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Como estimular a bezerra que nasce com a Síndrome do Mau Ajustamento Neonatal

POR BRUNA APARECIDA FELICIANO

E VIVIANI GOMES

VIVIANI GOMES

EM 18/08/2023

6 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 16/08/2023

O período de transição fetal para neonatal é considerado um período importante que requer maior atenção às bezerras, devido as adaptações fisiológicas que necessitam para sobreviver, sendo necessário uma resposta comportamental muito rápida, o que inclui ficar em pé, andar, procurar o bico e sugar o colostro e o leite.

Qualquer prejuízo na expressão desses comportamentos é caracterizado como ‘baixo vigor ou vitalidade’. Sem intervenção veterinária rápida, esses recém-nascidos provavelmente apresentam comprometimento do bem-estar relacionados à ingestão inadequada de colostro e leite, que resulta em uma cascata de problemas: gasto de energia e fraqueza, dificuldade para se levantar, temperatura baixa, falha de transferência de imunidade passiva, infecção e morte.

O baixo vigor contribui significativamente para a mortalidade nas primeiras 48 horas de vida. Taxas mais altas de baixo vigor foram observadas após partos difíceis ou partos assistidos.

A Síndrome do Mau ajustamento Neonatal - SMN (ou encefalopatia neonatal) é um distúrbio do sistema nervoso central que é uma das causas do baixo vigor ao nascer caracterizada por falta de interesse na mãe ou no teto, falta de reflexo de sucção, consciência reduzida em geral, anormalidades em ficar de pé e andar, incoordenação por horas ou até mesmo dias que pode progredir para sinais neurológicos mais graves, incluindo convulsões. Em alguns casos, o baixo vigor leva à diminuição de temperatura e emagrecimento intenso.

A Síndrome do Mau ajustamento Neonatal é bem conhecida em potros, porém é um tema em alta no mundo das bezerras. Faltam estudos mais profundos de SMN em bezerros, sendo necessário o reconhecimento para diagnóstico diferencial de outras doenças do período perinatal (período perinatal - primeiras 48 horas de vida).

Presume-se que a SMN seja causada exclusivamente por baixo nível de oxigênio durante o período perinatal, além da presença de esteróides neuroativos. Na vida intrauterina existem neuroinibidores com função semelhante a sedativo, que contribui para a redução dos movimentos fetais e diminui os riscos de lesões maternas na segunda fase do trabalho de parto, porém após o nascimento esses neuroinidores devem estar diminuídos.

A compressão durante a passagem do feto no canal vaginal, estimula a ativação noradrenérgica generalizada no cérebro e liberação de neuroativadores que prepara o animal para um estado consciente. Nos casos de SMN  foi relatado que esses neuroinibidores podem persistir após o nascimento, ocasionando um estado inconsciente e sonolento.

Essa síndrome pode ocorrer em animais tanto advindos de partos vaginais como cesarianas, não há estudos publicados de suscetibilidade aumentada de animais nascidos por cesariana. As bezerras com a SMN nascem fracas, com dificuldade de se levantar, ficar em pé ou mamar, morrendo após alguns dias, porém não se sabe ao certo a causa, mas acredita-se que uma delas seja hipóxia cerebral ou acidemia, devido ao parto prolongado.

A técnica de compressão torácica pós-natal, conhecida como “técnica de squeeze” ou “técnica de Madigan” tem sido usada como forma de tratar os animais que nascem com a SMN. Nos cordeiros é indicado tanto para aqueles com sintomas semelhantes aos da SMN ou para estimular a amamentação nos casos quando não possui reflexo de sucção.

A compressão torácica pós-natal é um método modificado advindo da técnica de Rueff para contenção e anti-estresse de gado. Além disso, técnicas de pressão profunda têm sido usadas para melhorar o humor e a adaptação ao ambiente em crianças com autismo.

Não existe horário mínimo ou máximo para realizar essa compressão torácica. Em um artigo foi realizado em um bezerro nas 6 horas de vida e o outro nas 20 horas de vida. Em pesquisas anteriores, potros saudáveis foram submetidos a um aperto aos 4 dias de idade e foram induzidos com sucesso.

A aplicação pós-natal da técnica de compressão pode ser realizada passando-se três voltas de corda macia ao redor do tórax e aplicar pressão por 20 minutos, para que ocorra a  liberação de neuroinibidores que simula uma compressão natural semelhante ao que ocorre durante a passagem pelo canal de parto, induzindo rapidamente a inconsciência/sono até que a compressão seja interrompida e então retorna à consciência e às interações comportamentais normais com o ambiente.

Em potros, os recém-nascidos que receberam o procedimento de compressão se recuperaram mais rapidamente do que aqueles que receberam apenas terapia médica, que são tratamentos sintomáticos e de suporte que pode exigir de 2 a 7 dias de cuidados veterinários.

Pode ser necessário auxilio de um colaborador para segurar a bezerra na parte traseira e um braço ao redor da frente do peito para mantê-la em pé. Uma corda de algodão macio, com aproximadamente 3 cm de diâmetro e 5 metros de comprimento, deve ser passada três vezes em volta do tórax da bezerra e aplicada pressão na ponta solta da corda.

Após o procedimento, o recém-nascido ficará em deitado lateralmente, enquanto ocorre a compressão torácica através da tração da corda. O aperto deve ser aplicado até que o estado de responsividade do bezerro esteja reduzido com cessação dos movimentos dos membros ou o tempo máximo de 10 minutos fosse atingido (Figura de 1 a 7; para dúvidas em relação ao procedimento, acessar o vídeo no instagram do gecria.usp).

Pesquisas anteriores em porcos demonstraram que 10 minutos são suficientes para demonstrar a eficácia do aperto. Além disso, esse tempo é mais curto do que a duração média do estágio II do trabalho de parto em vacas, 38 a 114minutos, garantindo que quaisquer riscos associados à compressão prolongada fossem mitigados.

Técnica Squeeze

Técnica Squeeze

O animal pode sentir incômodo nos primeiros minutos sendo necessário os devidos cuidados acidentais com a cabeça principalmente. A compressão de ressuscitação neonatal é um tratamento rápido que pode ser realizado facilmente na fazenda. Em geral, o resultado é visto aproximadamente em dois minutos em um bezerro com manifestação de sonolência “olhos fechados”, porém nem todos animais podem ter essa manifestação.

Outras observações: ausência de movimentos das pernas ou corpo, respiração lenta e frequência cardíaca reduzida. Em estudos com cordeiros, alguns chegaram a chutar e vocalizar, ou até mesmo urinar e defecar durante a compressão, porém nos estudos com potros e bezerros demonstraram comportamento deprimido durante o tratamento de compressão.

É importante a presença de um veterinário durante a realização do procedimento, pois alguns exames auxiliarão na decisão de prosseguir com o tratamento: frequência cardíaca, frequência respiratória, saturação de oxigênio (quando possível), cor da mucosa oral, temperatura retal e tônus muscular. O procedimento de compressão deve ser interrompido na presença destas alterações, assim como apresentarem sinais de dor ou desconforto.

A técnica deve ser utilizada quando todas as outras doenças frequentes na fase perinatal já foram descartadas pelo médico veterinário (angústia, hipóxia, acidemia, depressão, doenças congênitas). Depois que a compressão for realizada, deve avaliar esses animais para garantir que se recuperaram da compressão, podendo auxiliá-los para ficarem em decúbito esternal (deitado com barriga para baixo e a cabeça encostada no chão)  e após isso a ficarem de pé.  Realizar a técnica em animais saudáveis mostrou-se que não são beneficiados e nem prejudicados.

Os resultados da compressão nos animais com sintomas de SMN são semelhantes entre as espécies, com melhora significativa nos escores comportamentais e vigor, nos quais todos os recém-nascidos se levantaram imediatamente. Existem relatos de dois bezerros submetidos à técnica de compressão do tórax após 3 meses de tratamento, sem relatos de problemas posteriores.

O uso de um método não invasivo de compressão pode melhorar o bem-estar animal, acelerando a recuperação e as interações ambientais que minimizam os problemas de saúde das bezerras, sendo um componente essencial para a viabilidade de rebanhos futuros produtivos e rentáveis. Além disso, evitaria ou reduziria os custos decorrentes da hospitalização associados aos cuidados veterinários e de enfermagem que, por vezes, levam os proprietários a optar pela eutanásia.

 

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Referências

Aleman M, Weich KM, Madigan JE. Survey of veterinarians using a novel physical compression squeeze procedure in the management of neonatal maladjustment syndrome in foals. Animals 2017;7:69.

Holdsworth, S.E.; Kells, N.J.; Vallée, E.; Ward, N.; Mellor, D.J.; Beausoleil, N.J. Evaluating the Behavioural Responses of Healthy Newborn Calves to a Thoracic Squeeze. Animals 2022, 12, 840.

Stilwell G, Mellor DJ, Holdsworth SE. Potential benefit of a thoracic squeeze technique in two newborn calves delivered by caesarean section. N Z Vet J 2020; 68:65–8.

 

BRUNA APARECIDA FELICIANO

VIVIANI GOMES

Professora Clínica Médica de Ruminantes da FMVZ-USP. Coordenadora GeCria - Grupo Especializado em Medicina da Produção aplicada ao período de transição e criação de bezerras. Tel: (11) 3091-1331

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MICHAIL MOROZ

CURITIBA - PARANÁ - ESTUDANTE

EM 22/08/2023

Parabéns, queridas!
BRUNA FELICIANO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 22/08/2023

Muito obrigada Michail!!! Sempre nos acompanhando!!!
LUANA CAMARGO

OSASCO - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 21/08/2023

Parabéns pelo artigo!
BRUNA FELICIANO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 22/08/2023

Muito obrigada Luana!!!

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