Após a decisão do Governo de elevar as retenções de impostos às exportações de lácteos, o setor leiteiro da Argentina se dividiu em dois, uma vez que os produtores acusam as indústrias maiores de ter apoiado a medida. Esta opinião aumentou quando o presidente da La Sereníssima, Pascual Mastellone, classificou o aumento como "razoável".
Mastellone, ao invés de criticar o aumento dos impostos, o justificou. Ele disse que esta medida buscou "um equilíbrio porque a exportação estava levando todo o leite e o mercado interno ia ficar desabastecido".
O vice-presidente da Sociedade Rural Argentina (SRA), Luis Biolcatti, que é um dos produtores de leite mais importantes do país, considerou que essas declarações "são coerentes com sua conduta". Neste sentido, culpou um grupo de empresas liderado pela La Sereníssima de ter violado intencionalmente o acordo de preços firmado com o Governo em abril. "Fizeram isso com o objetivo que finalmente conseguiram: obter uma proteção (por via das retenções de impostos) contra a competição que estavam sofrendo da exportação".
Ainda que isto pareça um contra-senso, são muitos os que sugerem que a La Sereníssima promoveu um aumento dos impostos para os produtos que ela mesmo fabrica. Isso porque, devido ao forte crescimento das exportações - de 60% até agora neste ano -, um grupo de empresas lácteas de segundo escalão (como Milkaut, La Sibila e Williner) estava apostando forte para se abastecer de matéria-prima, provocando um visível aumento dos preços aos produtores. A La Sereníssima, por sua vez, tem seu forte no mercado interno. A SanCor, a maior produtora do país, ficou no meio dessas duas posições.
Biolcatti disse que o Governo argentino "fez o jogo das grandes empresas" e disse que a variável de ajuste será outra vez o produtor.
Os consumidores foram a justificativa da medida, mas parece que não foram até agora beneficiados com isso, uma vez que, logo após o fim do acordo de preços, as indústrias subiram seus preços entre 3% e 8%.
A La Sereníssima ratificou que não voltará atrás com esses aumentos. No entanto, disse que esses preços serão os "definitivos" para o restante do ano.
Protestos
Produtores de leite de Santa Fé e Córdoba fizeram na última terça-feira uma mobilização em uma indústria de leite da La Sereníssima, localizada em Las Varillas, Córdoba que deu início a uma série de medidas de protesto devido à decisão do Governo de aumentar os impostos de exportação de lácteos.
Representantes das entidades leiteiras de Santa Fé, Córdoba e Entre Ríos, e de entidades nacionais, como Federação Agrária Argentina, reuniram-se para analisar o cenário pós-retenções e articular medidas de protesto. "Em primeiro de agosto se reunirá o conselho diretor da Federação para analisar medidas de força que certamente incluirão mobilizações como as realizadas hoje", disse o secretário da Federação Agrária, Julio Curraz, que afirmou que existem negociações com as Confederações Rurais Argentinas e SRA para avançar com possíveis medidas.
A briga já começou com a assembléia realizada por cerca de 400 produtores de leite em frente a planta da La Sereníssima. O setor de produção acusa esta empresa de estar por trás da decisão do Governo de aumentar os impostos, para garantir o abastecimento com um preço menor da matéria-prima. "Como sempre, os prejudicados são os consumidores e os produtores, porque tanto as indústrias como a cadeia de comercialização têm outras margens para trabalhar", disse Curraz.
Os produtores de leite não descartam mecanismos de retenção de leite para defender seus preços e expressar seu protesto.
Fonte: Clarín e La Capital - Rosário, adaptado por Equipe MilkPoint
Argentina: aumento de impostos de exportação divide setor
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