Investir num compost ou manter os animais a pasto sempre gera dúvidas entre os produtores. Esse artigo fala um pouco sobre o que realmente deve-se estar atento para fazer a diferença na hora da produção.
E quando você vai numa fazenda que é a pasto ou utiliza pouquíssima silagem e a média está mais alta do que um Compost Barn? Com certeza sua cabeça vai dar um nó, mas por que isso acontece? Que fique muito claro que continuamos defendendo o máximo de conforto aos animais e a modernização das fazendas, porém a questão é: como vamos trocar o carro de alguém que dirige mal?
Pense: “O que acontece com essa turma que entra no confinamento e não atinge a tão sonhada média de 35? Ou o que acontece com fazendas que têm sistemas super simples e conseguem atingir médias de 24 litros? Após anos de experiência em diversos lugares a grande resposta é: liderança!
Siga o seguinte raciocínio: nas fazendas onde falta comida vai continuar faltando, onde há rotatividade de funcionários vai continuar havendo, enfim, onde a dieta cada dia é de um jeito, onde as vacas adoecem e demoram a ser cuidadas, nada vai mudar! Porque apenas a “casa” das vacas mudou. O barracão não vai te entregar esse incremento todo de leite. Agora, bons gestores preparam pessoas, e pessoas bem treinadas entregam isso se tiverem condição de trabalho e, aí sim, o barracão (compost barn ou freestall) entram, como condição de trabalho.
Liderança é uma palavra bonita, não é? Qual produtor nunca escutou que liderança é um grande gargalo ou se questionou sobre isso? Mas poucos sabem o que de fato é liderar ou gerir. Uns acreditam que é ter 522 indicadores na parede, outros que é instalar um sistema de câmeras full HD e ainda há quem queira pagar por cada resultado em forma de bônus aos funcionários.
Amigo, sente-se. Isso é comprar pessoas, é vigiar, é ter números. Gerenciar bem, é desenvolver pessoas. Não é pagar curso, não é pedir treinamento de uma tarde ao seu fornecedor. Desenvolver pessoas é estar com elas na lida todos os dias, entender suas funções, as limitações do sistema, quem deveria fazer cada coisa de acordo com seu perfil e que muitas vezes falta silagem adequada, falta cobertura da chuva, falta simplicidade nas tarefas e que grande parte os funcionários não fazem melhor porque simplesmente não sabem o que estão fazendo ou o porquê.
Ensinar é um exercício de paciência, diário. Exemplos práticos que podem clarear sua cabeça: “Por que é importante limpar teto de vaca?” “Por que passar o trato na mesma hora?” “O que é uma boa dieta” “Por que e quando medicar vacas?” “O que é uma bezerra sadia?”. As pessoas não sabem, nós como técnicos só soubemos quando alguém nos explicou e quando vivemos isso na prática. Não é óbvio! Acredite.
Quando se fala de liderança estamos tratando de dono e gerente e como eles atuam na fazenda. Eles estarem alinhados é o primeiro passo. O dono é quem primeiro determina qual o rumo da fazenda, calcula (ou procura ajuda para saber) qual a capacidade de crescimento, de produção de alimento e o principal: prioriza as atividades! Dá norte! Se é hora de plantar, não tem que ficar procurando picuinha nos seus milhares de indicadores, é hora de plantar! Foco total no que é crucialmente importante. No que vai diretamente por leite no tanque. É hora de produzir comida em quantidade e qualidade para as vacas passarem bem o ano inteiro.
Enfim, é o dono e o gerente (muitas vezes são a mesma pessoa) que juntos devem pensar, devem se organizar para que a fazenda não erre no crucial. Tudo decidido, alinhado? O gerente vai para a operação preparar as pessoas para que sejam independentes, treinados, pró ativos, curiosos. Estamos brigando para saber qual carro é mais potente, mas esquecemos de nos preparar enquanto motoristas! Meu amigo, se o motorista é ruim a Ferrari não vai performar. Se o motorista é bom o golzinho vai render bem por muitos anos. Entendeu? O sistema é o carro! Qual carro é melhor? Depende do motorista!
O que as fazendas que performam bem fazem? São fazendas que tem domínio do que é prioridade e não erram em coisas como comida (salvo em razão de clima que daí não temos controle), a ordenha é um reloginho, onde as pessoas ensinam umas às outras as suas funções e isso só é possível se as pessoas foram acompanhadas na operação.
“Ah, mas é o gerente que tem que fazer isso! Gerente bom no mercado é difícil demais!” Então, eu te diria que a queixa por parte dos gerentes é exatamente a mesma em relação aos donos e por quê? Porque os donos em geral não sabem seu papel e não desenvolvem o gerente para que ele desenvolva os operadores. Não adianta você exigir que seu gerente saiba treinar pessoas e saiba ser humano, se você nunca treinou, nunca foi humano com ele. O medo movimenta as pessoas por pouco tempo, assim que você vira as costas elas voltam a fazer o que acham que devem fazer. O exemplo arrasta, o exemplo inspira. É uma cascata.
Se você é dono da fazenda, mas acumula a função de gerente, aí meu amigo o ponto é você se desenvolver para poder criar um time de verdade. É hora de olhar no espelho e refletir profundamente na razão que você quer construir, se é porque de fato sua fazenda já roda bem e tem potencial para ir além ou porque você quer apenas uma mudança na estrutura para ver se a tudo muda. Se a comida falta a pasto, vai faltar no barracão. Se as vacas são contaminadas na ordenha a pasto, serão contaminadas no barracão. Todos os erros de manejo que ocorrem a pasto vão ocorrer no barracão e, por isso, é tão importante que seu foco não seja simplesmente na estrutura e sim no como as coisas devem ser feitas.
Obviamente o Compost ou Freestall melhoram alguns pontos importantes na operação como distâncias percorridas, limpeza dos animais, resposta imune das vacas, pré e pós parto. Mas, se você não se organiza para estar perto dos funcionários, infelizmente sua fazenda vai ter um incremento na produção quando sair do pasto, vai melhorar as mastites e a reprodução, mas eu tenho certeza que enquanto o motorista não estiver treinado e amadurecido, sua Ferrari não vai performar como poderia e o golzinho vai te passar.
Onde aprendemos tudo isso? A experiência nos mostrou que a técnica vai até certo ponto e que se formos aplicar todas as técnicas nas fazendas o financeiro não vai aguentar. Mas e qual técnica aplicar? Depende do que gera valor nisso tudo. Seguimos a linha e implementamos o MDA (procure o site do Agro+lean ou a coluna aqui do Milkpoint com o professor Paulo Machado) nas fazendas, isso nos deu clareza de que todos os esforços devem estar sempre voltados para o que de fato cria valor na fazenda, para o que aumenta a produção e saúde das vacas. Você talvez não consiga aplicar tudo nos detalhes, mas se entender a ideia central temos certeza de que os resultados virão. A prática nos mostrou que o sistema gerencial é a estruturação do negócio e que dá base para se investir certo no momento certo seja em comida, em conforto, em ordenha etc. E tudo parte disso, a estrutura é sempre secundária.
Quando as pessoas não entendem isso adivinha o que acontece? Falam mal do sistema. Falam mal do carro.
O recado de hoje é curto, mas profundo. Exige maturidade e reflexão para se auto avaliar e entender se você é um líder que faz pessoas crescerem sem precisar de câmeras e bonificações ou se é um dono/gerente que as pessoas têm medo, que ninguém sugere nada e mais, que vão embora da sua fazenda quando você mais precisa.
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Forte abraço!
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