A produção leiteira do Pará vem sofrendo mudanças transformadoras nos últimos anos. No estado, produtores que trabalhavam até pouco tempo de forma transformadora, estão demonstrando aos poucos sua capacidade.
A Região Norte foi a que mais obteve crescimento no país nas últimas décadas em relação a produção leiteira: 2.294 bilhões de litros produzidos anualmente, o que equivale 4,7% ao ano, segundo dados divulgados pela Embrapa. O Pará é o segundo maior produtor da região, respondendo por mais 30% do total produzido.
Distribuídas em mais de 35 mil estabelecimentos, o Pará possui um rebanho de quase meio milhão de vacas ordenhadas (487.597 cabeças) e 75% dessa produção é de pequenos produtores, segundo o Censo Agro do IBGE , divulgado em 2018.
O setor começou sua transformação após instituições públicas e privadas reunirem forças para a realização de investimentos e formações, principalmente em tecnologia e manejo, que possibilitaram uma produção profissionalizada nos últimos anos. O caminho é longo, muito ainda precisa ser feito, mas os pequenos produtores que estão seguindo as orientações já mostraram que são capazes de aprender e crescer no agronegócio.
“Hoje ainda temos um número elevado de famílias que estão em pequenas propriedades e que praticam essa atividade às vezes sem nenhuma tecnologia. Isso tem prejudicado bastante em termos ambientais e econômicos. O que acontece hoje é que estas propriedades estão melhorando com os investimentos e políticas públicas que estão permitindo a aceleração desse processo. Muitas propriedades hoje no Pará estão evoluindo na estrutura física e tecnológica”, diz José Adérito, pesquisador da Embrapa Oriental no Pará.
A cara do leite Paraense
Entre as dez cidades consideradas maiores produtoras, nove são do sudeste paraense, o que faz dessa mesorregião a maior bacia leiteira do estado, com mais de 71% do total produzido. São em propriedades como a de Enéas Fausto, localizada em Bom Jesus do Tocantins, que estão sendo realizados investimentos para otimizar e dinamizar a produção. Os resultados fazem-se notar.
Com o apoio e incentivo de programas como o Fundo Amazônico da Embrapa e também a Assistência Técnica e Gerencial (AteG) do Senar, produtores como Enéas estão conseguindo mais que quintuplicar sua produção. Os especialistas acompanham os produtores, fornecendo recursos em biotecnologia e formações, principalmente em técnicas de manejo. O resto depende da perseverança e dedicação do produtor. A transformação na propriedade é um esforço contínuo.
Assim como a Embrapa, a AteG, por exemplo, atende criadores de todo o Estado. Foram 510 propriedades rurais em 2019, com o objetivo de aplicar técnicas de produção e de gerar o desenvolvimento econômico. O programa beneficiou produtores rurais de 13 municípios e foi realizado com apoio dos Sindicatos Rurais.
O trabalho foi dividido em dois grupos em atividades voltadas para a cadeia produtiva do leite. Sendo que o primeiro grupo, com 270 propriedades obteve aumento na produção do leite em 82% e a renda em 42%.O segundo grupo, com 240 municípios obteve aumento m 85% e a renda em 70%.
“Quando eu comecei tirava de 30 a 40 litros por dia. Hoje, graças a Deus, estou numa média de 200 a 250 litros devido a tecnologia e o incentivo da Embrapa, que tem um projeto aqui do Fundo Amazônico. Eles nos dão assistência técnica e com isso, trabalhando direitinho, conseguimos prosperar. Graças a isso houve uma grande melhoria da minha propriedade, teve incentivo e melhora e hoje já mexo até com inseminação artificial. Melhorei meus animais e ganhei mercado”, diz Enéas.
Antes da chegada dos programas, os produtores como Enéas não conseguiam competir no mercado por causa do amadorismo com o qual levavam o negócio. Para os especialistas envolvidos no universo leiteiro do Pará, a chave da prosperidade está em incutir nos produtores a mentalidade empresarial.
“O Enéas tirava leite a céu aberto, tinha um curral sem cobertura, animais com pouca aptidão para produção leiteira, sem os cuidados higiênicos necessários. Hoje, ele é um produtor exemplo. Tem sala de ordenha adequada, tecnologia bem estruturada, técnicas de pasto com floresta e rotacionados. Tudo isso, ele faz sozinho, nós mostramos que ele era capaz. O principal é que os produtores leiteiros deixem de agir de forma extrativista e passem a perceber que são empresários”, diz José Adérito.
A maior parte das produções são vendidas à laticínios instalados em regiões fronteiriças, principalmente com o Estado do Maranhão. Alcançar níveis elevados de produção trará desenvolvimento para todo o Estado, gerando milhares de empregos. Desenvolver. Sobre o futuro, há muito trabalho ainda a ser feito, mas os resultados indicam que o setor anda no caminho certo.
“Hoje já temos grandes propriedades que contam com alto nível de tecnologia. Termos que expandir. Acredito que essa questão do leite vai crescer, porque é a última fronteira agrícola que precisamos desenvolver no Pará. Temos terra barata, condições de produzir, temos condições climáticas e uma série de outros indicadores que nos permite aumentar essa produção, precisamos só trabalhar e fazer”, diz o pesquisador da Embrapa, que de tão presente na vida dos produtores como Enéas, acaba sendo considerado um amigo de muitos.
As informações são do Diário Online, adaptadas pela equipe MilkPoint.