Com o aval dado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para a importação de milho dos Estados Unidos (EUA), empresas do Brasil que aguardavam a liberação já trabalham para começar a trazer o grão. A Resolução Normativa nº 32, que autoriza a importação, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) nesta quinta-feira (17/06).
O documento do órgão altera regras sobre cultivares transgênicas e torna viável, entre outros pontos, a compra do cereal norte-americano — a mudança valerá a partir de 1º de julho. Importadores relatam tratativas adiantadas para a contratação de ao menos três navios, com cerca de 65 mil toneladas cada. Eles devem chegar ao país, provavelmente por Santa Catarina, a partir da segunda quinzena do próximo mês.
Conforme informações preliminares, há potencial de contratação de outros sete navios, diz José Antônio Ribas Júnior, presidente do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne/SC). O executivo não mencionou os nomes das empresas.
“A liberação é fundamental. Faz parte de estratégia para o setor sob a ótica de custo e disponibilidade de grãos para que sigamos oferecendo proteína sem que isso seja um elemento adicional de aumento da inflação”, afirmou.
De acordo com ele, os esforços para a liberação exigiram reuniões em diferentes instâncias em Brasília. O encontro mais recente, conta, foi na última terça-feira, com integrantes a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Embora a importação do milho dos EUA seja vista como uma alternativa pontual, a liberação é estratégica. O setor ganha poder de barganha para negociar o cereal, principal insumo da ração animal, em um ano em que seus preços atingiram patamares recorde. Em suínos, aves e ovos, o milho e a soja representam 70% dos custos de produção.
Ainda segundo Ribas Jr., com a alta do milho, agora, o grão norte-americano chega ao Brasil com preços mais competitivos que os do grão disponível no mercado interno, especialmente em Santa Catarina. “Logo o equilíbrio será retomado”, acrescenta.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) avaliou como positiva a resolução do CTNBio. “Com a redução do desequilíbrio que existia entre a fácil exportação de grãos brasileiros e a difícil importação para território nacional, além da viabilização técnica da importação proveniente de grandes produtores de grãos, como é o caso dos EUA (aliada à isenção da TEC de importação desses insumos), espera-se que a especulação que causou aumentos injustificados no Brasil (com impacto na inflação dos alimentos) arrefeça gradativamente”, afirmou a entidade, em nota divulgada ontem (
Ontem, em comentários sobre as perspectivas para a safra 2021/22, o gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti, reforçou que a abertura total para a importação de milho dos Estados Unidos deve ter impacto limitado sobre os preços, mas poderá ajudar a diminuir a preocupação com a falta do produto. “Os preços de paridade elevados ainda dificultam a compra do cereal americano”, disse.
Segundo ele, o Brasil importou 820 mil toneladas de milho entre janeiro e maio deste ano. As compras ajudaram a indústria de proteína animal a minimizar os impactos do aumento dos preços do grão no mercado interno, mas não eliminam os efeitos da alta sobre os custos da cadeia.
A decisão do CTNBio pode ajudar caso haja quebra de produção na Argentina, de onde os brasileiros já compram o cereal, que sofreu com o clima. Todas essas movimentações no mercado de milho não vão pressionar os preços para patamares vistos antes da pandemia, analisou Bellotti.
As informações são do Valor Econômico, adaptadas pela Equipe MilkPoint.