O fenômeno La Niña é um padrão climático natural que resulta da interação entre a atmosfera e o oceano. Durante o La Niña os ventos alísios se intensificam e as águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial acabam esfriando. Mas… o que esse fenômeno pode causar? Alterações na temperatura média, precipitação pluvial e no déficit hídrico, são alguns dos seus efeitos.
Conforme notícia da Embrapa, divulgada no MilkPoint Mercado, “O que esperar do clima nos meses de novembro e dezembro de 2021?”, e analisado pela Columbia Climate School International Research Institute for Climate and Society (IRI) e o Climate Prediciton Center (CPC) a probabilidade de ocorrência de La Niña para o trimestre atual é de 99% (destacado no gráfico a seguir) e segue alta para o final do ano.
Gráfico 1. Probabilidade de ocorrer eventos ENOS por trimestre.
Fonte: adaptado de CPC/IRI ENSO Probability Forecast, 2021.
A ocorrência de La Niña traz consequências para certas regiões do país, sendo o sul do Brasil uma região onde os efeitos associados ao fenômeno podem ser mais intensos. O estado do Rio Grande do Sul pode apresentar efeitos negativos desencadeados pelo fenômeno, como demonstrado na imagem a seguir.
Imagem 1. Distribuição espacial dos efeitos do evento “La Niña”. (Pode-se observar que o Norte do estado é mais afetado).
Fonte: INPE, 2001.
Um dos efeitos negativos que o La Niña traz para a região sul do Brasil é uma precipitação pluvial menor e consequentemente aumento do déficit hídrico, principalmente no período de outubro a fevereiro. No caso do Rio Grande do Sul, a região noroeste é a mais afetada.
Gráfico 2. Distribuição da precipitação pluvial de outubro a março (diagrama de caixa) nos eventos de El niño e La niña da região significativa de produção de milho do Rio Grande do Sul (1919- 2003).
Fonte: UFRGS, 2004.
O efeito do La Niña já pode ser sentido na prática na região sul do país. Como exemplo, as cidades de Passo Fundo e Cruz Alta, ambas no noroeste do estado apresentaram um regime hídrico acumulado para o mês de novembro muito inferior a média histórica dos locais, conforme constatado nos gráficos a seguir.
Gráfico 3. Chuvas acumuladas (mm/mês) em comparação com a média histórica da região de Cruz Alta-RS.
*2021: Até 23/11/2021.
Gráfico 4. Chuvas acumuladas (mm/mês) em comparação com a média histórica da região de Passo Fundo-RS.
*2021: Até 23/11/2021.
Fonte: Elaboração MilkPoint Mercado, 2021.
Passo Fundo tem uma média histórica acumulada de chuvas para o mês de novembro de aproximadamente 151 mm e o apresentado até o momento (23/11) foi 30 mm, ou seja, uma redução de aproximadamente 80% considerando o período. Já Cruz Alta se encontra em estado mais crítico, sendo a média histórica de chuvas acumulada para o mês de novembro de aproximadamente 148 mm e as chuvas acumuladas até o momento (23/11) atingiram apenas 6 mm, representando uma redução de aproximadamente 96%.
Quais os impactos desse fenômeno na atividade leiteira?
Essa falta de chuvas vem sendo prejudicial para a produção de alimentos na região, e pode comprometer a reserva de alimentos para 2022. O milho verão para silagem encontra-se em grande parte das lavouras em sua fase de reprodução. A falta de água neste período pode causar danos, como uma diminuição no enchimento dos grãos e em casos extremos a não formação de grãos. A produtividade do milho para silagem cultivado no sul do Brasil já apresenta danos até o momento, e a esperança é que ocorram chuvas nos próximos dias para evitar perdas maiores.
Imagem 2. Danos causados pelo estresse hídrico na cultura do milho.
Fonte: Murilo Durli, 2021.
A soja também vem sendo afetada. O estado do Rio Grande do Sul representa aproximadamente 15% da área plantada do grão no país, conforme o gráfico a seguir. A soja se encontra em fase de germinação em grande parte das lavouras na região, e a falta de chuvas pode afetar seu desenvolvimento. Assim como o milho, perdas de produção podem ser observadas em lavouras da região sul do país.
Gráfico 5. Área plantada de soja nacional e no Rio Grande do Sul.
Fonte: CONAB, 2021.
A diminuição da oferta de silagem e soja nos próximos meses pode afetar a conjuntura dos preços do leite, afetando por exemplo, o RMCR (Receita Menos Custo de Ração), portanto vale ficar de olho nos próximos dias nas condições meteorológicas e esperar por chuvas, principalmente na região sul do Brasil.
A tendência para os próximos meses é uma diminuição da probabilidade de ocorrência do La Niña, conforme observado no gráfico 1 e uma menor intensidade em seus efeitos. Acredita-se que seus impactos não terão efeitos relevantes para o plantio de forrageiras de inverno no Rio Grande do Sul.