A alta nos custos de produção em todo Brasil, com destaque para elevação nos preços do milho e do farelo de soja, principais grãos que compõem a alimentação das vacas, está preocupando os produtores de leite.
Esse aumento de preços pode ser explicado pela junção de vários fatores que aconteceram no segundo semestre de 2020, mas que impactam o começo de 2021. Entre eles, temos a valorização do dólar frente ao real, clima e a elevação dos preços da carne bovina, visto que a elevação desta estimula outros mercados, como suínos e aves, que também consomem grãos utilizados na alimentação das vacas, aumentando a competitividade pelo produto e elevando custos.
No Ceará, os pontos citados acima e outras adversidades locais enfrentadas pelos produtores de leite agravaram o cenário da produção no estado, como o agravamento da crise hídrica; aumento do custo com os fretes na compra de grãos de milho de outros estados e o ataque as lavouras locais de sorgo.
Diante disso, os produtores cearenses relatam que enfrentam dificuldades para permaneceram na atividade. Para entender melhor esta situação, entrevistamos representantes dos produtores de leite e da indústria láctea do estado.
Conversamos a Comissão de Produtores de Leite do Ceará, que envolve produtores de Quixeramobim – maior bacia leiteira do estado. De acordo com a Comissão, entre os principais desafios encontrados pelos produtores de leite do Sertão Nordestino está o agravamento da crise hídrica na região.
“A crise hídrica que estamos enfrentando desde 2012 tem seu ano de maior impacto em 2021. Em muitas propriedades, os reservatórios estão zerados, relataram. “A salinidade da água até aumentou, em alguns poços o gado não consegue mais beber”, complementaram. “Muitos produtores estão deixando a atividade por falta de água, outros estão investindo em furar novos poços para manter pelo menos o abastecimento do consumo do rebanho,” disse a Comissão.
O grupo de produtores relatou ainda que, devido ao longo período de 10 anos de estiagem, o estado “não consegue produzir 20% da demanda de grãos de seus rebanhos bovinos, suínos e avícolas.”
Deste modo, de acordo com eles, o Ceará se tornou “dependente de soja, milho, sorgo caroço de algodão e milheto produzidos em outros estados como Piauí, Maranhão, Bahia e outros mais distantes.” Esta dependência de grãos está sendo ainda agravada pelo aumento dos custos com frete. Atualmente, os produtores pontuaram que “o frete do transporte rodoviário representa cerca de 30% ou mais do valor destes insumos agropecuários.”
“Com a instalação da crise sanitária causada pela Covid-19 e a forte demanda chinesa por grãos, juntamente com a alta do dólar, vimos os preços dos grãos subirem de 70 a 100 % em um ano; e o nosso produto final, o leite, teve reajuste na casa de 20%”, completaram.
Neste contexto, a alternativa encontrada pelos produtores cearenses para suprir o milho na alimentação das vacas é o sorgo forrageiro. “Usamos o sorgo forrageiro, pois, apesar de ter valor nutricional menor que o do milho, é mais resistente aos períodos de estiagem que ocorrem mesmo na quadra chuvosa. É comum termos 20, 25 até 30 dias de estiagem entre uma chuva e outra ao longo dos meses chuvosos.”, explicaram.
Contudo, os produtores estão encontrando dificuldades até para a utilização do sorgo, devido ao ataque do “pulgão da cana” nas lavouras. “Esse ano além das chuvas muito abaixo do normal e mal distribuídas, tivemos um ataque do ‘pulgão da cana’. Ele assolou as lavouras de sorgo forrageiro. Muitos conseguiram combater parcialmente, mas como ainda havia pouca informação sobre essa praga no sorgo, acentuaram-se as perdas. Estimamos as perdas entre 40 e 80 % em linhas gerais.”
Diante das adversidades citadas, a Comissão de Produtores relata que o preço pago pelo litro de leite não está acompanhando a alta dos custos de produção. Com isso, eles pontuaram que estão “formando comissões para negociar preço com a indústria de lácteos, apesar da renda das famílias brasileiras está sendo afetada diretamente pela crise sanitária e econômica.”
“Aqui no Ceará, precisamos de uma política de preços transparente por conta das indústrias, sendo que, normalmente, esta política não acompanha as variações do mercado nacional.” Segundo os produtores, “essa precificação vigente está sendo o ponto crucial para redução da atividade.”
A Comissão também disse que “além da sensibilização de laticínios e do mercado como um todo, precisaremos também da colaboração e atenção do governo, criando políticas públicas que desonerem essa cadeia produtiva, de maneira que cheguem esses benefícios ao setor primário.”
De acordo eles, esta situação “está inviabilizando a atividade de produção de leite a nível profissional. Muitos pequenos produtores passaram a manter a atividade a nível de subsistência, tirando leite só uma vez por dia, sem praticamente usar concentrado.”
“Fazendas sem manutenção, redução da produção e o aumento exponencial do abate de matrizes para fechar as contas das fazendas”, conforme os produtores, retratam o cenário que muitos estão deixando ou suspendendo a atividade de produção de leite no estado.
Para entendermos o cenário do setor lácteo no Ceará como um todo, conversamos com Bruno Girão, CEO da Betânia Lácteos, maior empresa de laticínios do estado e da região Nordeste. De acordo com ele, por meio do Instituto Luiz Girão, a empresa tem atuado em três frentes para auxiliar os produtores de leite com relação a aumento dos custos de produção.
“O Instituto Luiz Girão tem atuado em três principais frentes. Na garantia de abastecimento de volumoso aos produtores Betânia, Assistência Técnica e apoio ao acesso a crédito,” explicou.
“O Instituto acaba de assinar acordos de cooperação com BB, BNB e Sicredi. O resultado disto será a possibilidade de o produtor comprar melhor seus insumos e investir em infraestrutura, o que trará um aumento em sua produtividade”, completou.
Apesar das atuais adversidades da produção de leite na região, Girão disse que “o aumento na captação tem sido constante,” e que “apesar das poucas chuvas, houve produção de pastagem nativa, e como estamos saindo da época chuvosa, ainda é cedo para dizer se teremos redução de produção.”
“A Betânia vem investindo nos últimos anos na aquisição e instalação de tanques de resfriamentos nas propriedades cearenses. Esse movimento nos faz aumentar a base de produtores ano a ano”, pontuou.
Em relação ao diálogo com os produtores, o CEO da Betânia Lácteos disse que “estamos constantemente em diálogo com o campo.” Girão completou dizendo que “estamos há 50 anos nessa atividade, compramos leite diariamente de mais de 5.000 famílias, entendemos a nossa responsabilidade, entendemos que a relação precisa ser de parceria e confiança.”
Fonte: MilkPoint
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