma cadeia acostumada a ser importadora estrutural e a lamentar-se bastante disso sempre que uma nova “crise do leite” aparece.

Finalmente, em um não tão distante cenário futuro, é possível que passemos a ter uma sobra “estrutural e exportável” de produção leite no mercado brasileiro. Esta necessidade de exportar deverá conduzir a mudanças estruturais na cadeia leiteira brasileira que nos atrevemos a prever aqui:

  • Como os movimentos de mercado são bastante dinâmicos, o excedente exportável tende a gerar, no curto prazo, quedas de preços no mercado interno brasileiro, que gerarão pressão de exclusão em agentes (indústrias e produtores, principalmente) menos eficientes – esta pressão hoje existe, mas certamente é muito menor, num mercado estruturalmente deficitário de leite e bastante protegido do mercado internacional.
     
  • A “sobra” estrutural de leite deve gerar movimentos de busca de eficiência de custos de produção (nas fazendas, nas indústrias e na logística de toda a cadeia), de melhoria substancial da qualidade dos nossos produtos (desde o leite matéria-prima até os prazos de validade dos nossos produtos industriais, hoje não compatíveis com o padrão internacional). Necessitaremos aprender a abrir mercados importadores de leite (destaque-se aqui trabalho já em curso pela Viva Lácteos, CNA e APEX), entender práticas comerciais internacionais e, finalmente, que os fluxos comerciais “normais” podem significar importar e/ou exportar, dependendo do momento de mercado.

Enfim, esperamos que um novo movimento estrutural na direção de uma maior competitividade esteja reservado para a cadeia leiteira do Brasil no futuro. Que o nosso consumo per capita cresça (provavelmente mais fortemente em novos produtos, o que também exigirá de nossos agentes produtivos inovação de produtos e novos processos de coordenação da cadeia produtiva, para atender às exigências de um novo consumidor, mais exigente e atento) e que a produção retome seu crescimento médio anual pré-crise, o que provavelmente nos forçará a uma organização mais estruturada dos nossos canais exportadores de lácteos. Aí o jogo começa a mudar de verdade!

Vale a pena destacar que Valter Galan será um dos palestrantes do Interleite Sul 2019, que ocorrerá nos dias 08 e 09 de maio em Chapecó/SC. O título da sua palestra é "Tendências de curto e médio prazo para o setor leiteiro no Brasil" e fará parte do painel "Economia e Mercado". 

VALTER GALAN

MilkPoint Mercado

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LUIZ EDUARDO ARAUJO

ITAPERUNA - RIO DE JANEIRO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 19/03/2019

EXCELENTE ARTIGO VALTER.
PARABÉNS!
VALTER BERTINI GALAN

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/03/2019

Obrigado, Luiz! Grande abraço!
DUARTE CESAR SILVEIRA CALDEIRA FERNANDES

PEDRO TEIXEIRA - MINAS GERAIS

EM 19/03/2019

Parabéns pelo artigo e pela análise. Percebo que o setor de produção de leite está passando por uma enorme e gradativa transformação positiva . Acredito neste crescimento .
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/03/2019

Otimo Valter. Faço duas reflexões. Uma é que ainda temos uma caixa preta para abrir, que são os supostos 10 bi de litros informais. Se a IN76/77 for pra valer, temos esse share a conquistar ainda com mais facilidade que a exportação. O segundo é a economia; em 2015 paramos de crescer junto com a crise e a retomada, se vier, será apenas em 2019. Interessante notar que apesar do baixo nível tecnológico e de investimentos, o leite deixou de crescer e ate descresceu com a crise. Mostra que existe um certo instinto de sobrevivência dentro de certos patamares. Não é só efeito manada.
Abs
SÁVIO COSTA SANTIAGO DE BARROS

LAVRAS - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 19/03/2019

Como vai Jank?

E preciso entender "qual leite" deixou de crescer. Produtores que migraram de semi-confinamento para confinamento, que estão evoluindo em sistemas e métodos de produção cravam crescimento anual acima de 5%.
Entendo que no volume total os que deixam a produção estão tornando a conta nula, mas é muita gente.
Em outra matéria no MKP no mesmo dia, o pessoal do Ideagri em sua premiação afirma que é possível produzir o mesmo leite de hoje com 25% das vacas existentes no Brasil.
A dúvida é, quando atingiremos o ápice dessa curva em que a saída de produtores deixará de compensar o crescimento de outros. Particularmente acredito que será em breve.
Na nossa operação ano passado o crescimento médio das fazendas se aproximou de 8%.
VALTER BERTINI GALAN

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/03/2019

Muito obrigado pelo comentário, Roberto!

De fato temos este volume informal (será este mesmo?) e a questão da implementação das IN's (será que desta vez conseguimos finalmente implementá-las?). Quanto ao crescimento do leite, parece-me que, num novo cenário de mercado, ele virá de um perfil diferente de produtores, com maior nível de especialização e mais competitivos.

Forte abraço!
ADEMIR LUIZ TASSI

LONDRINA - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/03/2019

Essa análise, mostra que em pouco tempo, teremos que exportar leite e seus derivados. O produtor está fazendo, e muito bem a sua parte, o que me preocupa são às exportações... temos que exportar produtos agregados, variados tipos de queijo, mussarela, requeijão etc... gerando emprego.
VALTER BERTINI GALAN

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/03/2019

Olá Ademir,

Quando falamos em exportação, importante atentar para alguns pontos: custos de produção competitivos (e não só na fazenda, na indústria tb!) e qualidade (padrão e shelf life de produtos). Sem isso, dificil competir...

Abraço!
JÚLIA D. LIMA DIAS

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/03/2019

Excelente análise.
Duas perguntas:
como foi a evolução do consumo per capita nos últimos anos?
existe relação desse consumo com índices econômicos, tais como renda, índice de desemprego, crescimento do salário, dólar, etc.?
UILIO OLIVEIRA SILVA

BOM JARDIM - MARANHÃO - AVICULTURA/SUINOCULTURA

EM 19/03/2019

Ótima indagação. Minhas reflexões & indagação abaixo seguem nessa mesma direção.
VALTER BERTINI GALAN

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/03/2019

Olá Júlia,

Obrigado pela participação! No início dos anos 2000 estávamos em cerca de 120 litros/pessoa/ano e chegamos a quase 175, recuando, com a crise, para 165 estimados em 2018. A relação deste consumo com a economia do país e o crescimento dela é muito grande - quando cresce a economia, cresce o consumo de lácteos e o contrário (quando cai o crescimento econômico, cai o volume de consumo de lácteos) também é verdadeiro.

Abraço!
EM RESPOSTA A VALTER BERTINI GALAN
RODRIGO VIEIRA DE MORAIS

SÃO JOSÉ DO RIO PARDO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 02/04/2019

O Sr. poderia ter explicitado o aumento ou diminuição do consumo por ano. O viés político retrógrado o fez esconder 12 anos do governo do PT. A crise mundial foi em 2008.
SÁVIO COSTA SANTIAGO DE BARROS

LAVRAS - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 18/03/2019

Está muito claro que caminhamos indubitavelmente para um status de excedentes exportáveis.
Estamos vivendo pressão por eficiência e qualidade na produção primária nesse momento. Só não enxerga quem não quer, ou prefere esperar pelo fim reclamando.
Essa clareza Valter, não tira o brilhantismo da sua análise e dos dados elaborados pela Viva Lácteos.
A mais de um ano vi essa tabela em uma palestra do Marcelo (viva lácteos) e entendi que o futuro de eficiência que nos parecia tão distante no Brasil estava se iniciando.
Espero sinceramente que o Ministério não recue na plena implantação das INs 76 e 77, sob pena de inviabilizar em um futuro próximo bons produtores e boas indústrias.
Parabéns !
VALTER BERTINI GALAN

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/03/2019

Obrigado pelos comentários, Savio! Grande abraço!
RONEY JOSE DA VEIGA

HONÓRIO SERPA - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/03/2019

Interessante análise! É como sempre joga a maior parcela da responsabilidade sobre o produtor, que vai ter que se "adequar" !
Nosso consumo interno de lácteos é pífio porque ninguem se atenta as enormes margens de lucro do varejo, que tornam a maioria dos derivados itens de consumo de classe A, excluindo um batalhão de consumidores potenciais, que caso os valores ao consumidor fossem proporcionais aos valores pagos por matéria prima , teriam condições de comprar ! Nem vou falar da questão tributária, porque em um país subdesenvolvido, com um salário mínimo ridículo, taxar alimentos chega a ser caso de Polícia!!
Enfim, vamos remando e nos apoiando na natureza prodigiosa que Deus nos deu para se contra-por a nossa deplorável classe política!!
UILIO OLIVEIRA SILVA

BOM JARDIM - MARANHÃO - AVICULTURA/SUINOCULTURA

EM 19/03/2019

Meu questionamento abaixo, segue nessa mesma direção.
VALTER BERTINI GALAN

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/03/2019

Olá Roney,

Responsabilidade não só dos produtores, mas também da indústria (que precisa melhorar eficiência de conversão, prazos de validade de produto e custos industriais) e do governo (melhorando estrutura logistica, desonerando a cadeia produtiva, etc.).

Um ponto adicional importante é que nosso consumo já não é tão pífio assim - desta forma, se voltarmos a crescer em produção, o desafio doe excedentes tende a surgir em breve.

Abraço!
UILIO OLIVEIRA SILVA

BOM JARDIM - MARANHÃO - AVICULTURA/SUINOCULTURA

EM 18/03/2019

Ótima profecia. Ou seja: sem poder aquisitivo que nos leva a pensar que seja a mesma coisa de distribuição de renda, tende não haver incremento no consumo per capta do leite.
VALTER BERTINI GALAN

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/03/2019

Obrigado pelo comentário Uilio! Não pretendo fazer profecia, mas direcionar nossas preocupações com uma questão futura que, dependendo do cenário de mercado, logo nos desafiará!

Abraço!

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