Estratégias de manejo para redução do risco de novas infecções intramamárias (IIM), bem como para a prevenção de prejuízos ocasionados pela doença, como aumento da CCS e perda do potencial de produção, são de grande benefício para produtores de leite. O uso de tratamento de vaca seca é uma prática amplamente usada para secagem de vacas leiteiras com o objetivo de curar IIM existentes e de prevenir novas IIM durante o período seco. No entanto, apesar do uso de antibióticos na secagem, aproximadamente 52% dos casos de mastite clínica causados por coliformes ocorrem em quartos mamários que foram infectados durante o período seco. Parte disto ocorre porque a maioria dos antibióticos de secagem possuem ação antimicrobiana nos estágios iniciais e intermediários do período seco, porém com eficácia reduzida no estágio que antecede o parto.
Um dos mecanismos fisiológicos de defesa das vacas contra IIM após a secagem é a formação do tampão de queratina no canal do teto, o qual atua como uma barreira física contra patógenos causadores de mastite. A falha, ou mesmo o atraso na formação do tampão de queratina é um fator de risco para novas IIM durante o período seco. Um estudo indicou que quartos mamários com o canal do teto aberto ou com lesões na extremidade apresentaram 1.7 vezes mais chance de desenvolver novas IIM durante o período seco em comparação a quartos mamários sadios e com o tampão de queratina formado.
Ouso de selante de teto em combinação com antibiótico intramamário é uma estratégia de proteção similar ao que ocorre naturalmente com a formação tampão de queratina contra agentes causadores de mastite. Selantes de teto são formulações inertes, sem propriedades antimicrobianas, e que são injetados no canal do teto no momento da secagem para atuar como uma barreira física contra a invasão de micro-organismos causadores de mastite. Um estudo recente demonstrou que o selante de teto aplicado em associação com antibióticos intramamários na secagem reduziu o risco de mastite clínica na lactação subsequente em 48% em comparação a vacas que receberam apenas o antibiótico.
Em relação à mastite subclínica, são escassos os estudos que avaliaram o efeito da combinação de selantes de teto e antibióticos aplicados no momento da secagem. Com base nisso, um estudo recente teve como objetivo avaliar a eficácia do selante de teto em combinação com a terapia de vacas seca administrado no momento da secagem sobre a CCS individual, produção e composição do leite e risco de mastite clínica e subclínica em vacas multíparas com até 60 dias em lactação.
Um total de 2.080 vacas distribuídas em oito rebanhos foram submetidas a um dos seguintes protocolos de secagem: (a) aplicação somente de antibiótico intramamário (ATB; total de 1.044 vacas); e, (b) aplicação de antibiótico intramamário associado com selante de teto (ATB + SEL; total de 1.036 vacas). Indicadores como a produção de leite, CCS individual, e as porcentagens de gordura e proteína foram avaliados em intervalos de 14 ± 3 dias após o parto durante os primeiros 60 dias de lactação. Além disso, casos de mastite clínica foram registrados durante o período compreendido entre a secagem e 60 dias pós-parto.
Vacas que foram tratadas com o protocolo ATB + SEL tiveram a média geométrica de CCS nos primeiros 60 dias de lactação mais baixa (CCS = 32 × 103 células/mL) em comparação com vacas que receberam apenas antibiótico intramamário na secagem (43,5 × 103 células/mL). Além disso, vacas submetidas ao protocolo ATB + SEL tiveram 1.9 vezes menos chance de apresentar mastite subclínica (CCS ≥ 250 × 103 células/mL) nos primeiros 60 dias de lactação em comparação a vacas que receberam o protocolo ATB.
Em relação à mastite clínica, apenas 4 vacas apresentaram infecção durante o período seco e 76 vacas apresentaram mastite clínica no período compreendido entre 0 e 60 dias pós-parto: 43 casos (5.7%) no grupo ATB; e 33 casos (4.3%) no grupo ATB + SEL. Entretanto, não houve diferença estatística entre os protocolos de secagem sobre a ocorrência de mastite clínica. Da mesma forma, não houve diferença entre os protocolos de secagem em relação à produção e composição do leite. A ausência de efeito dos protocolos em relação à mastite clínica não foi consistente com os resultados de outros estudos, os quais relataram redução de 24 a 48% na ocorrência de infecção com o uso de selante associado ao antibiótico intramamário na secagem em comparação com o uso somente de antibiótico.
A prevenção de infecções intramamárias depende de diversos fatores além da terapia de vaca seca, o que inclui a adequada assepsia durante o procedimento de secagem, higiene de ordenha e das instalações, sanidade geral do rebanho, e monitoramento e manejo das vacas, particularmente durante os períodos de maior risco. Contudo, protocolos de secagem com a combinação de selantes de teto e antibióticos intramamários podem gerar benefícios econômicos aos rebanhos leiteiros por sua ação na redução da CCS e prevenção de IIM durante o período seco e estágio inicial de lactação.
Fonte: Golder et al. (2016), J. Dairy Sci. 99:7370–7380.
*Tiago Tomazi é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP.