O número de fazendas leiteiras da União Europeia (UE) fechando as portas quebrará um novo recorde, alertam três grandes organizações agrícolas em uma carta aberta à Comissão Europeia.
A carta exorta a UE a implementar um instrumento de prevenção de crises para o setor lácteo, nos moldes do esquema voluntário de redução da produção de leite, que o European Milk Board (EMB), uma das organizações a assinar a carta, vem solicitando faz tempo. A carta também é assinada por três organizações que lutam contra a fome em países subdesenvolvidos.
A carta diz que a superprodução de produtos lácteos da UE deve ser evitada não apenas por causa dos produtores de leite da UE em dificuldades, mas também porque o "dumping nas exportações" dizima os mercados locais e ameaça a produção local na África.
Enviada à Comissão Europeia em 1º de junho (Dia Mundial do Leite), a carta diz que, se um instrumento de crise não for acionado, o setor lácteo será muito em breve afetado por uma crise de superprodução devido à queda na demanda e ao aumento dos volumes de leite. “Isto terá um impacto extremamente negativo nos produtores da UE e nos seus homólogos dos países africanos, bem como na segurança alimentar”, diz a carta.
E ainda cita que, "aumentos significativos nos custos, associados ao aumento dos preços ao produtor, moldaram a situação do setor de lácteos no ano passado. No entanto, essa situação excepcional em que a diferença entre preços e custos de produção havia praticamente diminuído em alguns países agora acabou. Volumes mais altos de leite, bem como a redução da demanda devido à inflação, levaram a reduções significativas de preços. O excedente no mercado desencadeou uma corrida para o fundo do poço."
“Para lidar com situações problemáticas e crises no futuro, precisamos de um mecanismo que ative automaticamente medidas como um esquema voluntário de redução da produção .Atrasos em ações devido a longas discussões políticas e bloqueios fazem com que os produtores tenham que pagar por isso e comprometam a segurança alimentar, algo que poderia ser evitado. Esse mecanismo permitiria restabelecer rapidamente o equilíbrio do mercado.", dizem as organizações.
Ainda enfatizaram a importância de prevenir a todo custo uma nova crise do leite e que “além disso, atrair a geração mais jovem para a profissão é crucial.”
"Deixar o mercado ditar sua própria lei é totalmente inapropriado, pois exclui os interessados economicamente mais fracos, incluindo aqueles que acabaram de assumir uma fazenda. Toda crise tem um efeito de reestruturação que leva os produtores a serem expulsos.", citam na carta.
Em vez disso, a política da UE deve garantir aos produtores uma renda decente a longo prazo, exigiram o EMB, ECVC, APLI e a Confédération paysanne da França, além de OXFAM, SOS FAIM e CFSI.
Com organizações membros em 16 países europeus (incluindo ICMSA na Irlanda), o EMB representa cerca de 100.000 produtores de leite. Há muito tempo faz campanha por um preço que cubra os custos médios de produção de leite e um instrumento de prevenção de crises para evitar o excesso de produção.
O EMB disse que os preços não subiram acima dos níveis de custo para muitos produtores de leite da UE em 2022, e o déficit sempre crônico entre preços e custos agora está aumentando, resultando na exploração total dos produtores.
O presidente da EMB, Kjartan Poulsen, da Dinamarca, disse que mais de 10% dos produtores abandonaram o setor de lácteos na Lituânia recentemente, e outros países logo seguirão o exemplo.
A APLI é a Associação de Produtores Independentes de Leite da França. A ECVC é a Coordenação Europeia Via Campesina, a voz coletiva dos produtores rurais na Europa, que apoia a soberania alimentar e a agroecologia camponesa para membros em 21 países europeus.
Os outros signatários da carta à Comissão da UE são OXFAM (França e Bélgica), SOS FAIM (uma ONG belga que luta contra a fome e a pobreza na África e na América Latina, apoiando a agricultura familiar e a transição agroecológica) e o Comitê Français pour la Solidarité Internationale (CFSI), que reúne 24 organizações para apoiar projetos de desenvolvimento de longo prazo para combater a fome e a desigualdade.
A carta exortou a Comissão a por de novo em cima da mesa uma regulamentação real dos volumes e preços da produção de leite. “A precificação do leite deve ser dissociada dos mercados globais e inicialmente baseada em 90% dos valores do mercado interno”, exigiram as entidades.
Medidas de gerenciamento de crise em caso de queda na renda dos produtores de leite foram exigidas como parte de políticas para promover fazendas de "escala humana" adaptadas aos imperativos do clima e da biodiversidade.
As informações são do Irish Examiner , traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.