EUA: Produtores estão dispostos a cortar subsídios

Publicado por: MilkPoint

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Os produtores de leite dos Estados Unidos, os maiores receptores de auxílio governamental no setor agrícola, estão descartando seu protecionismo e cuidadosamente adotando um plano de cortar os suportes aos preços nas negociações comerciais mundiais.

As negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong nesta semana estão objetivando cortar os pagamentos aos produtores de leite e as restrições às importações. Os representantes da indústria de lácteos dos EUA, que estiveram de fora das rodadas de negociações da OMC anteriores, estão sendo participantes ativos agora - principalmente porque a Europa concordou em retirar em fases seus subsídios às exportações, o Japão está oferecendo reduzir as restrições às importações e um novo acordo da OMC fornecerá maior acesso a mercados estrangeiros.

"Por muitos anos, desde a década de 1960, a indústria de lácteos foi muito protecionista", disse o ex-secretário de Agricultura dos EUA que agora é conselheiro do Food Trade Alliance, um grupo de Washington que é a favor do livre comércio, Clayton Yeutter. "Agora eles estão começando a se inclinar em direção à aceitação".

Para fabricantes de alimentos, como a Kraft Foods Inc., de Northfield, Illinois, e processadoras de lácteos como a Glanbia Foods Ltd, de Kilkenny, Irlanda, que está abrindo uma planta no Estado norte-americano de Novo México, o fim dos suportes do Governo é uma meta chave das negociações da OMC. Para os produtores de leite como Peter Kappelman, de Manitowoc, Wisconsin, que também é presidente da cooperativa Land O'Lakes Inc., de St. Paul, Minnesota, "o desafio é abrir mão do que conhecemos nos atuais programas para o que não conhecemos" em um comércio competitivo.

Mais protegido

Um sistema de pagamentos do Governo, compras e cotas de importação que remete à Grande Depressão torna o leite um dos produtos mais protegidos dos EUA, com o suporte do Governo atingindo US$ 4,5 bilhões por ano, de acordo com a OMC. Os preços do leite nos EUA são, em média, 36% maiores do que os preços globais como resultado disso, de acordo com um estudo de 2003 feito pela Universidade de Wisconsin de Madison.

Uma das razões da mudança de opinião da indústria de lácteos pode ser uma mudança no clima político em Washington, direcionada pelos esforços dos legisladores para reduzir o déficit orçamentário, que totalizou em US$ 319 bilhões no ano fiscal de 2005.

"Os produtores não gostam de ouvir isso, mas à medida que avançamos, a comunidade agrícola está enfrentando uma enorme pressão no lado do orçamento e uma enorme pressão no lado do comércio", disse o Representante dos EUA, Gil Gutknecht, Republicano de Minnesota e presidente do sub-comitê de lácteos do Comitê de Agricultura da Parlamento.

Pagamento aos produtores

O Parlamento dos EUA decidiu no mês passado não estender um dos mais controversos subsídios aos lácteos, o programa de Compensação de Perda de Rendimento com Leite (Milk Income Loss Compensation - MILC), que paga aos produtores quando os preços caem abaixo de um certo nível. O Senado votou por manter o programa e agora, as duas câmaras estão tentando negociar um acordo sobre seu futuro.

Uma mudança na indústria é uma razão para o Representante Comercial dos EUA, Rob Portman, ser capaz de oferecer aos outros negociantes da OMC um corte de 60% nos principais subsídios dos EUA neste ano e pressionar a UE para cortar suas tarifas.

Os produtores de leite são os únicos dos EUA que têm subsídios para estimular as exportações, disse o administrador associado do Serviço Agrícola Externo (Foreign Agriculture Service - FAS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Ken Roberts. "No caso da nossa indústria de lácteos, tem mais o que ganhar do que o que perder" porque os subsídios da UE ofuscam os dos EUA, disse ele.

Para os processadores de alimentos e outros clientes dos produtos lácteos, "esta é uma forma para os EUA conseguirem mudanças domésticas através de pressão externa", disse a gerente de relações globais da Associação Internacional de Alimentos Lácteos (International Dairy Foods Association - IDFA), Helen Medina. "Nós gostaríamos de ver preços menores do leite, pois assim poderíamos ser competitivos".

Carta a Bush

A IDFA, que representa mais de 500 companhias dos EUA, mandou uma carta ao presidente George W. Bush no dia sete de dezembro, estimulando sua administração a pressionar por "significantes reformas nos subsídios agrícolas" na OMC. A carta foi assinada pelos executivos das companhias, incluindo Kraft, Friendly Ice Cream Corp. e Dairy Queen, propriedade da Berkshire Hathaway.

Alguns produtores disseram que somente estão dispostos a aceitar um acordo que ofereça a eles novos mercados de exportação em troca de cortes nas tarifas e pagamentos.

A atual estratégia da indústria é diferente dos esforços nos acordos comerciais anteriores. Os produtores de leite dos EUA e do Canadá concordaram em isentar seus produtos do Acordo de Livre Comércio EUA-Canadá em 1988; como resultado disso, os produtores lácteos se tornaram um dos poucos bens que ficaram de fora do que se tornou o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (North American Free Trade Agreement - NAFTA), em 1994.

Fonte: Bloomberg (por Mark Drajem), adaptado por Equipe MilkPoint
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