Segundo dados divulgados nesta terça-feira (05/07) pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), o saldo da balança comercial de lácteos foi de -75 milhões de litros em equivalente-leite no mês de junho, uma diminuição de 23 milhões, ou aproximadamente 43,6% em comparação ao mês anterior.
Ao se comparar ao mesmo período do ano passado (junho/2021), o saldo deste ano também foi mais negativo, sendo que o valor em equivalente-leite nesse período foi de -52 milhões de litros, representando uma diferença de aproximadamente 24 milhões de litros, ou 45,7%. Confira a evolução no saldo da balança comercial láctea no gráfico 1.
Gráfico 1. Saldo mensal da balança comercial brasileira de lácteos.
Fonte: elaborado pelo MilkPoint a partir dos dados do COMEXSTAT.
Após uma forte queda entre abril e maio, novamente ocorreram recuos nas exportações. O período apresentou um decréscimo de -3,6 milhões de litros no volume exportado, representando um recuo de 32%. Ao se comparar com 2021, o cenário é ainda mais destoante, ocorrendo um decréscimo de -11,2 milhões de litros, representando um recuo de aproximadamente -58,9% no volume exportado no período. Sendo assim, o cenário desfavorável às exportações se manteve em junho, ocorrendo decréscimos no volume exportado de produtos lácteos.
Gráfico 2. Exportações em equivalente-leite.
Fonte: elaborado pelo MilkPoint a partir dos dados do COMEXSTAT.
Do lado das importações, o cenário de ganho de competitividade dos produtos internacionais refletiu em altas nos volumes destinados a estas negociações. O mês de junho apresentou um aumento de 30% nas importações, com um acréscimo no volume de importações de 19,3 milhões de litros em equivalente-leite.
Analisando o mesmo período do ano passado, também nota-se um aumento entre os volumes importados; em junho de 2021, 70,7 milhões de litros em equivalente-leite foram importados, já em 2022 esse valor teve uma variação positiva de aproximadamente 18%, totalizando um aumento de 12,5 milhões de litros em equivalente-leite comparando-se os anos, o que pode ser observado no gráfico a seguir:
Gráfico 3. Importações em equivalente-leite.
Fonte: elaborado pelo MilkPoint a partir dos dados do COMEXSTAT.
Esse aumento nos volumes importados e recuo das exportações acarretaram um saldo mais negativo da balança comercial de lácteos para o mês de junho, apresentando o resultado mais negativo do ano, até o momento, e o menor valor desde novembro de 2021.
Este cenário se formou devido alguns fatores-chave, tais como: os recuos apresentados nos preços internacionais, a baixa disponibilidade de leite no Brasil e os preços dos derivados lácteos no mercado interno, que estão operando próximos de máximas históricas.
Em meio a menor demanda chinesa frente a política de controle da covid-19 no país e temores de uma possível recessão econômica mundial, os preços dos derivados lácteos no mercado internacional vêm emplacando baixas.
Esse fato associado a baixa disponibilidade de leite no mercado interno, que vem impactando nos preços, e impulsionando os valores para próximo de máximas históricas, trouxe um ganho de competitividade para os produtos internacionais, o que refletiu em maiores negociações de importações.
Desta forma, mesmo em meio ao avanço do dólar nas últimas semanas, o mês de junho se mostrou favorável as negociações de importação e manteve a janela de exportações fechada.
Em relação aos produtos mais importantes da pauta importadora em junho, temos o leite em pó integral, os queijos, o leite em pó desnatado e o soro de leite, que juntos representaram 92% do volume total importado. O leite em pó integral teve uma elevação de 95% em seu volume importado. Além do leite em pó integral, os produtos que tiveram maiores variações com relação à importação foram o soro de leite, os queijos e as manteigas, com aumentos de 20%, 23% e 14%, respectivamente.
Os produtos que tiveram maior participação no volume total exportado foram o leite condensado, o leite UHT, o creme de leite e os queijos, que juntos, representaram 81% da pauta exportadora. O leite em pó integral teve um recuo de 95% em seu volume exportado, e o soro de leite um recuo de 100%.
A tabela 1 mostra as principais movimentações do comércio internacional de lácteos no mês de junho deste ano.
Tabela 1. Balança comercial láctea em junho de 2022.
Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados COMEXSTAT.
O que podemos esperar para o próximo mês?
Conforme relatado, no artigo “GDT: cenário baixista persiste e importações lácteas seguem competitivas” o cenário para os preços dos derivados lácteos segue baixista, frente a sinalização de intensificação da política de tolerância zero da covid-19 na China e temores de uma recessão econômica mundial.
A província de Xangai na China voltou a realizar testagem em massa em 9 distritos da região, o que ascende um alerta para a retomada dos lockdowns, e tende a prejudicar a demanda do país asiático. Além disso, o cenário baixista foi impulsionado pelos temores de uma recessão econômica mundial, frente a elevação da inflação dos Estados Unidos, e entraves na Europa, reforçados por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia. Este cenário impactou negativamente nos preços dos produtos internacionais, estimulando as importações.
Em contrapartida, o dólar voltou a ganhar força, frente aos entraves na economia mundial e a atenção voltada aos riscos ficais no Brasil em meio a anúncios do governo federal de novos auxílios, o que tende a agir no sentido contrário e desfavorecer as importações.
Fortalecendo o estímulo às importações, têm-se os preços dos derivados lácteos no mercado interno, que estão operando em patamares elevados, devido ao cenário de baixa disponibilidade de leite no mercado, o que também desestimula as exportações, visto que pode ficar mais viável comercializar os produtos no mercado interno em detrimento de negociar no mercado internacional. Este cenário altista para os produtos lácteos ainda persiste e poderemos observar novos aumentos nos preços, pelo menos a curto prazo.
Nesse cenário, mesmo com alguns fatores atuando contra às importações, como a elevação na taxa de câmbio, o produto importado ainda é competitivo, e espera-se que as importações sigam ganhando força nos próximos meses e que a janela de exportações continue fechada.