Encarada como positiva para o país pelo governo Bolsonaro, a possível entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - fortalecida agora com o apoio dos EUA -, poderá dificultar a estratégia da nova gestão da Embrapa de ampliar a captação de recursos externos junto a organismos ou instituições internacionais como a FAO e o Banco Mundial para financiar suas pesquisas.
"Se o Brasil entrar na OCDE, teremos muito menos chance de conseguir esse tipo de recurso. Estaremos entre os países ricos e, a partir daí, os países doadores, que têm cada dia menos recursos, vão se concentrar nos países mais carentes", afirmou Sebastião Barbosa, presidente da Embrapa, em entrevista ao Valor .
No cargo há cinco meses, Barbosa, pesquisador aposentado da estatal, tem larga experiência internacional. Foi consultor da FAO por 17 anos em escritórios da agência da ONU para agricultura e alimentação em Roma, na Itália, e em Santiago, no Chile, e assumiu com a expectativa de aproveitar essa experiência para otimizar parcerias para complementar as escassas fontes de recursos disponíveis. Pesquisadores da Embrapa já chegaram a desenvolver projetos de pesquisas bancados por editais de entidades internacionais, mas a ideia inicial de Barbosa era expandir esse foco.
Célio Porto, ex-secretário de Relações Internacionais do Ministério Agricultura e consultor do instituto Pensar Agro, diz que, normalmente esses organismos internacionais têm como critério investir em países pobres, como os da África, ou em desenvolvimento, como Índia e China, grupo do qual o Brasil avalia se retirar sob a gestão Bolsonaro. A linha de atuação desses organismos, observa Porto, de fato é financiar projetos de países que "mais precisam".
Enquanto o futuro no campo internacional não se define, a Embrapa, que não será privatizada pelo menos por ora, segue com seu plano de reestruturação administrativa e em busca de outras alternativas para se financiar, no momento sobretudo por meio de fundos - privados, como os de private equity, ou estaduais, como os da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Temos que nos acostumar com esses fundos", disse Barbosa.
O fato é que a Embrapa continua às voltas com um orçamento praticamente estagnado - são R$ 3,6 bilhões previstos para 2019 - e engessado com gastos com pessoal. Sebastião Barbosa entende que é preciso gastar de forma mais racional essas verbas orçamentárias da empresa pública e reconhece, não sem pesar, que um aumento de orçamento não está "no nosso horizonte imediato".
"Agora precisamos esperar que o Brasil cresça. Também vamos precisar investir no treinamento das pessoas novas que vão chegar à Embrapa e renovar nosso parque de máquinas. Para isso, vamos precisar de investimentos, o que não temos tido nos últimos cinco anos", revela o presidente da empresa, que no passado foi fundamental para a o desenvolvimento da agricultura no Cerrado, entre outros feitos.
Nesse contexto, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vem articulando a contratação da consultoria Falconi, especializada em gestão, para avaliar o modelo jurídico da Embrapa, que cria amarras para o recebimento de royalties, por exemplo. A contratação está em estudo.
Nesse contexto, talvez a estatal brasileira também desista de outra antiga aposta: avançar com a criação da Embrapatech, subsidiária proposta em projeto de lei que ainda tramita no Congresso e alçada como prioridade na gestão do presidente anterior, Maurício Lopes. A assessoria jurídica da empresa vem reavaliando o tema a partir de uma nova leitura de que a legislação atual sobre inovação científica já permite parcerias de negócios com o setor privado.
As informações são do jornal Valor Econômico.